Brasil falha pelo ouro e 2ª melhor Olimpíada da história é apenas mediana
Os Jogos Olímpicos de Paris terminam amanhã (11) e o Brasil deixa a França com duas certezas conflitantes:
- De um lado, fez a segunda melhor campanha em sua história olímpica.
- De outro, volta para casa igualado a suas piores performances do século.
A chave para a análise é a régua usada para medir o sucesso.
Se você usa o número de medalhas de ouro, as três conquistadas em 2024 (Bia Souza no judô, Rebeca Andrade na ginástica e Duda/Ana Patrícia no vôlei de praia) igualam o desempenho de 2004 e 2008 —antes, só em 2000, ainda no século passado, o Brasil tinha voltado sem um título olímpico.
Agora, se você olha para o total de medalhas, os números são muito semelhantes aos da Olimpíada passada, em Tóquio. No Japão, foram 21 medalhas, com sete de ouro. Agora, 20 pódios: 3 ouros, 7 pratas e 10 bronzes. Mais do que isso, os brasileiros aumentaram o número de classificações entre os oito melhores em suas modalidades nos Jogos Olímpicos. De 51 em 2021, para 58 em 2024.
É essa contradição que torna a análise da performance brasileira complicada. E ela, também, que permite dizer que o desempenho do Brasil em Paris foi mediano, principalmente lembrando do patamar atingido depois dos investimentos provocados pela Rio-2016.
Cabia mais?
É verdade que poderiam ter sido quatro de ouro se a natureza não tivesse jogado contra Gabriel Medina. Mas também é preciso considerar que esta é uma edição olímpica menos competitiva, sem a participação da Rússia. Isso encurtou o caminho até o pódio para todos os outros países, inclundo o Brasil.
Não há como saber como seria com a Rússia em Paris, mas a ausência deles foi sentida especialmente em modalidades onde seus atletas estão entre os melhores do mundo. A ginástica artística feminina, carro chefe do Brasil em Paris, é uma delas. Os vôleis, em que o Brasil ficou apenas com um bronze no feminino, é outro.
Outros números para pensar
Países sul-americanos e Portugal, especialmente, computam os "diplomas olimpicos", como chamam a conquista de um resultado dentro dos oito melhores de uma prova. No Brasil, ainda que Miguel Hidalgo, do triatlo, entenda que quarto lugar ou último dá na mesma, o comportamento do torcedor durante os Jogos teve outro tom.
Ana Satila virou meme pela onipresença na transmissão de TV, mas só fez sucesso porque esteve sempre disputando uma medalha. Nas três provas em que competiu, ficou entre os oito primeiros. Gustavo Bala Loka, do BMX Freestyle, foi outro que brilhou, mesmo sem ir ao pódio. O público brasileiro também passou a reconhecer que Hugo Calderano, do tênis de mesa, e Marcus Vinícius d'Almeida, do tiro com arco (que não ficou entre os oito primeiros), estão entre os melhores do mundo e, em quatro anos, seguirão favoritos. Tudo isso pode significar mais investimento para o quase virar medalha em Los Angeles.
O alerta: número de esportes no pódio
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Quero receberPor enquanto, o lado mais preocupante é que o Brasil tenha regredido em um número sempre apresentado como importante pelo COB: o número de modalidades que chegaram ao pódio. A estatística é sempre usada para demonstrar que a distribuição de recursos por parte do comitê foi bem executada. Foram 13 modalidades no pódio em Tóquio, 11 agora, menos do que as 12 do Rio.
Comparando com Londres, última Olimpíada antes de o Brasil receber a Rio-2016, o raio-x é parecido. Nas duas edições, ganhou medalha no vôlei, vôlei de praia, futebol, judô, ginástica, boxe e taekwondo. Em 2012, ganhou também na vela, natação e pentatlo moderno. Agora, também na canoagem e no atletismo. O que mudou de lá para cá foi a inclusão de dois esportes em que o Brasil é forte: skate e surfe.
Em Paris, o Brasil encerrou uma sequência de Olimpíadas sempre colocando novos esportes no pódio. Em 2008 foi o taekwondo, em 2012 a ginástica e o pentatlo, em 2016 a canoagem (e a volta do tiro esportivo), em 2021 o skate, o surfe e o tênis. Desta vez, as novidades foram só bons resultados, fora do pódio, como os quartos lugares na canoagem slalom (com Ana Sátila), no tênis de mesa (com Calderano) e no wrestling (com Giulia Penalber).
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