Jackelyne foi levada à UPA "26 de agosto" pela primeira vez em 10 de janeiro de 2019. A queixa era de dores na região lombar. Foi ali, também, que Jack morreu após quatro paradas cardíacas.
Os depoimentos a seguir são dos pais de Jackelyne, Marco Antonio Gomes da Silva e Graciele Soares da Silva, que também foram ouvidos pela polícia em duas ocasiões. Eles relatam o desespero na busca por atendimento para a filha, que piorava a cada dia. Ao longo dos seis dias de agonia, Jack deixou de andar, não conseguia mais se alimentar sozinha e gritava de dor.
Graciele
"No dia 10, ela levantou de um colchão onde estávamos e teve um mal súbito. Na queda, bateu a cabeça e a lombar e, logo em seguida, teve uma convulsão. Demos uma fruta a ela para ver se melhorava, mas ficou muito sonolenta e teve outra convulsão. Chamamos um Uber e fomos para a UPA imediatamente.
Lá, ela tomou soro, remédio para dor e mesmo falando que ela tinha caído e teve convulsão, bateu a cabeça, não pediram exames. Liberaram para ir embora depois da medicação.
No dia 11, ela não reclamou muito de dor, mas no dia 12 voltamos para a UPA e para o hospital Planalto. Foi a mesma coisa. Chegava, falava o que aconteceu e cada médico dava mais remédio e mandava embora. Sem exame de sangue, sem raio-X, sem nada. Jack já não conseguia andar sozinha, só de cadeira de rodas e com ajuda.
O dia 14 foi o pior na UPA. Eu peguei a pior médica que tinha naquele lugar. Uma doutora. Minha filha chegou aos berros, não aguentava de dor. A médica gritou com ela:
Cala boca, senão vou te tirar da sala e não vou te atender. Seu caso não é de médico, é de psiquiatra. Só louco para estar gritando assim, você não está com dor para isso tudo'.
Ela não levantou da cadeira para examinar minha filha, não encostou nela. Ela receitou duas injeções de [ansiolítico] Diazepam. Eu falei para fazer exame, mas nada. Nem para botar o aparelhinho para escutar os batimentos dela."
Marco:
"Eu trabalho, mas estava de folga no dia 15. Fui eu quem ficou com ela o dia todo no hospital. Chegamos antes das 11h e ficamos lá no Planalto até mais de 19h. Fizeram uma tomografia e o resultado foi uma lesão no cóccix. Ela passou pelo ortopedista. A pressão dela também estava baixa, mas não fizeram mais nada. Teve um momento que eu fiquei uma hora e meia esperando atendimento e não tinha ninguém, nem paciente e nem quem pudesse atender a minha filha. Ela me pediu um abraço, não conseguia mais mexer as mãos. Fiquei com medo de machucar, porque estava com muita dor. Pedi que ela tivesse calma, porque não era possível que ninguém iria resolver isso.
Ela estava se despedindo de mim. Ela pediu para irmos embora, porque não iam nos atender e ela sentia muito cansaço. Voltamos para casa. No outro dia eu iria pedir dispensa do trabalho para poder levá-la de novo para o hospital. Não deu tempo. Eu não consegui achar o meu supervisor para pedir dispensa. Quando voltei foi para ver minha filha morta."
Graciele:
"Dia 16 ela acordou cedo e chamou minha filha mais nova. Ela se despediu e passou a senha do celular. Ela sabia que estava indo embora. Ela me pediu para ir ao banheiro, mas não conseguiu fazer nada. Dei um banho nela e ela teve outra convulsão. Saímos às pressas, com a ajuda de um vizinho. Ela ainda respirava, mas muito fraquinho. Chegamos na UPA e levaram ela para dentro. Fiquei esperando, uma agonia. Só contaram que minha filha estava morta quando meu esposo chegou.