Calderano diz que não vai assistir à semi novamente: 'Não vale a pena'
Imagine competir no maior esporte nacional do país mais populoso do mundo e, ainda assim, chegar nos Jogos Olímpicos com chance real de conquistar uma medalha. Foi o que Hugo Calderano viveu nas últimas semanas em Paris. Por mais que a derrota em uma semifinal cheia de emoções, como ele mesmo reconhece, ainda doa, fica com o atleta de 28 anos a convicção de que seu caminho é de constante evolução.
Quarto colocado no torneio individual e eliminado com o Brasil nas quartas-de-final por equipes, Calderano voltou ao terceiro lugar no ranking mundial de tênis de mesa após os Jogos, e usa tudo o que viveu em Paris para colocar o esporte em um patamar mais alto no Brasil.
UOL: Como está sua cabeça depois de tudo que passou em Paris?
Hugo Calderano: É claro que eu tinha esse objetivo de conseguir uma medalha e treinei muito para isso. Sempre soube que nada é garantido, cheguei aqui como quarto cabeça de chave, terminei na quarta posição, o primeiro cabeça de chave, o número um do mundo, acabou perdendo na segunda rodada, então isso também mostra que poderia ter sido muito pior, foi uma boa campanha chegar na semifinal, cheguei muito perto de conseguir uma medalha, talvez por isso até que doa ainda mais em mim.
UOL: É possível superar as frustrações e olhar para frente?
HC: Acho que consigo deixar as coisas para trás, o que já aconteceu. É claro que isso vai ficar na minha cabeça por um tempinho, mas ao mesmo tempo sei que não posso fazer mais nada para mudar isso, então nesse momento estou bem tranquilo também sabendo que coloquei o tênis de mesa num patamar bem mais alto no Brasil e o tênis de mesa brasileiro no mundo. Acho que, com essa minha campanha de semifinal, eu ajudei bastante a popularizar mais o esporte no nosso país.
UOL: Você consegue enxergar as coisas que deram errado naquele jogo, especificamente para trabalhar nisso, ou você só pensa para frente?
HC: Não, é claro que eu penso o porquê de eu ter perdido alguma partida, mas eu acho que um jogo como esse, com tantas emoções envolvidas, não vale a pena na verdade, porque eu nunca vou viver um momento igual a esse, se eu estiver na mesma situação numa semifinal em Los Angeles, vai ser uma coisa totalmente diferente, então eu não acho que tenha muita coisa a tirar desse jogo, a não ser a própria experiência do jogo, eu acho que não tem uma coisa tática, alguma coisa que eu precise evoluir por causa desse jogo. É mais usar essa experiência do que aconteceu e tentar fazer melhor da próxima vez. Eu acho que automaticamente o meu corpo e a minha mente conseguem assimilar tudo o que aconteceu, em toda a competição, teve muitos pontos positivos e alguns negativos também.
UOL: Você falou que vai começar de novo, então quais os passos que você vai tentar dar diferente agora?
HC: Eu sinceramente acho que fiz dessa vez tudo o que pude para conseguir uma medalha. Poderia ter conseguido, cheguei muito perto, não foi uma coisa que eu fiz errado ou que poderia ter feito melhor durante o ciclo, então, vou usar todas essas experiências para que da próxima vez seja melhor, mas eu acho que eu preciso simplesmente continuar no meu caminho, como eu sempre fiz.
UOL: Você percebe esse movimento da sua trajetória no esporte?
HC: Sempre que olho para trás eu vejo o ponto em que eu evoluí, então nunca parei de melhorar. Acho que isso é muito importante no esporte, nunca tive a sensação de: 'agora não consigo mais melhorar, está difícil, os outros atletas estão me passando'. Sempre eu continuo subindo, cada vez um degrau, bem constantemente.
UOL: Como tem sido essa evolução?
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Resumo dos resultados dos atletas brasileiros de olho em Los Angeles 2028 e os bastidores do esporte. Toda segunda.
Quero receberHC: Ainda não consegui uma medalha em uma competição desse porte, mas também consegui resultados muito expressivos na minha carreira, e acho que o meu nível também continua subindo, então é claro que eu vou fazer algumas mudanças. Você precisa mudar algumas coisas depois de um ciclo olímpico, mas ao mesmo tempo também vou continuar confiando no meu trabalho, confiando no meu jeito de abordar, de viver as coisas e de viver, em geral.
UOL: Você pode falar alguma coisa sobre essas mudanças?
HC: Não, acho que não, pelo menos agora também não pensei muito sobre isso, mas não vou fazer mudanças extremas. Como eu falei, talvez alguma coisa ou outra, mas não pensei em nada.
UOL: Como é receber o carinho do torcedor neste momento?
HC: É muito gratificante ver todo esse apoio, toda essa paixão das pessoas, pelo esporte em geral, pelo esporte brasileiro e pelo tênis de mesa brasileiro também. Eu trabalho muito, a minha vida inteira, claro, para conseguir resultados, mas ao mesmo tempo também para colocar o nosso tênis de mesa no topo. Acho que isso vem também através de ídolos no esporte, o nosso país precisa de ídolos, e acho que com não só essa, mas as minhas últimas duas campanhas olímpicas, os resultados nos Jogos Pan-Americanos também, me ajudaram bastante nesse meu objetivo. É muito gratificante ver que tanta gente se inspira em mim, e principalmente as crianças que querem começar a praticar o tênis de mesa. Isso não tem preço.
UOL: Isso acaba sendo um combustível para seguir em frente?
HC: Com certeza isso dá bastante energia, principalmente depois de uma, difícil dizer, derrota, porque foi uma boa campanha, mas de uma decepção, digamos assim, nessa competição tão importante para mim, mas com certeza dá bastante energia, eu gosto sim.
UOL: Quais são seus próximos passos?
HC: Eu acho que ainda tem muita coisa pela frente, então é claro que os olhos da torcida, do público, estão sempre nas Olimpíadas, mas até lá a gente ainda vai ter Campeonatos Mundiais, muitos torneios internacionais, para mim pelo menos é muito trabalho diário, muito sacrifício, muitas dificuldades, Jogos Pan-Americanos também em 2027, claro que tudo visando aos Jogos de 2028, e vamos ver como as coisas vão se passar até lá.
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