Amizade e profissionalismo marcam dobradinha dos caubóis

Vaires-sur-Marne - Fernando Rufino e Igor Tofalini conquistaram as duas últimas medalhas do Brasil nos Jogos Paralímpicos de Paris-2024. Os caubóis levaram ouro e prata na disputa do VL2 200m da paracanoagem, na tarde deste domingo (08). Mais do que um feito histórico, o pódio também marcou a realização de um sonho para os atletas, que são amigos de longa data e treinaram juntos na reta final do ciclo, mesmo sendo rivais de competição.

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"Para nós dois, essa medalha vai além do peso que ela representa. Isso aqui representa a união de uma boa amizade e um bom companheirismo, que sempre torce um pelo outro. Eu nunca vi pessoas serem tão profissionais que o adversário tem que dividir técnico e dividir treino. Nós disputamos na água, na academia, na comida, nós disputamos quem bebe mais água, no jogo, no rolo. A disputa aqui é 24 horas, até quem dorme mais", brincou Rufino em entrevista logo após o pódio.

Dupla junta pela primeira vez

Em Paris-2024, Rufino e Tofalini puderam competir em conjunto pela primeira vez em Paralimpíadas. Os dois amigos tiveram que se revezar na Rio-2016 e em Tóquio-2020, duas edições em que a paracanoagem integrou o programa paralímpico. Agora, graças à uma mudança no sistema qualificatório, os caubóis puderam disputar os Jogos de forma conjunta.

"É um momento de muita felicidade estar ao lado de um grande atleta, estar treinando junto e ter a oportunidade de dedicar 100% na canoagem, chegar aqui, mostrar serviço, levar a medalha para casa e para a nossa equipe, para o nosso país. É a realização de um sonho de muitos anos de trabalho", falou o paranaense Igor Tofalini, que levou a prata, conquistando sua primeira medalha paralímpica. Rufino foi ouro, sagrando-se bicampeão.

Brasileiros dominantes

Como visto em Paris, Rufino e Tofalini dominam a prova do VL2 (para atletas que utilizam o tronco e os braços na remada). Foi assim neste ciclo, em que os dois fizeram dobradinha de ouro e prata nos três últimos Mundiais - Tofalini ganhou em 2022, enquanto Rufino levou a melhor em 2023 e em 2024. Neste ano, os dois passaram a treinar juntos, em Curitiba (PR), em preparação para a Paralimpíada.

"Para mim, foi um sonho eu e ele dividindo essa medalha. De todas as competições que eu já fiz em 12 anos de canoagem, essa disputa eu estava muito inseguro com o ouro. Eu vim contando com o ouro e a prata entre nós dois, porque, nos treinos, a gente estava muito um ganha e perde. Eu até falei em Curitiba para ele: 'Nós dois vai ser só na hora de cruzar para a ponte pra saber quem ganhou'. Mas eu pensei: o que vier, nós vamos churrasquear junto", disse o sul-mato-grossense Rufino, de 39 anos.

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"Eu tenho dois filhos, minha esposa e tenho minha família. Ele também tem a família dele e é muito apegado. É difícil. Então, esse companheirismo um do outro acaba deixando as coisas mais leves, para que a gente possa chegar e se dedicar 100% ao esporte", falou Tofalini.

Dos rodeios à glória paralímpica

Fernando Rufino e Igor Tofalini têm uma história parecida. Os dois iniciaram suas trajetórias em rodeios e, após acidentes, ficaram paraplégicos. Eles chegaram até a paracanoagem e foi no esporte que se encontraram, tornando-se próximos. Além das montarias, também compartilham outros gostos em comum, como o sertanejo e o campo.

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"Nós dois representamos a classe dos boiadeiros. Do rodeio, que nós somos fãs, do peão, do caboclo do leite que carpa, que roça, que pula cedo, o batalhador da zona rural mesmo. Nós representamos essa classe com muito orgulho", disse Rufino. "Estamos aqui hoje representando cada uma dessas pessoas. Esses brasileiros que acordam cedo, que lutam, que vão atrás do seu trabalho", completou Tofalini, que tem 41 anos.

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