Os últimos serão os felizes: pior dos 100m vibra com melhor tempo da vida
Quem vence os 100m rasos entra para a história do esporte. Jesse Owens, Carl Lewis e Usain Bolt estão na lista dos maiores atletas de todos os tempos.
Mas, e quem chega em último?
Maleselo Fukofuka, de 19 anos, foi o mais lento dentre todos os participantes da prova nobre do atletismo nas Olimpíadas de Paris. Ele representa Tonga, uma ilha da Oceania com 100 mil habitantes e conhecida mundialmente por outro atleta: Pita Taufatofua, o eterno "besuntado" das Cerimônias de Abertura.
Fukofuka correu na quinta de seis baterias da fase preliminar, que vem antes das eliminatórias — grande parte dos atletas é de países pequenos, de pouca tradição, e muitas vezes as transmissões de TV ignoram a disputa.
O tempo final, 12s11, foi disparado o pior dentre os 42 inscritos nas preliminares. Para efeito de comparação, o melhor tempo de 2024 é do jamaicano Kishane Thompson, com 9s77; o recorde mundial é de 9s58 e pertence a Usain Bolt.
Apesar da distância enorme de um tempo competitivo, duas letras deixaram FukoFuka feliz: PB, do inglês "Personal best". Em bom português: ele fez o melhor tempo da vida na prova.
Em conversa com o UOL, minutos depois, o tongolês não tirava o sorriso do rosto. Ele até agradeceu por poder dar uma entrevista. "Obrigado pela oportunidade de poder falar isso: estou muito feliz. É a melhor marca da minha vida. Eu realmente fiz o meu melhor hoje".
Fukofoka é o segundo de uma família de 10 filhos e concilia os treinos de atletismo com os estudos. Ele disputa competições amadoras e o circuito universitário de Tonga, mas não costuma correr provas de velocidade. A especialidade dele são os 1.500 metros. Desde 2023, o tongolês também participa do decatlo, um conjunto de dez provas, incluindo os 100m rasos.
A vaga nas Olimpíadas de Paris veio pelas chamadas cotas de universalidade. São convites feitos pelo Comitê Olímpico Internacional a atletas de países sem representação, para fomentar o esporte mundialmente. Quase sempre, esses convites acontecem para provas com mais atenção midiática, como os 100m rasos do atletismo ou os 100m livre na natação.
Para o jovem tongolês, competir no Stade de France, com o apoio de torcedores de vários países, foi uma experiência inesquecível.
"Quando me coloquei no bloco de partida, eu ouvi o barulho das pessoas torcendo, gritando, mas tentei focar em minha competição. Só olhei finalmente para as arquibancadas quando terminei. E foi demais", contou.
Há quem olhe para os 12s11 e veja o pior tempo dos 100m rasos em Paris. Mas, naqueles 12s11 entre a largada e a chegada, Fukofoka viveu a experiência esportiva mais marcante de sua vida.