Por falta de apoio, brasileira bronze no boxe em Londres leiloa medalha

O boxe feminino passou a ser uma modalidade olímpica apenas em 2012, na edição de Londres. E para representar o Brasil, Adriana Araújo entrou no ringue e conquistou a medalha de bronze. A sensação do momento foi indescritível. Passados 12 anos ela precisou abrir mão de seu item mais precioso para sobreviver: a medalha.

"A necessidade financeira me levou ao leilão. Penso em fazer isso desde 2022, mas fui empurrando, buscando outros meios de sobreviver. Até que as coisas realmente apertaram", disse em entrevista para o UOL.

Em sua época, o apoio ao esporte era muito pequeno. Ela recebia uma bolsa atleta do Governo Federal no valor de R$ 2.500, que era o suficiente apenas para sobreviver. "Minha luta no esporte começou em 1999. Eu achava que com a vitória olímpica ia melhorar, mas não foi o que aconteceu", conta.

Adriana jogava futebol na escola e conheceu o boxe aos 17 anos. Aos 20, viu no esporte uma oportunidade de melhorar de vida. "A partir dessa idade passei a me entregar ao esporte de alto rendimento. Não mudou minha vida financeira, mas me mudou como cidadã. Me tornei uma guerreira dentro e fora do ringue, para encarar as dificuldades da vida", diz.

Ela não conseguia viver do esporte. Até para viajar para algumas competições o dinheiro tinha que sair do seu bolso. "Juntava dinheiro para poder competir. Às vezes, também íamos atrás de patrocinadores. Durante 2009 e 2010, eu e outras atletas participamos de tudo - torneios mundiais, continentais e americano -, com a grana do nosso bolso", diz.

Adriana era uma atleta de alto rendimento, mas não podia treinar como uma. Ela trabalhou como agente de saúde, para exterminar mosquitos da dengue, foi funcionária de empresas em Salvador, sua cidade natal. Até motorista de Uber ela foi.

"Não existia equipe permanente de boxe até 2009. Então tínhamos que trabalhar para viver. Eu era uma atleta por ânimo, coragem e força de Deus. Mas era difícil", diz.

Leilão da medalha

Adriana se emociona ao falar da decisão de abrir mão do símbolo de sua vitória olímpica. "Essa foi uma das piores decisões da minha vida. Mas procurei ser racional. Se a gente só pensar nos sentimentos, não consegue fazer nada. Vender a medalha foi muito difícil", diz.

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Adriana conta que tentou disfarçar a sensação de perda, mas que por dentro sofria muito. "A necessidade falava mais alto. Eu precisava seguir minha vida", conta.

A ideia era pegar o dinheiro da medalha e investir em um negócio, para que ela tivesse uma fonte de sustento a longo prazo. O primeiro projeto foi um restaurante. E aí entra a Superbet Brasil. A casa de apostas arrematou a medalha por R$ 150 mil para devolvê-la à atleta.

"Quando vimos a Adriana leiloando a medalha percebemos que precisamos fazer algo para devolver à ela. Nos sensibilizamos, pois sabemos a dificuldade do atleta profissional no Brasil", diz Patrícia Prates, diretora de marketing da Superbet Brasil.

A empresa se colocou à disposição da Adriana para ajudá-la no que precisasse: consultoria, mentoria de negócios, profissionalização? Tudo para que ela pudesse manter seu legado, que agora existirá em uma academia em São Paulo.

"Quando me devolveram a medalha, tive a sensação de ganhá-la pela segunda vez. Chorei para caramba e fiquei muito feliz. Foi um sentimento de dever cumprido. De gratidão", diz Adriana, muito emocionada.

Agora ela se prepara para ficar do lado de fora do ringue, treinando aqueles que querem seguir o seu caminho. "Me dedico ao boxe há 25 anos. Estou preparada", completa.

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