Franceses ignoram bandeira e vibram com argelina rejeitada por dirigentes

Kaylia Nemour cravou seu nome na história das Olimpíadas. Hoje, a atleta que representa a Argélia conquistou a primeira medalha de ouro da África na ginástica artística. Quando o telão da Arena Bercy anunciou a nota altíssima de Nemour após sua atuação na final das barras assimétricas, os gritos da torcida tomaram conta do ambiente e as lágrimas desceram pelo rosto da ginasta.

Existem detalhes importantes que explicam tanto o choro de Kaylia Nemour quanto a forte exaltação dos franceses. A atleta nasceu na França, mas uma série de problemas com a confederação de ginástica artística do país a fizeram optar por representar a Argélia.

"É louco, eu ainda não acredito. É incrível, estou muito contente de ter conquistado essa medalha para a Argélia. São anos de trabalho, de treinos intensos. É o sonho de toda a minha vida que acabou de ser realizado. Eu só posso estar contente e não estou acreditando ainda", disse Kaylia logo após a confirmação de sua medalha de ouro.

A vitória veio após uma performance impecável na série mais difícil da competição de ginástica artística das Olimpíadas de Paris. Kaylia tirou 15.700 - a nota mais alta de sua vida - e superou a chinesa Qiu Qiyuan que também teve a mesma dificuldade, mas acabou com uma nota de execução menor.

Kaylia Nemour, da Argélia, comemora ouro nas barras assimétricas nas Olimpíadas de Paris
Kaylia Nemour, da Argélia, comemora ouro nas barras assimétricas nas Olimpíadas de Paris Imagem: Luke Hales/Getty Images

"Foi o resultado de toda a minha vida de treinamento. E, sobretudo, para mim, tem um gosto especial. Depois de tudo o que eu passei, tudo o que eu vivi, os treinamentos fortes, na verdade, foi realmente incrível", acrescentou.

De fato, Kaylia sofreu alguns percalços para alcançar o topo do mundo neste domingo, em Paris. Tudo começou em 2021, quando a federação francesa de ginástica obrigou as atletas a treinarem em centros próprios da entidade e, portanto, todas teriam que deixar seus respectivos clubes.

Acontece que abriram uma exceção para Melanie de Jesus dos Santos - principal ginasta da França - a continuar treinando nos Estados Unidos, com Simone Biles. Enquanto isso, Kaylia teria que abandonar seu clube, em Avoine.

A gota d'água veio no ano seguinte quando Kayila se recuperou de uma lesão no joelho e foi liberada pelo seu médico pessoal para retornar aos treinos, mas acabou vetada pelos profissionais da federação francesa. A atleta, então, decidiu competir pela Argélia, porque assim conseguiria seguir rumo ao seu sonho, disputar as Olimpíadas e conquistar um bom resultado.

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"Foi realmente incrível e eu estou muito feliz que isso aconteceu em Paris, porque eu tive o apoio dos argelinos e também dos franceses. Acho que se fosse em outro país, não teria essa mesma atmosfera e esse apoio que eles me trouxeram. Eu estou muito orgulhosa", falou Nemour.

A ginasta tem um carinho especial pelos torcedores que a ajudaram no último entrave que teve com a federação francesa. Como ela optou por trocar de país, só poderia representar a Argélia após um ano e perderia competições importantes que a classificariam às Olimpíadas. Para eliminar esse período, ela precisava de uma autorização da entidade que cuida da ginástica artística na França, que negou insistentemente a liberação e só cedeu depois de forte pressão da opinião pública francesa.

"No começo não foi o objetivo, não foi o plano, e a vida às vezes te reserva um percurso diferente. Acho que ela fez bem, porque ela cruzou todos os rios, todos os obstáculos há dois anos, e ficou focada no seu objetivo. Agora ela ganhou a medalha de ouro, o lugar mais alto do pódio, então é incrível", exaltou o técnico de Kaylia, Marc Chirilcenco, ao UOL.

Neste domingo, na Arena Bercy, Kaylia viu a união entre franceses e argelinos em uma única voz e, por isso, ficou tão emocionada. No país em que nasceu, ela conquistou a primeira ginasta medalha de ouro olímpica da história do continente africano.

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