Nadadores dos EUA treinam no Sena sem nadar na água: 'queremos diminuir o risco'
Depois de várias polêmicas envolvendo a qualidade da água do Rio Sena, o treino de reconhecimento para as provas de águas abertas (maratona aquática) dos Jogos de Paris-2024 foi realizado nesta quarta-feira. Os três nadadores dos EUA inscritos na disputa participaram do treino, mas decidiram conhecer o percurso sem nadar e correr o risco de engolir água. Eles usaram pranchas a remo.
"Queríamos apenas mitigar ao máximo o risco", disse Ivan Puskovitch, único atleta do país na prova masculina. "Mesmo que o rio esteja navegável e a água com níveis seguros, ainda existe algum grau de risco. E nem é preciso dizer que o risco aqui é um pouco mais significativo do que na maioria dos locais onde acontecem eventos em águas abertas."
Uma das representantes dos EUA nas águas abertas é Katie Grimes, que já conquistou a medalha de prata nos 400m medley nos Jogos de Paris no dia 29 de julho. Além da americana, outro nadador que já competiu na piscina montada na Arena La Defense decidiu só entrar no Sena no dia da disputa das águas abertas.
Quarto colocado nos 1.500m livre, o húngaro David Betlehem criticou os organizadores da Olimpíada de Paris por insistir na prova no Sena, apesar dos riscos potenciais à saúde. "Nós, atletas, não temos escolha. Você é um peão", disse Betlehem. "Se quisermos mudar as coisas, precisamos que todos os atletas digam não, não queremos nadar lá."
A World Aquatics, órgão regulador dos esportes aquáticos, cancelou um treino na terça-feira devido a preocupações com o nível da bactéria E. coli no curso de água. Apesar do forte investimento para limpar o Sena, a qualidade da água tem sido uma preocupação constante durante os Jogos.
A organização da Olimpíada, porém, demonstra confiança de que águas abertas serão realizadas sem problemas, especialmente se a previsão do tempo se confirmar e não chover. "Fizemos os testes de qualidade e sei que o processo está sendo cuidadoso. Não são apenas os resultados que queremos ter. São os resultados reais", disse a alemã Britta Kamrau, ex-campeã mundial de águas abertas e membro do comitê técnico da World Aquatics. "Não tenho medo de que os atletas adoeçam."
Ela, porém, acrescentou que a própria natureza do esporte sempre levanta preocupações. "É natação em águas abertas", disse Kamrau. "Você nunca tem a água limpa como na piscina", completou. A maioria dos nadadores que disputam as provas de águas abertas fazem grande parte de seus treinos nas condições controladas de piscina.
Apesar da insatisfação dos atletas, o treino de reconhecimento aconteceu na manhã nublada e fria desta quarta após os resultados dos testes diários que mostraram que a água estava dentro das diretrizes aceitáveis.
Campeã olímpica no Rio-2016 e vice nos Jogos de Tóquio, em 2021, a holandesa Sharon van Rouwendaal disse ter ficado feliz pela oportunidade de treinar no Sena. "Pudemos ver como é o percurso e sentir um pouco a corrente", afirmou ela.
A velocidade das águas do Sena foi medida de 3,2 a 4,8 km/h, o que significa um grande esforço para avançar contra a corrente. Durante a sessão de treinamento, alguns nadadores pareciam mal se mover nessas condições. "Quando você estava a favor da correnteza, era ótimo", afirmou Van Rouwendaal. "Você podia nadar de costas e se sentia superpoderoso. No caminho de volta, porém, você sente que tem problema."
A holandesa é uma das principais concorrentes de Ana Marcela Cunha, atual campeã olímpica, na prova de 10km marcada para esta quinta-feira, às 3h (de Brasília). Viviane Jungblut também representa o Brasil. Os homens caem na água do Sena na sexta-feira.
Poluição provocou mudanças em eventos olímpicos
Foram cinco cancelamento de atividades no Rio Sena desde o começo da Olimpíada de Paris devido à poluição. O primeiro treino de reconhecimento da natação para o triatlo foi adiado por dois dias seguidos. Isso levou ao adiamento da própria prova. Chegou a ser cogitado fazer a disputa sem a parte da natação.
As provas feminina e masculina foram mantidas, mas disputadas no mesmo dia. Entretanto, os treinos do triatlo misto também sofreram adiamento até ser possível que acontecessem.
A natação no Sena foi proibida há mais de um século, em grande parte devido à má qualidade da água. Os organizadores investiram 1,4 bilhão de euros (US$ 1,5 bilhão) para preparar o rio antes dos Jogos Olímpicos. A ministra francesa do Esporte e a prefeita de Paris chegaram a nadar no rio para comemorar as condições de nado antes da Olimpíada.
Quatro triatletas, dos mais de 100 que competiram nas provas individuais na semana passada, adoeceram nos dias seguintes às provas, embora não esteja claro se há relação com a qualidade da água do Rio Sena.
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