Se alguém brigar com você, você revida. Se alguém te xingar, você revida. Almir Pernambuquinho era assim. O jogador ganhou fama, no Brasil e no exterior, pelo talento com a bola nos pés, mas também por ser daqueles que não levava desaforo (e nem pontapé) pra casa. A personalidade era tão forte quanto era grande sua habilidade com a bola. E ele não negava.
"Eu fui um marginal do futebol", dizia o atacante sem remorso, antes de explicar: "Joguei como profissional durante 11 anos no Brasil, na Argentina, na Itália. Aqui no Brasil e na Argentina, uma legenda me acompanhou: a de violento. Mas fiz muitos gols, construí jogadas para muitos artilheiros, ajudei alguns clubes a conquistar títulos — Vasco, Santos, Flamengo. Porém, só fui amado pelas torcidas dos clubes onde joguei. Para as torcidas adversárias e para uma parte da crônica esportiva, eu era apenas isso: um marginal". A declaração foi publicada em uma série de reportagens sobre Almir feita pela Revista Placar.
Revelado pelo Sport, teve ainda no currículo Corinthians, Boca Juniors, Genoa, Fiorentina e América-RJ. O auge da carreira foi em 1963, quando assumiu a responsabilidade de vestir a camisa 10 de Pelé, que estava machucado, e ajudou a dar o título mundial ao Santos contra o Milan. Mas a raça em campo muitas vezes transbordou os limites permitidos e virou confusão, como em 1966, Flamengo 0 x 3 Bangu, o jogo que não acabou por causa de uma briga generalizada.
Por trás do homem de sangue quente, também havia um cara divertido e de bom coração que ajudava jogadores necessitados e aconselhava-os a fechar bons contratos. Tudo na sala de casa.
A boemia e o estilo de vida desregrado o levaram a encerrar a carreira cedo, aos 31 anos e já acima do peso. A partir dali, queria curtir a vida tranquila no Rio de Janeiro, cidade que o acolheu quando veio da terra natal, Recife, em 1957. Gostava da praia, do sol, do jeito descontraído do carioca. Foi na cidade que tanto amou que perderia a vida de forma trágica e cedo demais, aos 35 anos, ao levar um tiro em uma briga de bar. Nessa briga desleal, Almir Pernambuquinho não teve tempo de revidar.