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Bela das neves troca calor do Rio pelo gelo do Chile e vai a Socchi-2014

Isabel Clark representou o Brasil também nos Jogos Olímpicos de Inverno de Vancouver, em 2010 - Arquivo/FI
Isabel Clark representou o Brasil também nos Jogos Olímpicos de Inverno de Vancouver, em 2010 Imagem: Arquivo/FI

Paulo Anshowinhas

Do UOL, em São Paulo

25/08/2013 06h00

O que faria alguém trocar o calor de 30 graus no Brasil, pelo gelo de 15 graus negativos no Chile? A resposta pode ser o amor. Em algumas situações o amor pelo esporte.  Esse é o caso da carioca Isabel Clark Ribeiro, de 36 anos, arquiteta formada desde 2007, que trocou as praias cariocas pelas montanhas geladas de Valle Nevado, no Chile.

Ela faturou na semana passada o Campeonato Brasileiro de Snowboard, válido como etapa sul-americana da FIS (Federação Internacional de Snowboard), e carimbou o passaporte para disputar os Jogos Olímpicos de Inverno de Sochi, na Rússia em 2014.

A mudança para Valle Nevado não aconteceu apenas para proporcionar melhores condições de treinamento. Isabel é casada com o técnico da delegação brasileira de snowboard, o chileno Ivan Fuenzalida Saez.  “Apesar da diferença climática, o choque térmico vem de fato do idioma e da cultura que são desafios maiores na adaptação”, disse Isabel ao UOL Esporte.

E ter um marido como técnico é mais que um incentivo. “Ele é perfeccionista e exigente, e está sempre me impulsionando para me superar”, confidencia a atleta, responsável pelo melhor resultado da história do Brasil na Olimpíada de Inverno, o nono lugar no snowboard nos Jogos de Turim, em 2006.

Disputa amadora

Assim como Isabel, a ortodontista paulistana Regina Beluzzo de 42 anos também não encontra rivais nas pistas brancas. Regina participou de três provas esse ano na categoria amador em Valle Nevado, e foi a campeã no boardercross e no slalom gigante, e ficou em segundo no slopestyle. Ela, que nunca teve patrocinadores, faz sua preparação física sozinha na base da natação e spinning, além de praticar surfe e wakeboard para pegar uma boa base de equilíbrio.  “Para mim, ir uma vez ao ano para o Chile é encontrar a família da neve reunida em uma grande festa.”

Dentista como ela, o multiesportista radical e apresentador da ESPN, Luis Roberto Formiga de Morais, também é frequentador dos picos gelados. “É muito forte minha relação com o paredão em uma das 60 curvas até chegar na estação de Valle Nevado. Toda vez que olho a montanha, agradeço ter sobrevivido à queda, e relembro tudo em câmera lenta, mas já passou e hoje são apenas lembranças de um aprendizado forçado e dolorido”, conta Formiga. Ele se refere ao grave acidente que sofreu no local, quando quebrou os dois braços após uma queda.

Um dos dirigentes da CBDN (Confederação Brasileira de Desportos na Neve), Carlos Eduardo de Almeida, o Dinho, presenciou um dos acidentes de Formiga. “Esse que ele caiu de uns oito metros no asfalto eu não vi, mas assisti de perto, um outro em que ele caiu de uns 15 metros de altura, e quando acordou, descobriu que ia ser pai”, comenta orgulhoso do amigo.

Quem também sempre apoiou Formiga em suas aventuras foi o skatista, surfista, wakeboarder e contador Rogério “Lalau” Rodrigues, de 48 anos. Lalau, é dono da CS Team (Contábil Sumaré Team) e foi um dos primeiros a realizar um backflip  (uma cambalhota em pleno ar com retorno de pé) em Valle Nevado, em 2001.

O professor e pesquisador de esportes de prancha Flávio Ascânio, de 49 anos e 14 títulos no snowboard, sendo quatro de ouro, seis de prata e quatro de bronze, que pratica desde 1995, considera os esportes de neve muito caros para o padrão brasileiro. “Hospedagem, transporte e locação de equipamentos custam ao menos US$ 5 mil (cerca de R$ 12 mil), o que para mim não é barato”, avalia. Ele explica que o treinamento para locais onde não tem neve inclui trampolins, colchões de ar, pranchas de equilíbrio, sandboard e até skate.

Mas mesmo sendo na neve, pode machucar e até ser fatal. “Acredito que os maiores riscos estão nas quedas e choques por causa da alta velocidade, desacelerações repentinas, isso sem falar nos desafios do próprio ambiente como a altitude, avalanches, pedras, árvores, tempestades, frio intenso e até ficar perdido abaixo de zero”, alerta.