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As 'armas' do italiano Lamont Marcell Jacobs, ouro nos 100m rasos

Marcell Jacobs, da Itália, é o novo campeão olímpico dos 100 m rasos - Xinhua/Wang Lili
Marcell Jacobs, da Itália, é o novo campeão olímpico dos 100 m rasos Imagem: Xinhua/Wang Lili

Peter Ball e Sofia Bettiza - Serviço Mundial da BBC em Tóquio

02/08/2021 13h11

A vitória de Lamont Marcell Jacobs na final olímpica masculina dos 100m chocou o mundo do atletismo - e o próprio velocista italiano.

Falando à imprensa a poucos metros da pista onde venceu, sua resposta foi simples quando questionado se esperava vencer: "Não."

Poucos minutos após a corrida, ele desabafou sobre suas batalhas mentais, sua vida familiar conturbada e sobre como na noite anterior ele sonhava ganhar ouro enquanto jogava Playstation com seu amigo - que também acabou se tornando campeão olímpico no mesmo dia.

Prevendo o futuro

Quando Jacobs cruzou a linha e correu para os braços do compatriota italiano Gianmarco Tamberi, que minutos antes havia ganhado o ouro no salto em altura masculino, ninguém sabia que na véspera das provas eles haviam tido a ideia de que ambos ganhariam o ouro.

"Ontem à noite, joguei PlayStation com Gianmarco no meu quarto e dissemos, 'pode imaginar se nós...'", disse o velocista.

Marcell Jacobs, ouro nos 100m rasos, e Gianmarco Tamberi, ouro no salto em altura, comemoram em Tóquio - Xinhua/Wang Lili - Xinhua/Wang Lili
Marcell Jacobs, ouro nos 100m rasos, e Gianmarco Tamberi, ouro no salto em altura, comemoram em Tóquio
Imagem: Xinhua/Wang Lili

Mas assim que a dupla falou na sonhada dobradinha olímpica, eles deixaram a ideia de lado.

"Não, não, é impossível, não, não. Não pense isso."

Mas Jacobs voltou a pensar na conversa enquanto olhava para a pista momentos antes da corrida que mudaria sua vida.

"Quando o vi, cinco minutos antes de mim, ganhar uma medalha de ouro, pensei: 'OK, vou conseguir' - e consegui. É maravilhoso."

Mentalmente forte

Jacobs disse que o aspecto mental do esporte era um obstáculo para ele no passado. Ele atribui sua vitória em parte às pessoas que uniu ao seu redor e que o ajudaram a melhorar sua performance.

"Eu criei uma equipe muito boa para me apoiar", disse ele. "E tenho que agradecer a minha equipe por isso."

"Trabalhamos na minha mentalidade, na boa alimentação, na boa fisioterapia. Eu realmente trabalhei muito na minha mente, porque quando eu chegava nos grandes momentos, minhas pernas não funcionavam muito bem. Agora minhas pernas vão muito bem nos grandes momentos."

Divisão familiar

Mas parte dessa mudança também se deve à situação de sua família. Falando na televisão italiana momentos depois da vitória de seu filho, Viviana Masini contou que tinha apenas 18 anos quando Jacobs nasceu, e o pai, fuzileiro naval americano, tinha 20.

Eles moravam em El Paso, Texas, na época, mas o pai de Jacobs logo foi enviado para a Coreia do Sul, e Viviana voltou com Jacobs para a Itália, onde o criou sozinha.

"Ele cresceu sem um pai - eu era mãe e pai. Era uma vida muito difícil", disse ela. "Mas hoje ele pode finalmente colher os frutos de todos os seus sacrifícios. Ele conquistou o mundo. Quando ele era criança, eu dizia a ele que um dia se tornaria tão bom quanto Usain Bolt. Esse é o próximo objetivo, eu sei que ele pode conquistar isso."

Jacobs atribui sua vitória em parte à construção dos laços com seu pai, com quem ele falou pela primeira vez há um ano.

"E isso me ajudou a chegar aqui [em Tóquio] com uma boa mentalidade", explicou Jacobs. "Eu nunca tinha o visto desde quando era [pequeno]. Quando as pessoas me perguntavam: 'Quem é o seu pai?', eu não sabia. "

Lamont Marcell Jacobs comemora com a bandeira da Itália a medalha de ouro nos 100 m rasos dos Jogos Olímpicos de Tóquio - Ian MacNicol/Getty Images - Ian MacNicol/Getty Images
Lamont Marcell Jacobs comemora com a bandeira da Itália a medalha de ouro nos 100 m rasos dos Jogos Olímpicos de Tóquio
Imagem: Ian MacNicol/Getty Images

Tatuagens

A importância da família para Jacobs está literalmente escrita em seu corpo. Uma de suas muitas tatuagens diz "Famiglia dove nasce la vita e l'amore non ha mai fine" ("Família, onde a vida nasce e o amor nunca termina").

Os nomes de seus três filhos também estão tatuados em sua pele, dois dos quais são de seu relacionamento com sua atual parceira, Nicole Daza.

Ela disse à BBC que a pandemia de covid havia dificultou a vida de todos nestes meses.

"Não foi fácil com a pandemia. Não nos vemos há um mês, que é o tempo mais longo que passamos sem nos ver. Foi difícil para ele, mas realmente nos esforçamos para fazer videochamadas sempre que podíamos. Ele queria especialmente ver as crianças."

Mas não estar em Tóquio não tornou a vitória de Jacobs menos emocionante para ela.

"Quando percebemos que ele ia ganhar, gritei como uma louca, joguei nosso filho Anthony para o alto. Esta manhã eu perdi completamente minha voz por causa de toda a gritaria."

O título olímpico de Jacobs significa que ele se tornou mundialmente famoso da noite para o dia, mas Nicole não acha que a fama instantânea o afetará.

"Sei que nossas vidas vão mudar - mas tenho certeza de que ele não vai mudar", disse ela.

"Ele acredita tanto em si mesmo que é contagioso, ele transmite isso para quem está ao seu redor. E ele faz isso especialmente como pai, com os filhos. Ele é um pai excepcional".

Sem dúvida, os fãs do atletismo esperam que o espírito contagiante do velocista apareça cada vez mais nos próximos anos.