Carro-chefe em Tóquio, boxe do Brasil deixa Jogos de Paris com um bronze
As expectativas para o boxe brasileiro estavam altas após as boas atuações nas Olimpíadas de Tóquio (ouro com Hebert Conceição, prata com Bia Ferreira e bronze com Abner Teixeira) e nos Jogos Pan-Americanos de Santiago. Apesar disso, a seleção fechou as Olimpíadas de Paris com uma medalha de bronze de Bia, que esperava se tornar campeã olímpica em sua despedida.
O prognóstico da comissão técnica da seleção brasileira de boxe era garantir duas ou três medalhas. Afinal, a equipe foi formada neste ciclo por com cinco medalhistas em mundiais — Keno Marley, Bia Ferreira, Carol Naka, Bárbara Santos e Wanderley Hollyfield Pereira — e 10 medalhistas no Pan: Carol Naka, Tatiana Chagas, Jucielen Romeu, Bia Ferreira, Bárbara Santos, Michael Trindade, Luis Bolinha, Wanderley, Keno e Abner.
Segundo Mateus Alves, head coach da seleção permanente olímpica do Brasil, o momento agora é de análises e reconstrução do trabalho. O profissional busca explicações para uma performance tão abaixo do esperado e, num primeiro momento, acredita que os atletas sentiram a pressão da disputa dos Jogos Olímpicos.
Esse é meu quarto Jogos Olímpicos. São oito medalhas no total que eu estive presente. Então tem nuances que aconteceram nesse ciclo, que é um motivo que pode ser um dos fatores. Mas isso tem que ser estudado com calma. A tensão apresentada na equipe durante as lutas é uma análise que precisa ser feita. É algo que não vinha sendo apresentado no Pan, nem no Mundial. A gente tem que entender que esportes como o vôlei, ginástica, o próprio futebol já tem o hábito de estar na mídia, de ser cobrado, e de carregar isso.
O boxe não tem esse padrão. A gente teve uma mudança muito drástica. Muitos patrocinadores, agentes, assessores que mudam um pouco o ambiente do que foi o nosso normal. E isso, no momento que a equipe começa a ter dificuldade, vai afetando o grupo. Não justificando a derrota. Estou analisando o fato. Como técnico, não acho que isso é uma justificativa. Mas eu tenho que encontrar fatores, porque se a preparação funciona para todos os ciclos, não é agora que foi feita errada a preparação.
Mateus Alves, head coach da seleção de boxe do Brasil
O técnico ainda cita a decepção no desempenho dos atletas que já haviam vencido dos adversários que perderam em Paris, como é o caso de Keno Marley, que foi derrotado pelo uzbeque Lazizbek Mullojonov, e Luiz Gabriel 'Bolinha', que sofreu o revés do norte-americano Jahmal Harvey. Ou seja, experiência e competitividade não faltavam para a equipe brasileira.
A campanha não foi boa. Não é que eu estou reclamando de ganhar uma medalha de bronze, não é isso. O boxe veio com uma expectativa maior do que um bronze, essa é a questão. Então a gente classifica uma campanha ruim aqui e Paris. Principalmente a equipe masculina com desempenho de ringue ruim.
Quando eu falo palavras fortes, as pessoas não entendem e se chocam, não estou falando que eles são todos ruins. O desempenho não foi o que a gente apresenta em todos os eventos. E eu não posso sair satisfeito como head coach, com apenas um bronze, com uma equipe que tem medalhistas mundiais e pan-americanos.
Mateus Alves, head coach da seleção de boxe do Brasil
O treinador ainda citou a reavaliação de um trabalho no futuro. Mateus não sabe se seguirá como principal técnico da seleção para o ciclo rumo a Los Angeles-2024. É importante mencionar que o boxe corre o risco de ficar de fora das próximas Olimpíadas por divergências políticas entre o Comitê Olímpico Internacional (COI) e a Associação Internacional de Boxe (IBA).
Tenho que sentar, analisar, refletir a minha situação também com a confederação, o prosseguimento do trabalho ou não para 2028, e ver o que aconteceu para nossa campanha ser ruim. (...) Não sei se vou continuar. Tem anos, que eu viajo em competições e fico fora de casa por cerca de 180 dias. Tenho três filhas e essa questão familiar pesa.
Mateus Alves
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