'Saio grandona'. Rebeca liga o sincerômetro em entrevista após ouro
Sempre espontânea, ainda que devidamente treinada para dar entrevistas, Rebeca Andrade apareceu sem filtros para falar com a imprensa depois da conquista da medalha de ouro no solo nos Jogos Olímpicos de Paris, nesta segunda.
"Como você acha que você sai dessa Olimpíada?", perguntou uma repórter brasileira. "Grandona", respondeu a ginasta, sem falsa modéstia. E nem havia como depois de ser reverenciada pela maior de todos os tempos no pódio olímpico, após ganhar dela.
Como de costume sempre que um brasileiro ganha medalha, Rebeca demorou quase uma hora para chegar à sala de entrevistas coletivas, depois de passar por um corredor de jornalistas de veículos de TV e rádio. do mundo todo. Quando chegou, Simone Biles e Sunisa Lee já haviam saído.
Teve espaço e tempo para falar bastante. Eis o melhor:
Sobre a competição com Simone Biles - "Eu acho que não é só sobre vencer a Simone, é sobre vencer a mim mesma, sabe? A minha vida está aqui na minha cabeça, não está nas outras pessoas. Para a eu conseguir vencer as melhores atletas, eu preciso controlar a minha cabeça, eu preciso controlar o meu corpo. E essa é a briga, sabe? Porque eu e a Simone, a gente se incentiva, a gente quer fazer o melhor, a gente quer dar o nosso máximo, e tudo e tal. Então a minha briga é sempre comigo mesma"
Sobre passar a ser a maior medalhista brasileira - "Eu entendo a responsabilidade, a responsabilidade que é incentivar e ser a atleta que sou, sabe? Querer sonhos e fazer acreditar e tudo mais, eu entendo tudo isso. Mas o meu foco mesmo é ser eu mesma. Eu acho que a minha melhor forma de representar tudo isso que hoje eu representei, tudo isso que eu tenho, é ser eu mesma."
Importância da equipe que trabalha com ela e da determinação, mesmo nos dias ruins - "Acredito que, quando você tem uma equipe que luta pelo mesmo sonho que você, pelas mesmas coisas que você, as coisas acontecem. Eu tenho uma equipe muito excelente. Tenho um treinador, tenho uma psicóloga. E, o foco, também, né? A vontade de querer fazer acontecer, mesmo nos dias ruins, nos dias que excelentes, com medo, sem medo. Ai, eu vou sair para fazer, sabe? Às vezes, eu morro de medo, mas faz parte do treinamento. Mas, tem dias que são mais leves. Eu senti que todos os dias aqui foram muito leves, sabe?
Lesão antes da Olimpíada, só revelada agora - "Antes de vir para cá, eu passei por algumas situações. Eu machuquei o ombro, eu tive dores, essas coisas, sabe? Então, acaba deixando a gente bem assim: ''Ai, será que vai dar certo?' Não sei, a gente está com dúvidas, sabe? Mas, os dias foram melhorando. Então, a minha confiança foi aumentando de novo. Foi voltando de novo. E, eu acho que é isso. Mostrar que é possível."
Primeiro pódio 100% negro na história da ginástica olímpica - "A gente já tinha feito isso no Mundial, e poder repetir isso agora em uma Olimpíada é mostrar a potência dos negros. Mostrar que, independente das dificuldades, que a gente pode fazer acontecer. Que é: ou as pessoas aplaudem ou as engolem, sabe? E a gente segue mostrando que é possível. E, por exemplo, eu estou muito orgulhosa. Eu me amo, eu amo a cor da minha pele. É poder incentivar e continuar mostrando que talvez seja um pouco mais difícil pra você, mas é o seu sonho. Ninguém tem o direito de falar não pra você. A gente conseguiu provar isso."
Ouro no solo, mesma prova do primeiro título mundial e da medalha que não veio com Daiane dos Santos - "A Dai foi uma grande referência pra mim, porque era com quem eu me identificava, ela sempre me tratou super bem, desde pequenininha. E é muito bom quando a gente tem referência e quando a gente tem um espelho. As meninas brigaram bastante para que hoje a gente estivesse ainda mais forte. E é uma honra poder estar em um esporte, onde há pessoas que escutam, que te respeitam, que te cuidam bem e fazem o melhor pra você também, sabe? Não sei se eu tinha a minha relação com isso, mas brigaram pra que a gente tivesse um poder melhor. Então, isso é muito bom."
Frustração pelo quarto lugar na trave? - "Sabe, foi bem tranquilo. Isso não era pra acontecer, está tudo certo, eu sou a quarta mulher do mundo, eu aceito. Não foi a minha melhor série, mas também não foi uma série ruim. E isso já é algo excelente. Claro que eu queria ter feito todas as minhas ligações, eu queria ter feito tudo que eu me preparei. Mas são coisas que acontecem, sabe? O quadril sai da posição, balança um braço, você não consegue puxar, e tá tudo certo, tá tudo bem."
Foi a última apresentação no solo? - "Eu espero que seja o meu último solo. Eu tô muito feliz, eu melhorei cada ano que foi passando, sabe? Se o meu corpo melhorar, se eu me sentir bem, se eu me sentir bem, que sabe. O futuro a Deus pertente, sabe? Se eu estiver me sentindo bem, eu vou falar. Mas, com a minha cabeça de hoje, nesse momento de hoje, eu espero que tenha sido o último."
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