Atleta condenado por estupro diz que pensou em desistir das Olimpíadas
Steven Van de Velde, holandês condenado a quatro anos de prisão em 2016 por estupro, falou à imprensa pela primeira vez após disputar o torneio de vôlei de praia nas Olimpíadas.
O que aconteceu
O atleta disse que pensou em desistir dos Jogos. Steven van de Velde acabou optando por participar das Olimpíadas de Paris, mas sem ficar na Vila Olímpica. O jogador de vôlei de praia falou nesta terça (13) em entrevista coletiva e também à TV holandesa NOS.
Certamente tive um momento de tristeza, tanto antes como durante o torneio. Mas pensei: não vou dar aos outros o poder de me intimidar ou de me afastar Steven Van de Velde, à NOS
Van de Velde não esperava a proporção que o caso tomou em Paris. O holandês e seu parceiro Matthew Immers foram alvo de vaias durantes todas as partidas dos Jogos Olímpicos, até a eliminação nas oitavas de final para os brasileiros Evandro e Arthur.
Acho uma pena. Já se passaram dez anos, joguei mais de cem torneios. Eu entendo que é um problema: alguém com esse passado pode subir em tal palco. Essa é uma questão legítima
Van de Velde acredita que a repercussão de sua condenação por estupro impactou resultados esportivos. "Foi difícil e duro, principalmente para Matthew, para a família, os amigos, a Federação. Estou protegido, eles são as vítimas".
O jogador criticou a cobertura da imprensa inglesa sobre o caso. Van de Velde disse na coletiva que uma menção à sua esposa em um artigo o "quebrou".
Eu fiz algo errado há dez anos. Eu tenho que aceitar isso. Mas machucar as pessoas ao meu redor, seja Matthew, minha esposa, meu filho... Isso é demais para mim. Esse foi definitivamente um momento em que pensei: 'Isso vale a pena?'
O holandês explicou por que não se hospedou na Vila Olímpica. "Eu queria criar paz para mim e para outros atletas", afirmou à NOS.
O atleta condenado por estupro diz ter dúvidas sobre o desejo de competir novamente nas Olimpíadas. Estreante em Paris, Van de Velde afirmou que levará a opinião e o bem-estar de sua esposa e de seu filho de dois anos em consideração.
Foi uma experiência difícil, que ainda não processei totalmente. A conclusão certamente pode ser que não vale a pena. Principalmente para minha família
O caso
Van de Velde se relacionou sexualmente com uma menina de 12 anos em 2014, quando tinha 19. Eles se conheceram pela internet e o atleta viajou da Holanda ao Reino Unido para encontrá-la.
O jogador foi condenado em 2016 a quatro anos de prisão por estupro, conforme a legislação britânica. Foram três acusações de crime sexual.
Ele cumpriu parte da pena na Inglaterra e depois foi transferido a Holanda, a partir de um acordo entre os países, onde teve a sentença alterada. A lei holandesa estabelece que o ato sexual não forçado com um menor de idade é "fornicação", não estupro.
Van de Velde ficou cerca de 12 meses na prisão na Holanda. Depois de solto, ele recebeu aconselhamento profissional, de acordo com a Federação de Vôlei do país.
A violência sexual contra a mulher no Brasil
No primeiro semestre de 2020, foram registrados 141 casos de estupro por dia no Brasil. Em todo ano de 2019, o número foi de 181 registros a cada dia, de acordo com o Anuário Brasileiro de Segurança Pública. Em 58% de todos os casos, a vítima tinha até 13 anos de idade, o que também caracteriza estupro de vulnerável, um outro tipo de violência sexual.
Como denunciar violência sexual
Vítimas de violência sexual não precisam registrar boletim de ocorrência para receber atendimento médico e psicológico no sistema público de saúde, mas o exame de corpo de delito só pode ser realizado com o boletim de ocorrência em mãos. O exame pode apontar provas que auxiliem na acusação durante um processo judicial, e podem ser feitos a qualquer tempo depois do crime. Mas por se tratar de provas que podem desaparecer, caso seja feito, recomenda-se que seja o mais próximo possível da data do crime.
Em casos flagrantes de violência sexual, o 190, da Polícia Militar, é o melhor número para ligar e denunciar a agressão. Policiais militares em patrulhamento também podem ser acionados. O Ligue 180 também recebe denúncias, mas não casos em flagrante, de violência doméstica, além de orientar e encaminhar o melhor serviço de acolhimento na cidade da vítima. O serviço também pode ser acionado pelo WhatsApp (61) 99656-5008.
Legalmente, vítimas de estupro podem buscar qualquer hospital com atendimento de ginecologia e obstetrícia para tomar medicação de prevenção de infecção sexualmente transmissível, ter atendimento psicológico e fazer interrupção da gestação legalmente. Na prática, nem todos os hospitais fazem o atendimento. Para aborto, confira neste site as unidades que realmente auxiliam as vítimas de estupro.
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