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Adriana Araújo: Se ganhasse medalha hoje, não levaria a bandeira do Brasil no corpo

Do UOL, em São Paulo

31/07/2021 12h36

No dia em que o Brasil conquistou a primeira medalha do tênis em Jogos Olímpicos, nas Olimpíadas de Tóquio, a responsável pelo primeiro pódio do boxe brasileiro, a pugilista Adriana Araújo, afirmou que já teve vontade de vender sua medalha de bronze conquistada em Londres-2012, conta que já precisou ser motorista de aplicativo e que se ela fosse medalhista hoje, não colocaria a bandeira brasileira devido à realidade para os atletas no país.

Durante sua participação no UOL News Olimpíadas, Adriana Araújo se emocionou ao falar da falta de incentivo ao esporte, criticou o governo e as empresas, que na visão dela só aparecem ao lado dos atletas em ano olímpico e não ajudam nos momentos mais difíceis.

"Essa é a realidade, infelizmente a gente vive no Brasil, é algo que estava dentro de mim. Se eu estivesse nas Olimpíadas hoje e eu fosse campeã, fosse medalhista novamente, eu não colocava a bandeira do Brasil no meu corpo. Não colocaria, infelizmente, porque é triste, é inadmissível, de que adianta você ser medalhista olímpica dentro de um país onde você não tem um incentivo", afirmou Adriana.

"Você não tem um apoio, infelizmente, esses patrocinadores aproveitadores, que é o que eu acho. Patrocinam as Olimpíadas? Mentira, cara, se você pegar um ano apenas e investir no atleta um ano e dizer que é patrocinador do atleta? Mentira, patrocinador é aquele que está ali lado a lado, desde o momento mais difícil até o momento bom da vida do atleta", completa.

Ela contou que em 2017, apenas cinco anos depois de conquistar a medalha em Londres, precisou trabalhar como motorista no Uber, que era reconhecida em algumas das viagens que fazia levando os passageiros e que pensou em vender a sua maior conquista.

"Em 2017 eu fiquei oito meses trabalhando no Uber. Teve uma situação, um rapaz que eu não ia pegar, porque estava em outro bairro, ia demorar um pouquinho, mais ou menos uns 10 minutos para chegar até ele e aí eu vi que ele deixou, não cancelou, vou lá pegar ele. Quando ele entrou dentro do carro, ele falou 'cara, eu só não cancelei porque eu vi a foto e eu queria ter certeza se era você', e aí quando entrou ele pediu para tirar foto", conta a pugilista.

"Vou ser bem sincera, isso aqui (medalha de bronze) já me deu vontade de vender. Qualquer valor que viesse para pagar minhas contas, eu tenho já há alguns meses que estou sem trabalhar, estou dando aula, alguns meses sem ter dinheiro em mãos e já me deu vontade de vender isso aqui, cara. Eu preciso pagar contas, preciso sobreviver e aí? É a realidade, esse é um dos motivos que hoje se eu estivesse nas Olimpíadas, não botava a camisa do Brasil. Para quê? Eu sou brasileira para quê? Se amanhã, para mim, o boxe acabasse, eu sou uma pessoa totalmente realizada porque sei de onde vim, sei o que eu passei, sei o que eu superei para conquistar isso aqui", conclui.