Cerveja, cigarro e atitude ainda distanciam X-Games de aura olímpica
Denominado de Olimpíada dos radicais, os X-Games ainda preservam uma distância conceitual em relação ao que se entende como "olímpico" no esporte. Tudo isso apesar da embalagem de mega evento, em nome da valorização das raízes urbanas de modalidades como o skate, nascida nas ruas e marcada pela luta contra preconceitos sociais. A presença de cerveja, cigarro e, principalmente, de uma atitude singular segue situando este universo de uma forma muito particular.
No fim das contas tudo parece uma sessão de manobras entre amigos na pista do bairro. A magnitude do evento surge como algo casual. No próximo final de semana pode ser que a reunião seja na casa de algum deles, com a mesma trilha sonora e os mesmos parceiros aplaudindo do lado de fora.
Talvez em nenhum outro âmbito do esporte os adversários convivam de forma tão amigável, às vezes com manifestações rasgadas de torcida uns pelos outros. Em alguns momentos a rivalidade parece simplesmente não existir. Foi assim quando Bob Burnquist acertou o seu 720 graus para ganhar a Mega Rampa, recebendo abraços efusivos dos rivais derrotados.
Foi assim em outras disputas também, como no skate street, vencido pelo norte-americano Nyjah Huston.
"Não importa muito [quem vai ganhar]. O importante é estar aqui, ter a oportunidade de andar numa pista incrível como essa. O vencedor depende muito de como está o skatista no dia, de alguma sorte. O importante é estar entre amigos", declarou o campeão do street.
Na sexta-feira, o brasileiro Pedro Barros, o melhor do mundo no skate park na atualidade, atendeu a reportagem do UOL Esporte dentro do complexo dos X-Games para uma entrevista, segurando seu copo de cerveja. Tudo sem receio de julgamento, em uma cena que poderia inspirar polêmica imediata se fosse testemunhada no ambiente de outro esporte mais quadrado, como o futebol, por exemplo.
Agenciado pela empresa de Ronaldo, Barros teria recusado oportunidades publicitárias que não se enquadravam no que ele entende como espírito de um skatista. O campeão do park nos X-Games Foz justificou a conduta da seguinte forma:
"Eu sempre vivi uma vida no meio do skate, eu cresci assim. Minha vida sempre foi movida a isso, e eu continuo a viver a mesma vida que eu tinha anos atrás. Eu não preciso mudar minha imagem para ser outra pessoa. Se fosse para me corromper, para mim não interessaria".
Já no sábado, mais uma cena que constrói a imagem de que os X-Games são um evento muito diferente dos demais no esporte. Após a sessão de treinos das meninas do skate street, um grupo de norte-americanas senta no meio da pista e acende cigarros, sem constrangimento diante de fotógrafos e cinegrafistas. No meio delas Marisa Dal Santo, uma das melhores do planeta.
Em entrevistas coletivas, um ou outro palavrão escapa da boca dos medalhistas radicais, mas nada com pose, apenas como uma manifestação autêntica de quem conseguiu executar uma manobra incrível.
Por fim, mais um episódio para a história dos X-Games brasileiro de 2013. Quando pensar que um dos maiores ídolos de determinado esporte pudesse caminhar no meio do público, segurando nos braços o filho de quatro meses? Pois esta cena foi vista com o brasileiro Sandro Dias, hexacampeão mundial de skate vertical, no meio dos fãs e sorrindo com o pequeno Gabriel no colo.
Aparentemente não existe paralelo entre este tipo de atitude casual com outros nichos do esporte. Nos radicais, ídolos e fãs se confundem em visual e comportamento, e um transita no espaço do outro com naturalidade. Quem sabe seja uma lição de informalidade para o politicamente correto de eventos diferentes.
*o jornalista viaja a convite da organização dos X-Games Brasil
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