Há muitas maneiras de se mensurar a importância histórica de um personagem, mas a mais comum é avaliar seus feitos. Na história de um clube de futebol, títulos têm o maior peso nessa análise, mas não são a única medida. Isso vale, em especial, para os técnicos.
Há os que são grandes pelo tempo de clube. Outros, por marcas atingidas, identificação com o espírito da torcida ou pelo modo de se pensar futebol, por algo revolucionário, que dá ao time, por aquele momento de parceria, uma qualidade de encantamento.
Abel Fernando Moreira Ferreira, 43, português da pequena Penafiel, preenche todos os quesitos. Vivendo sua terceira temporada no Palmeiras, com um ano e meio de clube, ele já é o treinador que mais comandou o time no Allianz Parque desde o batismo do estádio. Poucas vezes um comandante soube assimilar tão bem a essência do palmeirense. O descontrole, o grito, a desconfiança, as manias e superstições. A paixão.
Cunhou o lema "Todos somos um". Fez do "Avanti, Palestra!" um mantra que denota, inclusive, uma reverência à história verde. Transformou o gesto com os dedos nas têmporas, pedindo para os jogadores terem "a mente fria", sem perder o "coração quente", em uma liturgia no campo e nas arquibancadas.
Os títulos? Nenhum outro técnico do Palmeiras conquistou duas Libertadores. Apenas cinco outros, antes de Abel, haviam levantado dois troféus na mesma temporada - só um deles, Luxemburgo, no ano de estreia.
Neste contexto, o português chega à sua primeira final de Mundial de Clubes. Perder ou ganhar do Chelsea (ING) altera algo do que foi listado acima? Alguma coisa ainda é necessária para ratificar Abel? Com ou sem o troféu, o técnico já não deixa mais o panteão e o coração alviverdes. Mas se o tão sonhado Mundial vier, a dúvida quanto a ele ser o maior técnico da história palmeirense será cada vez mais rara na torcida que canta, vibra e ama Abel Ferreira.