Ataques de hackers e apagão: desafios dos Jogos de que ninguém fica sabendo

Uma sala de operações que mais parece cenário daqueles filmes de exploração espacial, com telas informando sobre problemas nos sistemas dos locais de competição e no fluxo de informações que chegam para narradores e comentaristas e para os torcedores por meio do aplicativo oficial. Em um canto mais escondido, está o departamento de cibersegurança da empresa de tecnologia francesa Atos, que cuida dos sistemas dos Jogos Olímpicos.

Eles não têm tido vida fácil. Embora todos os sistemas sigam funcionando sem maiores contratempos, Benoit Delpierre, diretor adjunto de tecnologia, admite que os sistemas dos Jogos têm sido bombardeados por ataques DDoS, um método de derrubar sites com o envio de diversas solicitações que excedem a capacidade da rede.

"Nós conseguimos neutralizar isso em uma questão de minutos", diz o francês, visivelmente esgotado após uma sessão de trabalho noturna. "Muitas dessas ameaças nós identificamos na dark web, mas também usamos ferramentas para vasculhar as mídias sociais para comentários do tipo 'nós quebramos os Jogos' ou algo do tipo. São coisas que fazem com que comecemos a investigar."

Mas de onde viriam esses ataques? Delpierre explica que, em cibersegurança, uma semana de Jogos é pouco tempo para determinar com exatidão quem está tentando derrubar os sistemas da competição, mas salientou que eles estudam inclusive as tensões geopolíticas e suas mudanças para entender de onde podem vir as ameaças e como fechá-las.

Mas o grande susto até aqui aconteceu antes dos Jogos começarem. Eles usam sistemas da norte-americana Crowdstrike, que sofreu um apagão cibernético após uma atualização. Isso aconteceu dia 19 de julho, exatamente uma semana antes da abertura dos Jogos.

"Era um momento em que a grande preocupação era com o credenciamento. Se acontecesse agora, seria bem crítico para a informação dos sobre os eventos", explica Christophe Thivet, chefe de integração dos Jogos.

No Rio, um jacaré. Em Paris, coelhos

Thivet diz que "o grande desafio dos Jogos do pontos de vista do parceiro de tecnologia é a quantidade de eventos que acontecem ao mesmo tempo", mas às vezes aparecem algumas surpresas que nem mesmo os quatro anos de preparação entre uma Olimpíada e outra são capazes de prever.

No Rio, os instaladores de cabos tiveram uma visita inesperada: um jacaré apareceu no meio dos cabos em um dos locais de competição. Nestes Jogos, foram coelhos que quiseram "participar" da operação.

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Voltando à sala de operações, eles estão controlando mais de 150 aplicativos que cuidam de todos os detalhes dos jogos, da lista de inscritos para cada evento até os telões das arenas. E são as falhas desses sistemas que vão aparecendo nas telas, incluindo até mesmo se houver um alto-falante quebrado em uma quadra, por exemplo.

Informação com só 2s35 de atraso

Eles garantem, também, o fluxo de informações em uma velocidade impressionante. Depois que o resultado chega para a Atos vindo da empresa que cuida destas marcações, a Omega, eles precisam de 0s35 para que isso seja enviado para o sistema dos narradores e comentaristas, e em 2s35 a informação chega para a TV e para os aplicativos.

"Os Jogos Olímpicos e Paralímpicos de Paris 2024 têm duas características únicas. Primeiro, são 'abertos', o que significa que os locais de competição são construídos no coração da cidade, em praças ou parques públicos. É uma experiência extraordinária para os fãs e é um grande desafio para a tecnologia, pois temos que implementar TI em lugares que não são usados", explicou Nacho Moros, COO de Grandes Eventos da Atos.

"Em termos de dados esportivos, a quantidade de dados gerados em tempo real de cada esporte cresceu exponencialmente e a maneira como esses dados são consumidos em dispositivos digitais requer soluções capazes de distribuí-los em menos de 2,35 segundos para qualquer tipo de dispositivo e formato em todo o mundo. Outro desafio emocionante são as competições de surfe, que estão acontecendo no Taiti, a mais de 15.000 km de distância, do outro lado da Terra. Isso significa que nossas equipes trabalharão 24h por dia durante a competição de surfe, em vez de dedicar a noite para atividades de manutenção. Também posso confirmar que não haverá atraso na distribuição dos resultados ao redor do mundo, como se a competição estivesse acontecendo no mesmo fuso horário."

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