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O que faz medalhista olímpico pela Itália se doar pelo Botafogo no Estadual

Gabriel Soares, remador do Botafogo, celebra título no Nilton Santos Imagem: Arquivo pessoal

Colaboração para o UOL, em Paris

10/08/2024 05h30

Prata nos Jogos Olímpicos de Paris, Gabriel Soares por enquanto curte merecidas férias na Itália, que recebeu com festa seu novo medalhista olímpico. O remador não vê a hora de voltar às competições em um torneio quase tão importante quanto um Mundial: o Estadual de remo do na Lagoa Rodrigo de Freitas.

E não é força de expressão. No remo brasileiro, nada é mais importante do que o Estadual do Rio, uma das razões para a criação de três dos maiores clubes do país: Flamengo, Botafogo e Vasco da Gama, todos "de regatas". O torneio é disputado por pontos e cada pódio importa, pode definir a equipe campeã.

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Gabriel não se poupa. "O limite é meu cansaço. Teve temporada que eu fiz até seis, sete provas em um dia, durante três dias. Voltava para casa com 12 medalhas de ouro, por ter ganho 12 provas. Claro que eu canso e nas últimas provas só consigo ajudar com um bronze, ou uma prata, mas elas também valem pontos", explica.

O italiano não compete pelo Botafogo há dois anos, por opção de seus técnicos na Itália. Como todo mundo sempre soube no Brasil, o desgaste causado pelo Estadual e pelo Brasileiro impacta a temporada internacional, e Gabriel tinha outro foco. Agora que é medalhista olímpico, vai abrir a próxima temporada matando a saudade de defender o alvinegro.

"Acabando as férias, vou competir, ajudar nos campeonatos, no Estadual, onde eu puder. O clube sempre me acolheu muito bem, sempre foi uma honra competir com eles, por causa do clima, da mentalidade, do modo de tentar ajudar as crianças e tentar dar algo que não é simplesmente o remo. Muitos atletas, depois de remar por muitos anos, conseguem se formar com as bolsas. Quando vou para o Rio, consigo transmitir algo pras crianças, levar uma ideia um pouco diferente, incentivar eles a estudar, remar, se dedicar a esse estilo de vida que pode mudar a vida deles. São férias, podeia passar em casa, viajando, mas me dedico ao clube e faço com coração."

Prata pela Itália, mas poderia ser pelo Brasil

Gabriel nasceu e cresceu em Foz do Iguaçu, filho de mãe a pai brasileiros. Quando o casal se separou, a mãe resolveu tentar a vida na Itália e levou com ela o filho de de nove anos.

"Antes de vir para a Itália, tinha feito outros esportes no Brasil, como taekwondo, judô, natação. Eu acabei descobrindo o remo aqui porque a gente vivia em Bellagio, uma cidadezinha linda, na beira do lago de Como, mas longe de tudo. Tinha o futebol ou remo como opções, mas no remo o clube tinha a história de ter campeões do mundo, atletas olímpicos, pessoas que eu via na rua. Era algo perto de mim, uma referência, e isso me incentivou a começar a remar", conta Gabriel.

O brasileiro começou a treinar aos 14 anos e, de início, não mostrou nenhuma aptidão para a coisa. Ainda que fosse bom de esportes, tinha medo de remar. Até que um dia o lago estava agitado, cheio de onda, e ele resolveu se arriscar assim mesmo. Conseguiu se virar e saiu da água com a sensação de que finalmente havia pegado o jeito para a coisa.

"Meu treinador via que eu tinha jeito para esporte, só não conseguia remar. Mas eu era cabeçudo, e continuei insistindo. E ele teve muita paciência, insistiu, até eu entrar na seleção juvenil", relembra.

Também serviu de estímulo o Mundial Júnior de 2015, que seria realizado no Rio de Janeiro, como evento-teste da Olimpíada. Queria poder competir em "casa. "O objetivo era competir no Brasil, então foi uma motivação a mais para tentar entrar na seleção. Ali competi contra o barco brasileiro, que era um four, em que os quatro eram do Botafogo. Acabou a prova, o Paulinho [técnico do Botafogo] veio conversar, o Lucas [Verthein] também, e ele fez essa proposta de vir competir pelo Botafogo."

Em 2017, quando ainda não era profissional na Itália, mas já competia pelo Botafogo, chegou a discutir a possibilidade de competir pelo Brasil, como era seu desejo inicial. Mas não sentiu segurança para fazer a mudança.

"Eu estava muito indeciso, ainda não era profissional. A gente tentou ver de trocar, para competir pela seleção brasileira, mas nunca tive segurança, aquilo que a Itália conseguia me dar. Sempre vi como muitas palavras e poucas ações. Foi o que me freou e me levou a continuar pela Itália", revela.

Depois, a troca se tornou impossível. Gabriel topou o convite para entrar em um novo clube, ligado à Marinha, e desde então é um militar da Itália, país onde o apoio ao atleta das Forças Armadas ao atleta não se restringe a poucos anos de sua carreira de lto rendimento. "Andei contruindo aqui as bases do meu futuro, até fora do remo. No passado, a Marinha viu meu potencial. O Brasil ficou meio assim, talvez sim talvez não."

Azar do Brasil, que perdeu um multimedalhista. Além da prata olímpica no double skiff peso leve, Gabriel tem um título mundial no single peso leve e outras duas medalhas mundiais, em dupla e no quarteto. Em Europeus, são dois ouro e quatro pratas. Além de incontáveis medalhas no Mundial do Rio de Janeiro pelo Botafogo.

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