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Após 4 décadas, Brasil ganha alternativa verde para wakeboard e mira massificação

Maurício Dehò

Em São Paulo

14/11/2009 07h00

O Brasil demorou a entrar no mapa do "cable park", mas, há cerca de seis meses, recebeu uma nova alternativa para a prática do wakeboard. Se trata de de uma estrutura que existe desde os anos 60, mas que só em março chegou à America Latina, mais precisamente à cidade de Jaguariúna (SP), no Naga Cable Park. A inovação é ecológica: ao invés vez de um barco puxar o atleta e sua prancha, um cabo movido a eletricidade é quem faz o serviço.

  • Reprodução/Site oficial Naga CP

    Imagem do projeto do cable park de Jaguariúna. Os cabos são suspensos por torres e são acionados por eletricidade para puxar os atletas, que fazem manobras em corrimão e rampas

A iniciativa foi de Pedro Paulo Caldas, da cidade de Goiânia. Amante do wakeboard, ele conheceu o "cable way" – equipamento principal do cable park -, em uma viagem a Orlando (EUA). A ideia de construir um empreendimento no Brasil apareceu há seis anos.

PALCO DE COMPETIÇÕES

  • Divulgação

    O primeiro cable park da América Latina pode colocar a região no mapa das competições de cabo no wakeboard. Jaguariúna recebeu o Campeonato Paulista e, no evento, teve a presença de dirigentes estrangeiros, que aprovaram o equipamento e as condições para que o Brasil receba uma etapa do Mundial.

"Vi que havia um bom potencial em trazer essa tecnologia e comecei a buscar um lugar adequado. Saí pelo Brasil até achar o que estava procurando”, disse o goiano. Jaguariúna foi escolhida pelos aspectos naturais e também pela possibilidade de sucesso comercial do empreendimento, graças à facilidade de acesso e por contar um público propício a gostar do esporte.

Mesmo com sua característica favorável ao meio-ambiente em relação ao wakeboard tradicional, que tem o barco um barco puxando o atleta e sua prancha, passar pelo crivo das entidades relacionadas à modalidade foi o mais complicado.

"Por ser um empreendimento novo, as pessoas não conheciam e havia uma certa desconfiança. Mas estamos numa área que era degradada pela mineração e, sem o uso de combustível nos barcos, o cable park é ecologicamente correto", disse Pedro Paulo, que aguardou oito meses com tudo pronto para poder começar a montar o parque.

A estrutura também mexe bastante com os aspectos ambientais, como na inclusão de torres que sustentam os cabos e mecanismos que puxam os atletas. Ainda assim, segundo o proprietário, ter menos barcos alimentados por combustível é um ponto considerado importante para este recurso “verde”.

Favorecimento no alto nível
Praticantes do wakeboard como o campeão no Pan do Rio Marcelo Giardi, o Marreco, foram favorecidos pela primeira instalação com cabo na América Latina, até porque existem competições feitas exclusivamente neste formato.

"Estávamos ficando para trás", analisou Marreco. "Hoje todo mundo consegue manter o nível e chegar perto dos gringos. Os brasileiros não andavam tão bem em corrimão e rampa, então poder treinar no cable vai ajudar muito."

OURO NO PAN, MARRECO SONHA EM ANDAR NO TIETÊ

  • Arquivo/FI

    De carro, na Marginal Tietê. Trânsito carregado. Sempre que o campeão pan-americano Marreco se vê assim, um pensamento surge: "imagina se eu pudesse andar de wake aqui?". Enquanto o sonho não se realiza, Marreco segue andando apenas nas partes não poluídas do rio, no interior de SP. Atualmente ele compete e também tem sua escola de wakeboard, com aulas na represa de Guarapiranga, em São Paulo, no cable park de Jaguariúna e em Igaratá (SP). Aos 27 anos, ainda não tem planos de se aposentar.

Mesmo para quem prefere as competições com barco, os treinos no cabo para manobras com os obstáculos a que Marreco se referiu serão positivos, pela facilidade do acesso. "Hoje só falta treino aos brasileiros. A garotada tem que se espelhar nos gringos e, se for bem, não pode achar que já está apavorando, porque se comparar com eles, sempre temos de nos esforçar mais."

Wake como lazer para as "massas"
O wakeboard segue sendo um esporte caro. Quem quer se arriscar atrás de um barco tem de comprar um, ou ter algum conhecido que possua. Além disso, as pranchas custam de R$ 900 a R$ 1.500, chegando a picos de R$ 3.500 no caso dos profissionais.

No parque de Jaguariúna, o preço por hora varia de R$ 50 a R$ 60 e a estrutura permite que até nove pessoas participem ao mesmo tempo – a capacidade total, por dia, é de 300 pessoas. Mesmo que seja mais difícil aprender a andar de wakeboard puxado pelo cabo do que atrás de um barco, Marreco salienta a acessibilidade trazida.

Assim, existe a expectativa que uma estrutura como o cable park ajude a quebrar o histórico "elitista" da modalidade e possa ajudar a levar o esporte radical a novos públicos. “O wakeboard ainda é um esporte caro, mas iniciativas como essa deixam ele um pouco mais acessível. Hoje existem escolas, então os pais podem colocar os filhos para aprender wake em vez de natação, por exemplo”, afirmou Marreco, também professor da modalidade.

O fato de o esporte não ser olímpico é um entrave para que existam maiores condições e benefícios ao wakeboard, mas os praticantes sonham longe. "Se pudéssemos ao menos fazer uma apresentação de wakeboard na época das Olimpíadas do Rio, andando na Lagoa Rodrigo de Freitas, seria ótimo", sugeriu Marreco, campeão pan-americano neste mesmo lugar.

CONHEÇA O CABLE PARK, EM VÍDEO FEITO ANTES DE SEU LANÇAMENTO