Em dia eletrizante, Italo sai de Trestles como vice-campeão

Italo Ferreira chegou muito perto de conquistar o bicampeonato e fazer história no circuito mundial de surfe. Após escalar toda a montanha para chegar na final contra o havaiano John John Florence, o brasileiro acabou superado e fechou a temporada com o vice-campeonato. Ele perdeu por 2 a 0 a melhor de três na grande decisão do WSL Finals, disputado em Trestles, na Califórnia, nesta sexta-feira (6). No feminino, Tatiana Weston-Webb encerrou com a terceira colocação.

Caso vencesse, além de levantar o caneco pela segunda vez na carreira, Italo Ferreira seria o primeiro surfista a vencer o WSL Finals sem chegar nele como o melhor ranqueado. Mais do que isso teria derrotado todos os quatro rivais na competição. O WSL Finals, que define o campeão do circuito mundial de surfe, reúne os cinco melhores ranqueados da temporada e o formato é simples. O quinto e o quarto fazem a primeira rodada e quem ganhar avança para enfrentar o terceiro melhor. O vencedor deste confronto pega o segundo e, a seguir, o primeiro ranqueado. Foi o caminho que o brasileiro percorreu.

Escalador de montanhas

Italo Ferreira entrou como o quinto melhor e abriu o dia derrotando o australiano Ethan Ewing. A seguir passou por outro australiano, Jack Robinson, e se credenciou para enfrentar o estadunidense Griffin Colapinto. Venceu e foi para a final contra John John Florence, o líder do ranking mundial. Somente duas vezes o surfista que saiu da primeira bateria chegou na final no masculino. A outra vez foi justamente com Italo Ferreira, em 2022. Na ocasião, ele era o quarto e perdeu o troféu para Filipe Toledo.

Por fim, o título de John John quebra a hegemonia do Brasil no Finals, já que os três primeiros campeões foram Gabriel Medina, em 2021, e Filipe Toledo em 2022 e 2023. Além disso, é a primeira vez desde 2018 que o campeão do circuito mundial de surfe não é brasileiro. Naquele ano, Medina levou o troféu e, em 2019, foi a vez de Italo. Em 2020, a temporada foi cancelada por conta da pandemia da Covid-19.

Deu Havaí

A primeira bateria da final não teve quase nada nos primeiros vinte minutos. Uma onda surfada por Italo Ferreira, um 4,67, e nada mais. Na segunda metade da disputa, apareceram as ondas e eles começaram a voar. Primeiro Italo, com um aéreo de 7,33 e um outro de backside, muito alto, com rotação completa e sem mão na prancha. Rendeu uma nota 8,00 e um somatório de 15,33. John John respondeu com outro aéreo, bem menos radical que o do brasileiro, mas seguido de boas manobras que valeram 7,17. Assim, a cinco minutos do término, Italo tinha 15,33 a 7,17. O havaiano precisava de 8,17 para virar e, na última onda que surfou, arrancou um 8,33 para vencer o primeiro round.

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Precisando ganhar a qualquer custo, Italo Ferreira começou martelando a segunda bateria. Pegou uma direitaça de backside e sentou a marreta nela desde o outside até o inside. Assim, logo de cara saiu com uma nota 8,17. Já John John, querendo decidir tudo ali mesmo, também desceu uma direita, mas de frontsite, e também macetou. A primeira manobra foi a melhor do dia até então, uma pancada no lip chutando a rabeta com muita potência, abrindo o caminho para a melhor nota do dia, um 9,70. Um dos cinco juízes chegou a dar o dez.

Baita final

O havaiano voltou a levantar a praia em uma outra direita de frontside. Não com a mesma potência da primeira, mas com muito flow e variedade. Um reverse de respeito e uma série de rasgadas acrescentaram um 8,43 na somatória, batendo nos 18,13 e obrigando Italo a tirar 9,96 pra virar. O brasileiro, na quinta bateria dele do dia, foi pra cima e numa esquerda de frontsite. Chegou num 8,13, o que não mudou em nada a situação. Italo ainda precisava do 9,96. Nos últimos cinco minutos, John John tinha a prioridade e o mar estava sem séries no horizonte. Os segundos foram escoando até o havaiano conquistar o tricampeonato mundial.

Dia eletrizante

Apesar da derrota na final, Italo Ferreira protagonizou um dia pra não esquecer. Para chegar na final, precisou uma virada alucinante, um atropelo e uma vitória quando já estava nos vestiários. Primeiro ele derrotou os autralianos Ethan Ewing e Jack Robinson e, a seguir, o estadunidense local Griffin Colapinto.

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Vitória ns vestiários

A vitória sobre Griffin Colapinto, na terceira rodada, só foi confirmada quando Italo Ferreira já estava no vestiários. Ele e o estadunidense estavam bem próximos na pontuação e cada um pegou uma onda nos segundos finais da bateria. A primeira nota que saiu foi de Italo Ferreira, um 6,87 que obrigava Colapinto a receber um 7,17 na última dele. Os juízes demoraram para divulgar todas as notas e o brasileiro acompanhou pela televisão em um espaço reservado apenas para atletas. Após alguns segundos, que pareceu levarem séculos para passar, o alívio e a vibração com a passagem para a grande decisão.

Revirada na última onda

Contra Ethan Ewing, na primeira bateria, a vitória também veio depois do cronômetro zerado, mas de forma ainda mais emocionante. Italo Ferreira venceu após arrancar um 7,80 com um aéreo na última onda, após ter sofrido uma virada a menos de um minuto do fim.

A bateria começou com tudo. Logo nas duas primeiras ondas, tanto Ítalo, o único goofy do WSL Finals no masculino, quanto Ethan, desceram duas ondaças. O australiano primeiro, de frontside pra direita, que rendeu logo de cara a melhor nota da bateria: 8,33. O brasileiro veio logo atrás, também pra direita, mas de backside, e cravou 7,67. Com um 4,17, Italo já tinha 11,84 contra os 14,00 de Ethan Ewing (8,33 + 5,67).

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A cinco minutos do fim, numa esquerda de frontside, nem tão grande, Italo Ferreira cravou dois aéreos muito potentes e arrancou um 7,00 dos jurados. Foi a 14,67 contra os 14,00 de Ethan Ewing. Nos minutos finais, o australiano precisava de 6,34 e, a 1min30, ele desceu uma direita cravando 6,50. Parecia que tinha levado, mas Italo tirou o coelho da cartola com o aéreo de 7,80.

Atropelo

Contra Jack Robinson, na segunda rodada, Italo Ferreira dominou do início ao fim. Tanto que seis das nove ondas que o brasileiro pegou tiveram notas maiores que as duas melhores do australiano. Assim, Jack Robinson precisava de um 8,33 pra virar a bateria. Apesar do domínio do brasileiro, a reta final ainda tinha alguma coisa reservada para acontecer.

A seis minutos do término, os dois pegaram a mesma onda duas vezes, com Jack Robinson de backside pra direita e Italo de backside pra esquerda. Na segunda delas, os dois tentaram aéreos, mas só o brasileiro cravou o dele e recebeu um 7,57. Assim, saltou para 14,57 contra 9,94 e sacramentou a vitória na segunda rodada do WSL Finals de surfe.

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