Alison gostou quando alguém deu a ele o apelido de 'Gelado'. Não só pela semelhança com o super-herói d'Os Incríveis, mas pela personalidade. Piu é gelado porque não se abala por nada que acontece em volta. Como se os olhos só estivessem abertos para ele não tropeçar. O mundo está dentro da própria cabeça e isso basta.
Só que em Paris não foi assim.
Ele correu mal nas eliminatórias e admitiu que olhou no telão e errou: não viu outros rivais mais rápidos. Nas semifinais, a apreensão era clara em seu rosto após terminar em terceiro lugar. Mostrava que até ele sabia que o risco de eliminação era real. Até os rivais perceberam. "Não está na melhor forma", disse o francês Clement Ducos.
Quando Piu chegou à zona de imprensa assustado, quem estava ali era um ser humano de coração quente que, pela primeira vez, deixava à mostra um lado que só os mais próximos conheciam. No maior palco do esporte, o enorme coração do velocista precisou ser esfriado. "A sua prova está na sua cabeça e na sua perna", ouviu do treinador, Felipe Siqueira.
Piu ouviu. Terminou a final dos 400m com barreiras em terceiro lugar, repetindo Tóquio, e se colocando ao lado das lendas do atletismo brasileiro. Mais uma medalha para o principal nome das pistas brasileiras atualmente.
Eu tive uma conversa com o Felipe depois da semi, uma conversa bem leve, sem pressão, como um pai e filho mesmo. E precisava apenas ser eu, reconectar comigo mesmo, chegar na pista e ter aquele sorriso, ser aquela pessoa que sempre fui, não deixar a pressão de fora influenciar quem eu sou.
Alison dos Santos