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Livre de rifas e vaquinhas, filho de Bernard volta a Mundial de longboard

Guilherme Costa

Do UOL, em São Paulo

18/10/2013 06h00

O tempo de vaquinhas e rifas ficou para trás. É isso que o surfista Phil Rajzman pretende mostrar em novembro deste ano, quando disputará na China o Mundial de longboard da ASP (Associação dos Surfistas Profissionais). Campeão da mesma competição em 2007, o brasileiro viveu nas últimas temporadas um momento financeiro conturbado. Ele chegou a pedir ajuda a amigos e fãs para bancar a participação em competições.

“Acho que isso deu uma abalada no aspecto esportivo. Estava preocupado com outras questões e com as contas no fim do mês. O foco não estava 100% no surfe, e isso influencia”, relatou o atleta ao UOL Esporte.

Rajzman, 31, é filho da patinadora Michele Wollens e do ex-jogador de vôlei Bernard, integrante da geração que conquistou medalha de prata com a seleção brasileira nos Jogos Olímpicos de Los Angeles-1984. O início dele no surfe, aliás, tem ligação direta com a família.

“Comecei a competir com oito anos de idade, mas meu primeiro contato com o esporte foi bem mais novo. Tinha três para quatro anos quando meu pai foi entregar a premiação de uma competição de bodyboard em Ipanema, no Rio de Janeiro. Eu era fissurado por mar, vivia dentro da água. Eu ganhei a prancha de uma atleta naquele dia, e aí comecei a brincar”, relatou Rajzman.

Aos sete anos de idade, Phil Rajzman foi convidado a integrar a primeira escola de surfe do Brasil. E aos 14, depois de várias competições com pranchas regulares, ele disputou um evento com longboards.

“Comecei a competir de pranchinha e de longboard. Aos 16 anos, participei do circuito mundial no Havaí. Dois anos depois, comecei a focar minha carreira mais no longboard”, disse o surfista.

O curioso é que a família de atletas não serviu apenas como incentivo para Phil no esporte. Como os pais treinavam no Flamengo e ele tinha acesso fácil ao clube, o surfista também passou por modalidades como basquete, futebol, polo aquático, equitação e vôlei, segmento em que o passado jogou contra.

“Meu pai sempre disse que gostaria que eu praticasse um esporte olímpico, mas nunca me colocou diretamente para ser jogador de vôlei. Ele tinha sido um ícone, e eu teria de superar. Seria muito difícil conquistar espaço. Eu não sabia nem jogar direito ainda, mas a galera ia assistir ao filho do Bernard no Flamengo. De alguma forma, isso me afastou”, contou Phil.

Entre os outros esportes, o surfe ganhou, segundo Phil, pela possibilidade de um contato com a natureza: “O diferencial é a sensação de bem estar que isso provoca. Se eu tinha uma questão psicológica ou um problema, o mar era minha terapia. Eu saía dali com outra visão sobre as coisas”.

Depois de vitórias em etapas do circuito mundial, o primeiro resultado de grande expressão de Phil Rajzman no longboard foi registrado em 2003, quando ele ganhou o primeiro Mundial. Ele voltou a ser campeão da modalidade em 2004 e 2007.

Em vez de mudar para melhor a condição do surfista, porém, o terceiro título mundial deflagrou a crise. Rajzman perdeu um patrocínio logo depois de ser campeão em 2007, e aí precisou começar a buscar meios de sobreviver.

Uma das ideias foi dar ênfase a uma empresa de eventos que o surfista já tinha iniciado anteriormente. Hoje, ele é responsável pela produção do festival Sunset Culture e do circuito de MMA (artes marciais mistas) Jungle Fight.

“Vivemos uma crise no surfe brasileiro. A verdade é que o surfe e o estilo de vida vendem muito. O que mais você vê em shoppings é loja com prancha e camisa estampada, mas o dinheiro que entra pelo surfe não volta para o surfe. Nós até temos atletas em eventos grandes, mas você olha para quem banca a conta e vê que é o governo que patrocina esses nomes. Eu perdi um patrocínio depois do Mundial de 2007, e depois disso venho lutando para continuar nas competições”, contou Rajzman.

A luta incluiu vários pedidos de ajuda. Phil Rajzman chegou a organizar rifas entre os fãs em redes sociais e pediu auxílio financeiro a amigos. Foi essa a base, por exemplo, para que ele conseguisse disputar o Mundial da China no ano passado. A viagem custou algo próximo de R$ 10 mil.

No início deste ano, Phil Rajzman conseguiu um patrocínio da Frooty Açaí. A marca acompanhou o brasileiro no Mundial da entidade ISA, em setembro, no Peru, no qual ele ficou com a terceira posição.

“Estou um pouco mais tranquilo agora”, admitiu Rajzman. “Vou para a China para disputar o título”, completou o surfista.

Apesar de ter pais que são atletas e amam esportes, Phil disse que nunca dividiu o mar com nenhum deles: “Meu pai conta que surfava com madeirites, mas eu acho que é mentira. Ele sempre preferiu ficar na praia jogando vôlei”. No entanto, o longboarder não desistiu de pegar ondas em família. “Eu tenho uma filha de seis anos, a Rafaela, que está começando a ir pelo mesmo caminho. A primeira coisa que ela quer é surfar”, finalizou.