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Ela foi de 'sentença' na infância a desfile com Brunet e Paralimpíadas-2024

Laíssa Guerreira, atleta paralímpica da bocha, entrou na modalidade por incentivo da mãe Imagem: Marcello Zambrana/CPB

Do UOL, no Rio de Janeiro (RJ)

10/09/2024 13h00

Laíssa Guerreira desembarcou no Brasil após dias em Paris, onde participou dos Jogos Paralímpicos pela primeira vez. Meses antes, a paraibana de Campina Grande estivera em uma passarela ao lado de ninguém menos que Luiza Brunet.

Aos oito anos, Laíssa ouviu dos médicos que viveria "até os 11". Naquele momento, o diagnóstico de Atrofia Muscular Espinhal (AME) havia acabado de ser fechado. Mas ela decidiu mostrar que o sobrenome não é à toa, e contrariou qualquer prognóstico. Aos 18, ela defendeu o Brasil na bocha, classe BC4, e não quer parar de realizar sonhos.

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Foi uma sensação muito boa, um misto de emoções porque sempre foi um sonho estar nas Paralimpíadas. Minha mãe sempre dizia que eu ia estar na de Paris, e ninguém estava. Eu estava vendo esse sonho e poder viver as Paralimpíadas foi emocionante Laíssa Guerreira

A atleta esteve na capital francesa ao lado da mãe, que a apresentou à bocha e se tornou sua treinadora.

O diagnóstico

Dona Edna começou a reparar, quando Laíssa tinha dois anos, que a filha tinha comportamentos diferentes em relação a outras crianças da mesma idade. Eram os sintomas iniciais da AME. "Eu não corria, não pulava... Com isso, minha mãe foi atrás para querer descobrir o que estava acontecendo comigo", conta ela.

A partir daquele momento foram alguns obstáculos até que se chegasse ao diagnóstico e o tratamento pudesse ser iniciado. "Fomos atrás de vários médicos, e vários falaram que era coisa da cabeça da minha mãe, que não existia nada. Chegaram até a falar que era verme. Depois, que eu tinha miopatia nemalínica [a forma grave pode ter fraqueza dos músculos usados para respirar e insuficiência respiratória}. Todos errados. Em outubro de 2014, conheci a doutora Vanessa Madeline, neurologista que descobriu que eu tinha AME", lembra.

A Atrofia Muscular Espinhal é uma doença rara e degenerativa, "que interfere na capacidade do corpo de produzir uma proteína essencial para a sobrevivência dos neurônios motores, responsáveis pelos gestos voluntários vitais simples do corpo", segundo definição descrita no site do Ministério da Saúde.

Como o meu diagnóstico foi tardio, infelizmente, perdi vários movimentos e oportunidades de tentar ter uma vida melhor. Complicou muito a minha situação clínica, e me deram uma sentença [de que viveria] até os 11 anos. Eu estou com 18! Para Deus, nada é impossível Laissa Guerreira

A apresentação à bocha

Laíssa conheceu a bocha através da inquietude da mãe. Dona Edna foi atrás de uma atividade física que a filha pudesse praticar, após a jovem ser deixada de lado nas aulas de educação física na escola.

Laissa Guerreira e a mãe, Edna, em competição de bocha paralímpica Imagem: Marcello Zambrana/CPB

"Com oito anos de idade fiquei na cadeira de rodas. Nas aulas de educação física, era excluída das modalidades que tinha, que era futebol, vôlei e basquete. Não conseguia participar de atividade física alguma. Isso instigou minha mãe a ver outro tipo de modalidade para mim. Foi aí que ela, depois de correr atrás, conheceu a bocha paralímpica e me apresentou. E juntas começamos mais por um hobby e por inclusão".

Edna se tornou integrante da comissão técnica de Laíssa e acompanhou de perto a transformação dala em uma atleta paralímpica. "Desde então, sou eu e ela, ela e eu, juntas nessa luta nessa trajetória linda da bocha".

Uma outra atividade, e paixão, Laissa nunca abandonou: o balé. Ela, inclusive, já fez apresentação com integrantes do corpo do Balé Bolshoi.

O desfile na São Paulo Fashion Week

Laíssa Guerreira no desfile da The Paradise 2 Imagem: Vivian Koblinsky

Laíssa, além de atleta, bailarina e estudante de Direito — motivada pela forma como a sociedade trata as pessoas com deficiência —, também já fez as vezes de modelo. A estreia na passarela foi na maior semana de moda do Brasil, a São Paulo Fashion Week, em desfile da marca carioca The Paradise. Para completar a experiência, Guerreira desfilou ao lado se Luiza Brunet, um dos ícones da moda do país.

"Sou ativista na Casa da Pessoa com Deficiência, mais relacionada ainda à minha patologia, e houve uma ação juntamente a uma farmacêutica. O projeto era relacionado às pessoas com AME na moda, e me convidaram a desfilar. Foi uma experiência enorme. Sempre quis estar em uma passarela, e mais ainda ao lado de Luiza Brunet. Foi um momento único na minha vida".

"São importantes ações assim para dar mais visibilidade às pessoas que têm atrofia muscular espinhal, conscientizar e quebrar estereótipos. Mostrar que a pessoa pode estar onde ela quiser. Existe vida além de diagnóstico, e podemos estar em uma passarela. Isso quebra paradigmas que a sociedade impõe sobre um padrão de corpo".

Ela também é embaixadora da campanha "Ame cada conquista", que visa inspirar pessoas com a doença a compartilharem e valorizarem as vitórias:. "Quero encorajar todos que convivem com a doença e não desistirem. É possível viver plenamente apesar dos desafios".

A estreia nas Paralimpíadas

Laissa disputou as Paralimpíadas pela primeira vez em Paris. Ela avaliou positivamente a atuação na capital francesa. "Tenho certeza que eu dei o meu melhor a cada jogo. Consegui finalizar como sétima melhor do mundo, isso me deixou muito feliz".

"É lindo demais poder representar o Brasil. Foi um misto de emoções: ao mesmo tempo muita alegria por estar no meio de tantos atletas e experiências, e poder começar também a minha história paralímpica".

E depois da primeira, Laissa já começa a olhar para Los Angeles-2028. "A preparação já se iniciou. O ciclo de Paris já encerrou, e com muitas lembranças. Foi muito lindo. Vou tirar um tempinho para poder descansar o corpo e a mente, mas já vou estar com tudo nos próximos dias do treinamento para esse novo ciclo já que inicia."

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