'Se pudesse, enquadrava a lente de contato com a medalha', diz Willian Lima

Willian Lima, judoca brasileiro que conquistou a prata nas Olimpíadas de Paris - além de um bronze por equipes -, viveu momentos intensos dentro e fora do tatame. Em uma trajetória marcada por desafios, o atleta não apenas lutou por uma medalha, mas também enfrentou situações inusitadas, como a perda de uma lente de contato durante a semifinal em busca do tão sonhado pódio.

Neste sábado (10), Willian conversou com o UOL no Parque Time Brasil, em São Paulo, e recordou seu caminho - inclusive o de quase ficar sem enxergar - até o momento de maior glória da sua carreira.

Lente poderia virar quadro

Willian Lima durante evento no Parque Time Brasil, em São Paulo
Willian Lima durante evento no Parque Time Brasil, em São Paulo Imagem: Divulgação/Time Brasil

Um dos momentos mais inusitados da campanha de Willian em Paris foi quando ele perdeu uma de suas lentes de contato durante a luta semifinal contra o mongol Yondonperenlei Baskhuu.

Com miopia e astigmatismo de 4,5 graus, ele mal conseguia enxergar sem a lente. O árbitro, ao identificar a lente caída no tatame, ajudou Willian a recuperá-la, permitindo que ele continuasse a luta.

"É bem difícil enxergar sem lente. Eu nem consigo ver o placar, e isso afeta o tempo de reação, mesmo que por milésimos de segundo. Mas eu estava muito focado, num ritmo muito bom. Quando a lente caiu, eu sabia que precisava pegar ela rápido. Não enxergava onde estava, mas o árbitro me mostrou, ele foi meu salvador naquela luta. Pode não ser higiênico, mas no esporte, um segundo faz diferença. Só coloquei a lente de volta e continuei lutando. Se pudesse, enquadrava até a lente junto com a medalha."

Japonês não é invencível

Sobre a final contra o japonês Hifumi Abe, Willian foi direto ao ponto: se já tivesse o enfrentado em outras competições, o resultado poderia ter sido diferente.

O brasileiro afirmou que a falta de experiência contra Abe foi um fator decisivo na derrota. Contudo, ele vê a experiência como um aprendizado valioso para futuras competições.

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"Com certeza o resultado teria sido diferente. Sou um atleta estratégico, sempre luto com base nos dados dos meus adversários. Ele era a única incógnita porque nunca tinha treinado ou competido contra ele. Os erros que cometi foram por não conhecê-lo bem. Se tivesse lutado com ele antes, o desfecho poderia ter sido outro. Mesmo assim, foi bom competir com ele na final, me inspirou e mostrou que ele não é invencível. Nas próximas Olimpíadas ou competições, estarei muito mais preparado."

Promessa ao filho

A medalha de prata, que Willian prometeu ao filho antes de embarcar para Paris, tornou-se um símbolo de sua vitória pessoal e familiar. Ao final da competição, ele quebrou o protocolo ao colocar a medalha no pescoço do pequeno Dom, cumprindo a promessa feita.

"A primeira coisa que fiz ao sair do pódio foi colocar a medalha no pescoço do meu filho, Dom, que estava lá assistindo com minha esposa. Quebrei o protocolo, os organizadores queriam que a gente desse a volta olímpica antes, mas só pensava nisso. Para mim, foi a imagem mais bonita que vou guardar pelo resto da vida. Falei várias vezes que faria isso, e sabia que podia cumprir, mesmo com toda a pressão das Olimpíadas. Fui lá e fiz. Acredito que, no futuro, ele vai sentir muito orgulho disso."

Olhos em Los Angeles

Agora, o foco de Willian está em se preparar para os Jogos Olímpicos de Los Angeles em 2028. Após conquistar suas medalhas, uma prata e um bronze, o judoca está determinado a alcançar o ouro.

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"Agora, meu foco é aproveitar ao máximo tudo isso, porque sabemos que é momentâneo e, às vezes, até ilusório. Vou curtir com minha família, descansar a mente e o corpo, mas já estou pensando em Los Angeles. Fiquei com um bronze e uma prata, mas quero treinar ainda mais, me dedicar 300% para voltar com a medalha de ouro e completar o pódio em casa."

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