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Paris-2024 cria Olimpíadas da 'nova era': econômica, engajada e política

Cena com drag queens chamou atenção na abertura das Olimpíadas Imagem: Reprodução/X

Do UOL em Paris (França)

12/08/2024 05h30

O primeiro grande assunto das Olimpíadas de Paris-2024 não foi esportivo, mas social. A abertura dos Jogos gerou uma guerra cultural entre extrema direita e igreja com os organizadores pela suposta representação de uma cena religiosa com drag queens.

Outros dois temas que geraram polêmica foram a sujeira do Rio Sena e os problemas da Vila Olímpica. Em um caso, se adiou competições. Em outro, ajustes pontuais que não resolveram todos os problemas.

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Ambos os episódios foram fruto de uma estratégia do COI e dos organizadores de Paris de seguir uma estratégia por conta das mudanças climáticas e sociais no mundo:

  • Criar jogos mais sustentáveis com menos gastos.
  • Estimular inclusão

Os primeiros jogos plenamente planejados e executados de acordo com a agenda 2020 (plano do COI). Foram os Jogos que pensamos, mais sustentáveis, mais urbanos, mais jovem, mais inclusivo. Primeiros Jogos com paridade de gênero. Essa foi a visão da agenda. E com os atletas no centro disso. Thomas Bach, presidente do COI

A agenda do COI prevê que as Olimpíadas tinham que reduzir os gastos e sua emissão de carbono. Teoricamente, a meta foi atingida com diminuição de 50% do impacto do evento no meio-ambiente.

Além disso, Paris-2024 teve um custo menor do que as últimas quatro Olimpíadas, comparando com Pequim-2008, Londres-2012, Rio-2016 e Tóquio-2020. O valor final ficou em torno de 9 bilhões de euros. Entre as instalações usadas, 95% já existiam.

Thomas Bach (presidente do COI) no restaurante da Vila, que não tinha proteína suficiente para os atletas Imagem: David Goldman/POOL/Xinhua

As reclamações em relação à Vila Olimpíca foram grandes por parte dos atletas. A decisão discutível de não ter ar-condicionado no local não foi consenso nem na comissão de atletas do COI e acabou revertida. Foi permitido a instalação de aparelhos alugados pelos comitês olímpicos nacionais. A comida com pouca proteína, e mais opções vegetarianas, teve de se adaptar depois de protestos de esportistas que precisam de carne em sua dieta.

O Rio Sena, que seria um símbolo de despoluição, foi um sinônimo de dor de cabeça para atletas do triatlo e da maratona aquática. Ao admitir problemas, o comitê organizador de Paris-2024 entende que não teria feito nada diferente.

"Fui atleta e sou perfeccionista, posso ser um pouco detalhista. Eu sei que as coisas não foram perfeitas. Tivermos problemas, coisas que precisaram ser ajustadas", disse o presidente do comitê Paris-2024, Tony Estenguet, que foi campeão olímpico no triatlo. Mas afirmou não ter arrependimentos e que faria tudo de novo igual.

Atletas mergulham no Rio Sena durante prova do triatlo feminino nas Olimpíadas Imagem: Martin Bureau - Pool/Getty Images

A trilha escolhida por Paris-2024 e o COI também envolve tomar partido em questões políticas, embora a entidade se diga neutra e proíba manifestações durante as competições. Foi obviamente uma decisão política do comitê incluir a discussão de gênero (Paris é o primeiros Jogos com paridade entre homens e mulheres) e a polêmica adaptação do quadro "Festa dos Deuses", do holandês Jan Harmenz Van Bijert, interpretada em todo o mundo uma reprodução de "A Última Ceia", de Leonardo da Vinci, na cerimônia de abertura com drag queens, que gerou críticas da Igreja.

"Não recebi uma comunicação do Vaticano. Mas você não pode ter os dois lados. Não pode emitir essa mensagem sem precedentes para o mundo e que ninguém tenha um comentário sobre isso. Nós aceitamos como um sinal de relevância dos Jogos. É uma moeda com dois lados", comentou Bach.

Como disse o dirigente, os Jogos acabaram no centro da discussão de uma guerra cultural, mostrando o seu nível de repercussão. Isso se encaixa completamente na estratégia do COI de rejuvenescer e incluir as Olimpíadas na era digital, o que os Jogos têm que ser relevantes.

Imane Khelif comemora vitória nas quartas de final do boxe feminino até 66kg. Ela terminou com o ouro Imagem: Richard Pelham/Getty Images

Também foi assim na posição firme do COI de apoiar a boxeadora argelina Imane Khelif, acusada pela federação internacional de boxe de não ter passado em um teste de gênero. O COI a defendeu por entender que o critério é passaporte, já que testes de gênero não são comprovados e comprometem os direitos humanos.

"Qual teria sido a alternativa? Impedir que mulheres participassem de competições femininas por causa de alegações de uma fonte sem credibilidade?", questionou Bach. Neste caso, o COI atuou no mundo digital com inteligência artificial para evitar ataques a boxeadora, assim como a outros atletas, por meio de bloqueios de perfis em redes sociais problemáticos.

Augusto Akio, o Japinha, na final olímpica do skate park em Paris 2024 Imagem: Luiza Moraes/COB

Mas o engajamento que o COI busca para seu movimento olímpico também é o moderno, dos streamings, dos influencers, com redes sociais de atletas. Outro ponto foi o anúncio da criação de uma futura olimpíada de Esports. Além disso, o programa olímpico tem sido renovado com esportes como Surfe, Skate e Break.

Ao mesmo tempo, nas arenas, o visual era de muitos efeitos visuais, desde imagens na piscina de La Defense a vídeos modernosos nas quadras de basquete.

"Precisa estar imerso neste mundo digital. Tem que realmente participar desse mundo digital. Tem que entender desse novo modo de pensar e se comunicar. De outro jeito, não se pode navegar o nosso navio olímpico nesse tsunami. Eu, com a minha idade, não sou o melhor capitão. Novos tempos, novos líderes", disse o presidente do COI, Thomas Bach, quando anunciou que deixa o cargo em 2024.

De todo esse pacote, Paris-2024 mostrou o que o COI pretende para o futuro dos Jogos Olímpicos em um mundo dividido e ameaçado. E não pretende recuar.

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