França gasta R$ 7 bilhões para despoluir Sena, mas rio vira mico dos Jogos
Desde que Paris foi definida como a cidade sede dos Jogos Olímpicos de 2024, a organização batalhou para realizar as competições nos cartões-postais da cidade mais visitada do mundo. O rio Sena, que recebeu a abertura e as provas de triatlo e maratona aquática, era o maior símbolo disso. Pouco mais de 1 bilhão de dólares foi gasto para a despoluição das águas.
Era para ser tudo perfeito. Não foi.
Com as Olimpíadas se aproximando, as desconfianças quanto à eficácia do projeto de despoluição de 1,4 bilhão de dólares ( R$7,63 bilhões) foram tomando proporções gigantes. Afinal, era proibido nadar no Sena desde 1923 por causa da navegação fluvial e altos níveis de contaminação.
Para acabar com os receios, a prefeita de Paris, Anne Hidalgo, o presidente do comitê organizador dos Jogos Olímpicos, Tony Estanguet, e o prefeito da região de Île-de-France, Marc Guillaume, mergulharam no rio Sena no dia 17 de julho, a nove dias do início das Olimpíadas, num ato simbólico. Eles garantiram que as águas estavam limpas e sem cheiro.
Abertura no rio: atletas se esconderam e fugiram
Eis que chegou o dia da abertura das Olimpíadas de Paris em 26 de julho e uma chuva incessante tomou a capital da França. O desfile dos atletas em barcos chegou a virar piada nas redes sociais com os atletas escondidos em partes cobertas das embarcações e várias delegações preferindo deixar a cerimônia antes do encerramento para preservar os competidores do cansaço extremo que a solenidade inédita causou —foi a primeira abertura fora de um estádio.
A chuva que continuou no dia seguinte à abertura e piorou as coisas.
Bactérias elevadas após chuvas
Com água caindo, os níveis de bactérias no rio Sena aumentaram. Os treinos do triatlo foram proibidos. Não só isso: a organização foi obrigada a adiar a prova masculina em um dia e chegou a cogitar o cancelamento da natação e, então, a competição se tornaria um duatlo.
O tempo estabilizou e o triatlo masculino foi confirmado para o dia 31 de julho após comprovação de níveis de bactérias aceitáveis para a saúde dos atletas.
Três dias após a disputa do triatlo masculino, a seleção suíça informou que um de seus atletas - Adrien Briffod - estava com infecção estomacal e não competiria no revezamento misto. Apesar da mudança, o time suíço evitou culpar a qualidade das águas do rio Sena pelo problema de saúde do atleta.
Era "impossível dizer" se a infecção gastrointestinal de Briffod estaria ligada à qualidade da água do rio Sena, segundo afirmou a equipe olímpica suíça em comunicado oficial. "Nenhum outro caso de triatletas olímpicos com problemas estomacais foi encontrado entre outros países que participaram das corridas individuais", disse o médico da delegação, Hanspeter Betschart.
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Quero receberDesistência por medo das águas
Em 5 de agosto, o triatlo misto aconteceu com a desistência da equipe belga, que se retirou da prova após ver uma atleta ser internada por causa de uma bactéria. A situação foi alarmante, mas dias depois foi comprovado que a infecção não estava ligada ao rio Sena.
Após a competição, os atletas evitaram fazer críticas ao local; alguns deles preferiram destacar a beleza do percurso, que passava pela Ponte Alexandre III e pela avenida Champs-Elysées, cartões postais da cidade.
Eu acredito que todo mundo toparia nadar em uma água um pouco sujinha para poder competir aqui. O fato que competimos no centro de Paris, com a Torre Eiffel no fundo e tudo mais, faz com que eu me sinta muito orgulhoso de fazer parte desse esporte e queremos mostrar isso para o mundo. Matthew Hauser, atleta da Austrália
Nós já estivemos em lugares mais contaminados, então, estávamos preparados para isso. Sim, foi uma das competições mais bonitas, e as fotos são ótimas. A quantidade de pessoas de toda parte do mundo, foi uma competição muito bonita. Rosa María Tapia Vidal, atleta do México
Vômito e diarreia após maratona aquática
O fim da novela rio Sena chegou com a realização da maratona aquática. Primeiro, com as mulheres, que puderam fazer o treino de reconhecimento apenas no dia anterior à competição. Muitas delegações escolheram nem pular na água justamente pelo receio da contaminação. Os treinos da equipe brasileira formada por Ana Marcela Cunha, Viviane Jungblut e Guilherme Costa, por exemplo, foram todos feitos em piscina.
Logo após a prova realizada no dia 8 de agosto, Ana Marcela e Viviane evitaram críticas ao rio Sena e negaram gosto ou cheiro ruim das águas do rio Sena, mas teriam que esperar os próximos dias. Até o momento, ambas as atletas não revelaram problemas de saúde. "Foram umas goladas para dentro e nada aconteceu. Agora é rezar para ver os próximos dias", brincou Ana, que terminou a maratona em quarto.
Por outro lado, a nadadora Leonie Beck usou suas redes sociais para contar que passou mal após competir na prova dos 10km. "Vomitei nove vezes ontem + diarreia", publicou a atleta que terminou na nona colocação. "Qualidade da água no Rio Sena aprovada", ironizou, com uma foto com sinal de joinha.
Resta acompanhar, agora, se as Olimpíadas de Paris realmente deixarão um legado à população local que, teoricamente, poderia voltar a nadar no rio Sena após mais de 100 anos. A ideia da organização e do governo local era 'devolver' o local aos moradores da capital francesa que se divertiam nas águas do famoso rio durante os verões quentes.
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