Ele é amigo de Guga, tem nome 'de filme' e busca pódio nas Paralimpíadas
O nome dele significa "Deus das águas", mas foi no saibro que realizou sonhos. Um deles foi se tornar amigo do ídolo Gustavo Kuerten, o Guga, um dos maiores atletas do tênis brasileiro. Outro pode ser concretizado justamente no saibro de Roland Garros: uma medalha em Paralimpíadas.
Ymanitu Geon da Silva, o Many, como é conhecido, disputa a medalha de bronze ao lado de Leandro Pena nas duplas da categoria quad — eles enfrentam os sul-africanos Donald Ramphadi e Lucas Sithole.
Ele é o único brasileiro a ter disputado todos os Grand Slams do tênis em cadeira de rodas e está na terceira participação paralímpica — antes, atuou na Rio-2016 e Tóquio-2020.
Estou muito feliz em termos conseguido a classificação para a minha terceira Paralimpíadas. Essa foi a mais difícil, a categoria Quad está cada vez mais forte e competitiva. Estou tranquilo e confiante para essa partida, pois precisamos estar calmos e focados Ymanitu
Ymanitu começou no tênis ainda aos 10 anos, sob incentivo do pai, fã da modalidade. "Ele dizia que, ao mesmo tempo, era uma forma de educação e formação de uma pessoa". Os primeiros contatos com a bolinha amarela foram em um clube em Tijucas, Santa Catarina, cidade onde nasceu.
Ele levou a vida com uma rotina que não fugia a de outros jovens de sua idade. Estudava pela manhã e praticava tênis à tarde. De vez em quando, em um intervalo de tempo, se arriscava no futebol e curtia um pouco a piscina. Aos 17 anos, deixou o desejo de seguir carreira no esporte de lado e foi fazer faculdade para ajudar na administração de uma farmácia, negócio familiar.
Em 2007, com seus "20 e poucos" anos, o tenista sofreu um acidente de carro e ficou tretraplégico. Durante a reabilitação, o reencontro com o tênis, agora, sob uma outra ótica.
"O início foi muito complicado porque precisei me adaptar à cadeira. Os golpes eu já tinha bem. Eu jogava como andante, mas na cadeira é outra realidade e continuo aprendendo a cada dia, até hoje."
Ymanitu e o tênis voltaram a estar lado a lado, e, nesta trajetória já foram 56 pódios na carreira, tendo sido vice de duplas em Roland Garros, em 2022, e no Australian Open, em 2023.
Amigo de Guga
O tenista paralímpico acabou criando laços com o também catarinense Guga, tricampeão de Roland Garros (1997, 2000 e 2001). "Ele é meu maior ídolo. Sempre acompanhei a carreira dele e sonhava em jogar em Roland Garros como ele."
A relação deles começou em 2014, em um torneio para cadeiras em que Ymanitu conversou com Guga durante a cerimônia de entrega de troféus. "Depois, em 2016, em um torneio, parei nas quartas de finais de simples e, no dia seguinte, me chamaram para ir ao complexo. Ele estava lá e puxou a minha orelha por não ter fechado o primeiro set (risos)."
Após três anos da "bronca", Guga cumpriu uma promessa feita durante a gravação de uma reportagem ao lado de Ymanitu. "Sendo o primeiro braslileiro a conseguir a classificação para Roland Garros, fui chamado para essa gravação na casa dele. Ele disse que estaria lá torcendo por mim. Eu não acreditei. Para o meu espanto, começa a partida, olho para o lado e ele está lá de pé, ao lado do guarda. Acompanhou e torceu o jogo inteiro."
Por que Ymanitu?
O nome de Ymanitu causa curiosidade. Ele significa "Deus das águas", segundo ele conta, e foi baseado em um filme. E quase o nome foi em homenagem a um atleta francês.
"Eu nasci em abril de 1983 e, a princípio, meu nome era pra ser Tigana, jogador francês que atuou na Copa de 1982, mas, dias antes do meu nascimento, meu pai viu um filme de índígenas americanos que se chamava "A Lenda de Ymanitu". Antes de ir para as guerras, eles iam à beira dos rios e pediam por Deus Ymanitu dar força e proteção para as guerras. Quando era criança, assisti o filme por várias vezes."
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