'Ninguém foge correndo': velocista olímpico dos 100m é guarda em prisão

Tentar fugir de uma prisão não costuma ser uma grande ideia, mas na penitenciária de Angers, da França, é pior. Ali, há um funcionário que faz algo absolutamente excepcional; um feito para poucos homens no planeta.

O funcionário é Ebrahima Camara. E ele corre os 100m rasos abaixo de 10s — em junho deste ano, completou a prova em 9s98.

Camara nasceu em Gâmbia, no noroeste da África, há 27 anos. Recordista nacional, ele mudou-se para a França para ter melhores condições de treinamento. Além de atleta, aceitou um trabalho na prisão local.

"É um trabalho nobre, eu gosto muito. Tenho que pensar que não serei atleta para sempre, então é bom ter uma outra profissão", disse ao UOL.

Camara não é um estreante em Olimpíadas. Há três anos, ele esteve em Tóquio. Mas, desta vez, afirma que a experiência foi ainda mais especial.

"É minha segunda participação nas Olimpíadas, mas isso aqui é outra coisa. Em Tóquio não tinha torcida, e hoje fomos aplaudidos por um estádio lotado", comemorou.

Camara durante treino para os Jogos Olímpicos de Paris
Camara durante treino para os Jogos Olímpicos de Paris Imagem: Comitê Olímpico de Gâmbia

Mas voltemos à segunda profissão do velocista. A reportagem pediu que Camara explicasse um pouco mais o que faz no dia a dia. "Eu gosto de conversar com os detentos. Meu trabalho também é um pouco disso. Eles fizeram coisas erradas, mas é importante falar com eles, ajudá-los, para que eles tenham uma segunda chance".

Em Paris, Camara não terá uma segunda chance. Ele correu a fase preliminar dos 100m e venceu sua bateria com facilidade, em 10s29. Mas, na fase eliminatória, a coisa complicou: ele ficou em quarto, com 10s21, e apenas os três primeiros se classificavam; a vaga por índice técnico na semifinal escapou por 0s05.

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O trabalho "paralelo" do velocista, segundo ele, tem suas vantagens. "Quando eu tenho treinos ou competições, o pessoal me libera. Eles são muito flexíveis, posso conciliar bem as coisas".

Mas, diante de um velocista que trabalha em uma prisão, foi impossível não fazer a pergunta: afinal, alguém já fugiu da penitenciária?

"Correndo, não!", respondeu Camara, o guarda mais rápido do mundo, entre uma gargalhada e outra.

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