'Não esperava tanto ódio, é devastador', diz australiana do breaking
A australiana Rachel Gunn, conhecida como B-girl Raygun, falou pela primeira vez sobre os ataques que vem recebendo desde sua participação no breaking das Olimpíadas de Paris.
O que aconteceu
Raygun disse que não esperava receber tanto ódio nas redes sociais: "Tem sido devastador". Ela publicou um desabafo sobre as críticas, mas também agradeceu pelo apoio que recebeu.
Agradeço a todas as pessoas que me apoiaram. Eu realmente aprecio a positividade e estou feliz que pude trazer alguma alegria para as suas vidas, isso era o que eu esperava. Mas eu não esperava que isso abriria portas também para tanto ódio, o que, francamente, tem sido devastador. Rachel Gunn
Eu fui lá [nos Jogos de Paris 2024] e eu me diverti, eu realmente levei muito a sério, eu me dediquei muito à minha preparação para as Olimpíadas e dei o meu máximo, de verdade. Estou honrada de ter feito parte da equipe olímpica da Austrália e da estreia olímpica do breaking.
A australiana também rebateu a desinformação sobre ter recebido nota zero. Não há nota no breaking, já que os jurados comparam as apresentações e votam em quem avaliam que tenha ido melhor.
Ela ainda respondeu à acusação de ter burlado o sistema de classificação. Uma petição anônima foi criada para ela fosse punida por ter supostamente aproveitado de sua influência no meio e manipulado o processo de qualificação para as Olimpíadas. O Comitê Olímpico Australiano repudiou a petição e defendeu a atleta, que se credenciou para os Jogos por ser campeã do Campeonato de Breaking da Oceania de 2023.
Um fato divertido: na verdade, não há notas no breaking. Se quiser ver como os juízes me pontuaram em comparação com minhas oponentes, você pode checar as comparações entre os cinco critérios no site das Olimpíadas. Todos os resultados estão lá. Raygun
Polêmica após disputa em Paris
Rachel 'Raygun' Gunn, de 36 anos, não conseguiu nenhum ponto nas três batalhas de que participou em Paris. O breaking, arte da dança procedente da cultura hip-hop, estreou como modalidade olímpica na edição deste ano dos Jogos.
Ela foi motivo de piadas nas redes sociais e também recebeu uma onda de ataques. Diversos memes foram criados, mas ela passou a receber ofensas e foi hostilizada virtualmente.
As críticas a Raygun foram além da esfera esportiva. A atleta também foi acusada de tentar "zerar pontos propositalmente" como parte de um estudo acadêmico. A professora e ativista Megan Davis foi quem defendeu a tese, segundo informações do 'News.com'.
Receber zero pontos propositalmente em três rodadas por um estudo acadêmico subsidiado pelo contribuinte, tanto em nível universitário quanto olímpico, não é engraçado e não é 'tentar'. É desrespeitoso com outros competidores. Vida rica e confortável, educada, sem nenhuma preocupação no mundo, nada realmente importa, que diversão, que garota australiana divertida, gargalhadas. Megan Davis, vice-reitora da Universidade de New South Wales e integrante da Comissão da Liga Australiana de Rúgbi
A B-girl é uma professora universitária e tem doutorado com tese relacionada ao breaking. Gunn palestra na Faculdade de Artes da Macquary University, em Sydney, Austrália. Oito anos após se tornar bacharel em música contemporânea, em 2009, ela concluiu doutorado em estudos culturais. Sua tese "Desterritorializando o gênero na cena breakdance de Sydney: a experiência de uma B-girl fazendo B-boy" tem como foco a interação entre gêneros no meio da dança.
Foi apresentada ao breaking por seu marido, que atuou como técnico da modalidade nas Olimpíadas. Gunn praticava dança desde criança, especializando-se em dança de salão, sapateado e jazz. Seu então namorado, Samuel Free, incentivou-a a experimentar um novo estilo. Ela começou a competir no início da década de 2010 e retomou após concluir seu doutorado.Free, o homem que introduziu Gunn à modalidade, já ganhou competições de breaking ao longo da carreira e foi a Paris como treinador.
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