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Irmão diz que skatista que forjou doença tentou suicídio e "culpa" Google

Zacarias Gondim usou máscara em posts em redes sociais para falar sobre leucemia - Reprodução / Facebook
Zacarias Gondim usou máscara em posts em redes sociais para falar sobre leucemia Imagem: Reprodução / Facebook

Guilherme Costa e Vanderlei Lima

Do UOL, em São Paulo

22/02/2015 06h00

Máscara cirúrgica, fala pausada e um discurso emocionado. Foi assim, em vídeos publicados em redes sociais, que o skatista Zacarias Gondim Lins, 20, anunciou no início de fevereiro o término precoce de sua carreira e revelou que estava com leucemia. Foi assim que o piauiense virou mote para campanhas de arrecadação de dinheiro e levantou pelo menos R$ 25 mil em doações. Foi assim também que ele virou caso de polícia: Zacarias nunca teve leucemia, apresentou na internet um laudo forjado e acabou detido pela Polícia Civil no último sábado (21) – após prestar depoimento, o skatista foi liberado.

O drama de Zacarias, contudo, é ainda maior. Segundo Emanuel Castelo Branco, 25, irmão do skatista por parte de mãe, ele tentou suicídio em maio de 2014 e deve grande parte do problema ao mecanismo de busca Google.

Numa das publicações em redes sociais, Zacarias fala que ficou muito abalado com a morte da mãe (no dia 11 de dezembro de 2013). “Ele era muito apegado a ela e tentou suicício no dia 6 de maio, quando ela faria 52 anos se estivesse viva. Ele tentou veneno de rato e antidepressivos”, relatou Emanuel em conversa exclusiva com o UOL Esporte.

Em novembro de 2014, Zacarias foi ao hospital por causa de um mal-estar. Um médico solicitou exame de sangue, e a avaliação mostrou índice muito baixo de plaquetas. Como a imunidade estava em nível crítico, uma médica disse que havia suspeita de leucemia.

“Ele chegou a fazer três exames de sangue, e tudo indicava para esse rumo. Ele procurou o banco de sangue de Teresina, e a médica pediu um exame chamado mielograma, que é feito para saber se realmente ele tinha um problema como leucemia”, disse Emanuel. “Ele entrou no Google, pesquisou os sintomas e viu que o que ele tinha se encaixava perfeitamente. Aí fez um vídeo dizendo que tinha leucemia, e a história se tornou uma bomba: foram doações de todos os lados, de empresários a pessoas humildes”, completou.

A conta do skatista no Banco do Brasil chegou a ter R$ 23 mil em doações. Outras pessoas também criaram contas para acumular dinheiro para o skatista – segundio o texto da campanha, ele precisava de R$ 9 mil para um tratamento que só poderia ser realizado em São Paulo. “Não houve fraude ou má fé. Ele não quis tirar vantagem ou levar dinheiro”, defendeu Emanuel.

Quando a campanha já tomava grandes proporções, Zacarias descobriu que não tinha leucemia. Aí, segundo o irmão, o skatista usou novamente a internet para encontrar um modelo e falsificar um exame dizendo que ele estava realmente doente.

“Existe, sim, a fraude do documento público. Meu irmão está ciente disso, sabe que é errado e vai responder por isso. Ele postou um documento falso e não nega isso. Ele não tem leucemia, mas ficou com medo de retaliações e linchamento”, admitiu o irmão.

A fraude de Zacarias foi descoberta porque uma médica reconheceu o próprio nome em um laudo que ela nunca havia feito, com assinatura e CRM que não eram dela. “As investigações levaram a outros documentos falsificados”, disse Riedel Batista, delegado-geral do Piauí.

Zacarias é acusado de estelionato, falsidade ideológica e falsificação de documento público. No sábado, antes de ser detido, ele deu entrada no HUT (Hospital de Urgência de Teresina) porque estava com fortes dores de cabeça.

“Agora é aguardar a investigação. Tem muita coisa a ser esclarecida. Nós temos andado escondidos – não podemos usar serviços públicos como ônibus ou hospitais porque temos medo de a qualquer momento ser vítima de linchamento”, encerrou o irmão do skatista.