Final olímpica pode decretar a morte de prova ignorada até no Mundial

Os espanhois Alvaro Martin e Maria Perez podem entrar para a história como os únicos campeões de uma prova olímpica. Disputado pela primeira vez em Paris-2024, nesta quarta (7), o revezamento misto da marcha atlética tem sua continuidade incerta.

"A gente não sabe qual é o futuro dessa prova. Por exemplo, ano que vem tem Campeonato Mundial e não tem essa prova, é o 35km individual, de novo. Essa prova é uma proposta do COI para os Jogos Olímpicos, mas parece que a World Athletics não comprou para botar no Mundial", diz Caio Bonfim.

A ideia do COI surgiu em um movimento para aumentar o número de provas mistas nos Jogos Olímpicos sem ampliar o de participantes. Foi nesse contexto que surgiram a prova por equipes no judô e no triatlo e o revezamento 4x400m misto no atletismo, por exemplo.

A diferença é que a World Athletics nunca incorporou o revezamento misto da marcha no programa dos seus Mundiais. E foram dois no ciclo olímpico: o de 2022, em Eugene (EUA), e de 2023, em Budapeste (Hungria). A prova só entrou no Mundial de Marcha Atlética deste ano porque era necessário um evento para definir os países qualificados.

Além disso, ela foi realizada em eventos também debaixo do guarda-chuva do COI, como os Jogos Pan-Americanos de 2023. Caio e Viviane a disputaram apenas duas vezes na vida antes da Olimpíada, mas gostaram da ideia.

"A gente gostou porque ficou dinâmico, é uma prova diferente", diz Caio. Na briga por posições intermediárias, houve troca de posições porque alguns países são fortes só no masculino, ou só no feminino. O Peru, por exemplo, ganhava posições com sua marchadora, e perdia com seu marchador.

Mas, na liderança, que é o que costuma interessar ao telespectador, a prova foi monótona. A Espanha, que terminou em primeiro, e o Equador, em segundo, já haviam disparado na metade da prova. Só houve disputa pelo bronze, que ficou com a Austrália, mas também sem grandes emoções.

A dúvida é como substituí-la. Até a Rio-2016, o programa olímpico tinha uma prova só disputada por homens, a marcha 50km, o que passou a ser bastante criticado quando a discussão sobre equidade ganhou força. A prova feminina foi incluída no Mundial de Londres-2017, mas só sete atletas se inscreveram.

A campeã, a portuguesa Inês Henriques, chegou apelar à Corte Arbitral do Esporte (CAS) para que a versão feminina fosse incluída em Tóquio-2020, mas o tribunal disse não ter jurisdição para isso. No fim, a Olimpíada teve só a prova masculina, que saiu do programa para dar lugar a esse revezamento misto.

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Para os dois últimos Mundiais, essa prova de resistência, de 50km, foi substuída por uma de 35km, tanto no masculino quanto no feminino. Viviane Lyra surgiu como especilista na mais longa e foi migrando para as mais curtas. No ano passado, foi quarta no Mundial nos 35km.

"O que tiver a gente está fazendo. Eu venho melhorando a cada prova que eu vou fazendo, a cada ano a gente tem evoluído bastante o nosso trabalho. Eu vinha de provas de 50. Mudou para 35, 20. Agora são duas de 10, o que vier a gente vai se preparando", diz ela.

Caio ouve a resposta e dá pitaco: "Ela está sendo modesta. Ela foi quarta do mundo nos 35km. Nos 35km, é uma grande chance para ela ganhar medalha."

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