Paris tem 100m mais rápido desde 2012 e Lyles prova que é sucessor de Bolt
Quando Noah Lyles cruzou a linha de chegada da final dos 100m nos Jogos Olímpicos de Paris, achou que havia chegado muito perto do seu objetivo. Virou para seu lado esquerdo e comentou com o jamaicano Kishane Thompson. "Eu acho que você conseguiu". Porém, fez uma ressalva: "Mas foi por muito pouco".
Separados por três raias — Thompson na quatro, Nyles na sete — eles não se viram diretamente na prova mais parelha da história dos Jogos Olímpicos. Estavam muito próximos para se verem sem perder o foco e centésimos preciosos. Só o placar diria quem ganhou.
E a resposta foi Noah Lyles, por cinco milésimos. O Photofinish, que precisou ser usado para apontar de primeiro a sétimo, mostrou o norte-americano em primeiro, com 9s784 e Thompson em segundo, com 9s789.
A diferença de somente cinco milésimos é a menor em eventos deste porte desde que passou a ser possível a medição de tempos na casa dos milésimos de segundos.
"Quando eu vi meu nome, eu pensei que eu não fiz isso contra caras lentos. Eu fiz isso contra os melhores dos melhores, em um grande estádio, com a maior pressão. E ver meu nome ali foi tipo: 'Ai meu Deus'", disse Lyles ao fim da prova.
Só duas vezes o vencedor de uma Olimpíada foi mais rápido (Usain Bolt em 2008, com 9s69, e em 2012, com 9s63) e só na Inglaterra, há 12 anos, os três medalhistas foram mais rápidos. Azar de Akani Simbine, da África do Sul. Ele seria medalhista de qualquer prova de 100m na história, até hoje. Em Paris, ficou só com o quarto lugar em uma prova onde todos terminaram na casa de 9 segundos.
Eu acho que esse é muito competitivo. Sem ofender os outros esportes, mas é muito competitivo, a gente deveria sim dividir." Thompson, em tom leve, divertindo os repórteres na zona mista.
O bronze foi para Fred Kerley, dos EUA, com 9s81. É o segundo medalhista de bronze mais rápido da história, só atrás de Justin Gatlin (9s79), em 2012.
Foi também a primeira vez que um norte-americano venceu a prova mais aguardada do atletismo desde Atenas-2004. "América, eu disse pra vocês que eu conseguiria", decalrou diante das câmeras, falando aos EUA.
Sucessor de Bolt
O título de Noah Lyles com um dos cinco melhores tempos da história olímpica acaba com uma dúvida que seguiu a prova mais rápida do atletismo por sete anos: após a aposentadoria de Usain Bolt, quem seria o novo rei da velocidade?
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Quero receberEntre 2017 (Bolt se aposentou no Mundial de Londres, sem vencer a prova) e 2023, foram quatro campeonatos mundiais e os 100m rasos tiveram quatro vencedores diferentes. Todos norte-americanos. Justin Gatlin ganhou em 2017, Chrsitian Coleman em 2018, Fred Kerley em 2022 e Lyles em 2023. No meio disso, o italiano Macell Jacobs venceu as Olimpíadas de Tóquio.
Nenhum deles conquistou o público como Lyles. Irreverente, ele já provocou jogadores da NBA sobre o quanto eles se consideravam atletas e avisou, em 2022, que estava descendo para os 100m para que a prova tivesse um novo rei. Naquele ano, ele acabara de conquistar o bicampeonato mundial dos 200m.
Ele é, também, um dos protagonistas do documentário da Netflix sobre a distância, chamado Sprint. "A série deveria ser mais acessível. Acho que as pessoas deveriam pensar em formas alternativas de assistir". Prova de carisma do novo homem mais rápido do mundo.
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