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Brasileiro concorrente de austríaco elogia salto da estratosfera e diz que saída era perigo maior

O austríaco Felix Baumgartner quebrou recordes ao saltar de cápsula na estratosfera - Jay Nemeth/AFP
O austríaco Felix Baumgartner quebrou recordes ao saltar de cápsula na estratosfera Imagem: Jay Nemeth/AFP

Rodrigo Durão Coelho

Do UOL, em São Paulo

15/10/2012 15h43

“Foi mais legal que uma final de Copa do Mundo”, disse o brasileiro Luigi Cani – que integrou um projeto concorrente para ser o primeiro a saltar da estratosfera - sobre o feito do austríaco Felix Baumgartner, afirmando também que o momento mais determinante do evento de domingo foi a saída das cápsula.

“O aspecto mais perigoso é não ter resistência do ar na estratosfera. O melhor atleta do mundo não vai conseguir ter estabilidade, vai rodar mesmo, por um minuto e meio, isso já era sabido”, disse ele ao UOL Esporte.

 

 



Felix fez história no domingo ao saltar de 39 km de altura, batendo os recordes de altura e velocidade em salto livre. Ele ultrapassou a velocidade do som – chegou a 1.342km/h - e ficou quatro minutos e 19 segundos em queda livre, antes de acionar o paraquedas.

Ao deixar a cápsula, ele girou sobre si mesmo antes de se estabilizar na queda livre. Segundo o brasileiro, este era mesmo o plano.  

“Ele teve uma saída perfeita. Tenho certeza de que ele treinou exaustivamente a saída da cápsula, que é o máximo que se pode fazer, estar totalmente simétrico, ser preciso. Se um ombro estiver ligeiramente desnivelado do outro, é grande a chance de se rodar, não como ele rodou, mas transversalmente, sem controle, o que é o grande risco. Ele poderia desmaiar e o que poderia trazer  vários problemas físicos, além de ter perdido o recorde de velocidade, já que um outro paraquedas teria sido aberto.”

O presidente da Confederação Brasileira de Paraquedismo, Jorge Deviche Filho,disse ter tido a impressão de que os rodopios de Felix estavam “dentro de um cálculo de risco. O salto foi adiado algumas vezes e só aconteceu em condições perfeitas”.

“Não houve temor. Eles demoraram anos nesse projeto para justamente fazer uma coisa correta”, afirma Jorge.

O decacampeão brasileiro de parapente, Frank Brown,  conviveu com Felix, por ter sido patrocinado também pela Red Bull, responsável pelo projeto. Ele conta que a visão do piloto rodando em queda livre o assustou, mas diz que o austríaco é uma pessoa “extremamente cautelosa”.

“O que faz parece uma loucura, mas ele é muito técnico. O projeto levou cinco anos, os riscos são todos muito calculados”, diz Frank.

“Já estive com ele em três ocasiões, no Brasil e na Áustria. Ele é um cara bem caladão, cauteloso. É gente boa, mas parece um robozinho, é fechado pra caramba. Fala pouco e observa muito”, completa.

Para realizar o salto, o experiente piloto e paraquedista viajou em uma cápsula pressurizada presa a um grande balão de hélio, em subida que levou mais de duas horas.

Ele saltou da cápsula vestindo traje de astronauta, concebido para proteger contra a pressão de ar e temperatura baixas. O salto completo durou pouco mais de nove minutos.

Por ter aberto seu paraquedas antes do planejado, Felix Baumgartner não conseguiu quebrar o recorde de queda livre mais longa, que continua a ser de seu assessor no projeto, Joe Kittinger ? por um salto realizado pelo americano, hoje com 84 anos, em 1960.

No entanto, o austríaco quebrou um recorde mantido há mais de 50 anos – o de salto mais alto de paraquedas – assim como de voo mais alto realizado por um balão tripulado.

O projeto financiado pela Red Bull levou cinco anos para ser finalizado. O concorrente, que envolvia a Google, foi abandonado por causa da complexidade técnica envolvida. O brasileiro Cani – envolvido na empreitada entre 2010 e 2011 - revela algumas diferenças entre os dois projetos.

“Meu traje iria ter um dispositivo como o do Homem de Ferro, com pequenas turbinas nos pés e nas mãos, para estabilização, se fosse necessário. Além disso a cápsula seria maior e teria um assistente lá em cima comigo”, completa.