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26/08/2004 - 17h29
Brasil cai em jogo dramático e vê sonho de ouro virar prata

Murilo Garavello
Enviado especial do UOL
Em Atenas (Grécia)

Ainda não foi dessa vez que o Brasil conseguiu o ouro olímpico no futebol. Nesta quinta-feira, a seleção feminina mostrou um futebol de mais habilidade e criatividade do que a favorita equipe dos Estados Unidos, mas sucumbiu em sua menor capacidade de organização. Em um jogo dramático no estádio Karaiskaki, em Atenas, acabou sendo derrotada por 2 a 1 na prorrogação e viu a medalha dourada escapar por entre os dedos. Mesmo assim, a prata na Grécia é um feito histórico para a equipe do técnico René Simões.

Reuters 
Formiga dá carrinho para tentar tomar a bola de Mia Hamm em lance da decisão
Há anos o futebol brasileiro perseguia a única conquista que lhe restava, o ouro em Olimpíadas. Por vezes a seleção masculina se aproximou do sonho dourado, que completaria de vez o rol de títulos do país mais vencedor do mundo nesse esporte. No entanto, os pentacampeões jamais conseguiram passar da prata (Los Angeles-84 e Seul-88).

Nesta quinta, as brasileiras dominaram a partida e tiveram mais oportunidades de gol, mas falharam demais na saída de bola e na conclusão. Seguindo a escrita do "jogamos como nunca, perdemos como sempre", o Brasil manteve-se "freguês" dos EUA no futebol feminino. Desde a primeira partida, em 1986, foram 22 encontros, com 18 vitórias dos EUA -e apenas uma do Brasil. A seleção marcou 12 gols e sofreu 57 em todo o histórico do confronto.

A trama da final foi semelhante ao jogo da primeira fase, quando o Brasil, apesar de dominar o primeiro tempo e desperdiçar uma boa quantidade de gols, acabou derrotado na etapa final por 2 a 0.

Mas a prata em Atenas deve ser valorizada, pois faz desabar um incômodo jejum de oito anos. Nas duas únicas edições em que o futebol feminino foi disputado, as brasileiras acabaram com o quarto lugar, bem perto do pódio.

Semi-amadoras, as jogadoras do técnico René Simões voltam ao país como vencedoras, pois foram bem mais longe do que o badalado time masculino que não conseguiu vaga em Atenas, ao ser eliminado no Pré-Olímpico. Além disso, no Brasil não há campeonato profissional de futebol feminino.

Este foi o segundo ouro olímpico dos Estados Unidos, que haviam antes triunfado em casa, nos Jogos de Atlanta. As norte-americanas também conseguiram a prata em Sydney, há quatro anos. A final também marcou a despedida da atacante Mia Hamm, considerada a melhor jogadora da história do futebol feminino. Na decisão, porém, a norte-americana foi anulada pela defesa brasileira e mal tocou na bola.

O jogo
De cara, a seleção brasileira começou assustando, quando, aos 3min, Rosana entrou em diagonal, passou por duas marcadoras e bateu colocado. A bola passou pouco acima do ângulo esquerdo do gol norte-americano. Em seguida, Elaine disparou de longe e exigiu boa defesa da goleira Brianna Scurry.

Reuters 
Brasileiras Rosana e Cristiane tentam tirar a bola da norte-americana Mia Hamm
Os Estados Unidos responderam aos 9min, quando Lindsay Tarpley, após boa troca de bolas, bateu cruzado na área. Mas Andréia caiu no canto esquerdo e fez boa defesa.

Depois, a partida seguiu equilibrada. O ataque brasileiro apertou a marcação da saída adversária e conseguiu roubar a bola em algumas oportunidades. No entanto, as comandadas de René Simões exageravam nos toques e tinham dificuldade em armar a finalização.

Aos 38min, quando era superior na partida, o Brasil errou na saída de bola e acabou cedendo o gol aos Estados Unidos. Após um passe equivocado, Tarpley roubou a bola, avançou e bateu de longe. Andréia caiu no canto, mas não conseguiu alcançar o chute.

As brasileiras chegaram próximas do empate logo em seguida. Após uma cobrança de falta e um bate-rebate na área norte-americana, Cristiane bateu forte e só não marcou porque a goleira Scurry se esticou e desviou para escanteio.

No começo do segundo tempo, a seleção brasileira demonstrou afobamento na criação ofensiva e praticamente não ameaçou o gol de Scurry. Sem acesso à área pelo chão, o Brasil insistiu em jogadas pelo alto, porém sem sucesso.

Mas aos 27min Pretinha conseguiu levar justiça ao placar. Cristiane fez boa jogada individual pela esquerda e bateu cruzado. Scurry largou e a atacante brasileira só empurrou para as redes no rebote.

Na seqüência, as brasileiras voltaram a dominar a partida e acertaram a trave norte-americana em duas oportunidades, com Cristiane e Pretinha. Foram as últimas chances antes do apito final da árbitra sueca Jenny Palmqvist.

No começo da prorrogação, o domínio da posse de bola foi brasileiro, com as ações se concentrando no campo de defesa dos Estados Unidos. Depois de tentar o gol em disparos de longa distância, o Brasil perdeu grande chance com Cristiane, na frente da goleira adversária.

No entanto, o sonho brasileiro desmoronou aos 6min do segundo tempo da prorrogação, quando Abby Wambach subiu livre entre a marcação brasileira e desviou de cabeça uma cobrança de escanteio. O gol selou a vitória dramática dos EUA por 2 a 1.

Brasil
Andréia; Monica, Tânia Maranhão, Juliana Cabral e Daniela Alves; Rosana (Maicon), Elaine (Renata), Marta e Formiga; Pretinha e Cristiane
Técnico: René Simões

Estados Unidos
Scurry; Rampone, Fawcett, Chastain (Reddick), e Markgraf; Boxx, Tarpley (O'Reilley), Foudy e Lilly; Hamm e Wambach
Técnica: April Heinrichs

Data: 26/08/2004 (quinta-feira)
Local: estádio Karaiskaki, em Atenas (GRE)
Público: 10.270 torcedores
Árbitra: Jenny Palmqvist (SUE)
Auxiliares: Emilia Parviainen (FIN) e Nelly Viennot (FRA)
Cartões amarelos: Formiga e Monica (B)
Gols: Tarpley, aos 38min do primeiro tempo; Pretinha, aos 27min do segundo tempo; Wambach, aos 6min do segundo tempo da prorrogação

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