O homem de dentro

Américo Faria conta bastidores de 20 anos da seleção brasileira -- incluindo um relato da convulsão de Ronaldo

Bernardo Gentile e Vanderlei Lima Do UOL, no Rio de Janeiro Zo Guimaraes/UOL

Um dos períodos mais vitoriosos da seleção brasileira se confunde com a trajetória de Américo Faria, o homem por de trás da cortina. Ao todo foram seis Copas do Mundo entre 1986 e 2006. 20 anos que renderam dois títulos mundiais e um polêmico vice-campeonato, uma bagagem gigantesca e muitas histórias para contar.

Ao longo desse período, viu meninos virarem grandes jogadores, alguns até mesmo se tornaram melhores do mundo. "Eu acompanhei jogadores brasileiros antes de serem escolhidos melhor do mundo e depois que foram escolhidos melhor do mundo. Muda o comportamento", diz Américo. E muda por quê?

"Porque parece que vira Deus. Independentemente do que ele representa, a relação dos outros para com ele é uma relação de Deus, de semideus, e é muito difícil por ser humano lidar com isso. Você tem que ter uma preparação, você tem que ter um anjo da guarda o tempo todo".

Nem tão conhecido pelo grande público, mas muito respeitado por quem entende dos bastidores do futebol, Américo Faria aproveitou a longa entrevista para abrir o jogo. "Tem algumas coisas que eu falei aqui que eu nunca falei antes, sobretudo sobre terceiros".

"Sempre me reservei porque nunca sabia, também, como as pessoas que pudessem estar envolvidas iam se sentir. Nunca quis mal a ninguém".

Zo Guimaraes/UOL

Receita de sucesso

Após anos de experiência, Américo diz saber a receita do sucesso. Ou melhor: a receita do insucesso, aquele em que se sabe exatamente o que leva alguém à derrota. Segundo o ex-coordenador técnico da seleção brasileira, o tempo com a camisa amarela mostrou que a vitória só acontece quando há um desejo coletivo no mesmo objetivo.

As vontades individuais devem ficar em segundo plano e, se isso não ocorrer, é o primeiro passado para a vitória não vir. Os exemplos não faltam. E até mesmo Pelé é citado.

"Na seleção brasileira, durante esse período, que foram dez anos, interrompidos por três anos, depois mais dez anos, existia uma rotina. Existia uma situação que cada um já sabia o que tinha que fazer. O que é mais importante na seleção, quando eu digo que eu não sei como é que se ganha, mas eu sei como é que se perde, é que a estrela é a seleção. Nós tivemos Pelé, tivemos Tostão, tivemos Rivellino. Era a seleção que era a estrela, e, por isso, ganhamos. Quando você acha: 'Tem que ser esse aqui e mais dez' não vai chegar a lugar nenhum. Eu estou falando isso baseado na experiência dos grupos que eu convivi de seleção".

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Reuters

A convulsão de Ronaldo em 1998

"Isso poderia até virar um filme. De fato, o Ronaldo teve uma convulsão. Pronto, acabou. Agora, o problema foi o desenrolar disso...

Eu tenho o minuto a minuto do que foi acontecendo.

Às 15h, 16h, ele estava lá, deitado, dormindo. Foi aí que aconteceu o problema. O jogador teve uma convulsão, mas o era só às 20h. O que fazer?

Decidimos que o doutor Joaquim da Mata iria com o Ronaldo. O jogador saiu da concentração com o médico e um segurança, foi para clínica fazer exame. Ninguém viu, ninguém soube. Não teve nenhum furo, o que deixa algumas pessoas com raiva até hoje.

Decidiu-se que ele estava fora do jogo, acabou. Mas acho que, talvez, a rapidez nas providências tenha acarretado uma série de outros problemas que poderiam ter sido evitados. O problema foi que deu tempo de ir à clínica, fazer os exames e voltar. Tudo antes do jogo. E os resultados dos exames, que o jogador não queria fazer, mostraram que não tinha nenhum problema.Quando você fala em convulsão, já fica uma situação muito grave. É um quadro muito desgastante para os companheiros também. Aos jogadores chegou a informação que não ia jogar. O Zagallo faz a preleção com o Edmundo. Fomos pro estádio, clima de velório no ônibus. Normalmente, o pessoal vai batucando. Chegamos no estádio, temos acesso ao vestiário, ninguém sabia daquilo que tinha ocorrido. Imprensa não tinha acesso ao vestiário.

Lutz Bongarts/Bongarts/Getty Images

Do lado da sala do vestiário tem a sala de aquecimento. Faltavam 45 minutos e a gente tem que fazer a relação de quem vai iniciar jogando. O Zagallo chegou pra mim e disse: "Américo, eu não queria que a França soubesse que o Ronaldo está fora". Eu disse tudo bem. Vou colocar como se estivesse no banco.

Acontece o seguinte: ele saiu da clínica e poderia ter tomado alguma medicação. E somos obrigados a colocar uma relação de todos os medicamentos que os jogadores tomaram. Liguei para o Joaquim da Mata: "Só quero saber o seguinte: ele tomou algum remédio aí?". Ele respondeu: "Não, não tomou nada, não".

45 minutos antes, a relação é entregue para a Fifa. A Fifa divulga e, depois, trocamos as escalações. Meia hora antes da partida, os jogadores estão vindo para o aquecimento e o Ronaldo chega. Ele já estava com a camisa dele, o calção, porque quando o pessoal da rouparia saiu, não sabiam o que tinha acontecido. Então, estava lá o uniforme dele.

Ele foi direto se trocar: "Quero jogar, quero jogar". E ficou aquilo. O Lídio Toledo, o médico principal da delegação, coitado, não teve como dizer "acho que você não deve". O jogador dizia: "Olha, eu não queria fazer o exame, fui fazer exame. Doutor, deu algum problema nos exames que eu fiz?". "Não". "Zagallo, eu quero jogar".Olha a decisão do Zagallo... O Zagallo disse: " Você quer jogar? Então você vai jogar". Aí, eu falei: "Zagallo, vai lá falar com o Edmundo, que eu vou avisar a Fifa".

Michael Steele - EMPICS/PA Images via Getty Images

Foi isso que ocorreu.

Qual foi o detalhe que o Zagallo não pensou, que depois eu conversei com ele? A reação dos outros jogadores em relação ao Ronaldo. Para eles, era um jogador que tinha tido uma convulsão e ia jogar. Você diz assim: "O médico não podia proibir?". Quando um jogador diz que quer jogar, o médico tem autoridade para dizer que não vai jogar? Você imagina isso numa final de Copa do Mundo. Alguém tem que decidir e o Zagallo decidiu.

O jogador disse: "Eu vim aqui pra isso". Imagina só: o melhor jogador do mundo está ali e quer jogar a final e você diz que não vai jogar. Para convencê-lo a fazer o exame já tinha sido difícil. Ele não se lembrava de nada do que tinha acontecido com ele.

Isso nunca foi dito, nunca foi relatado da forma que eu estou relatando, agora. Teria mais um detalhe, ou outro, mas, basicamente, foi isso aí."

Assista à entrevista de Américo Faria

2002: Igualdade

A seleção brasileira é local onde se reúnem os melhores jogadores do país e, talvez, do mundo. Lidar com os egos é uma das principais atividades de quem tem cargo na CBF (Confederação Brasileira de futebol). Com Américo Faria não foi diferente. Uma de suas primeiras lições é que todos devem ser tratados de maneira igual. Sejam eles os principais jogadores ou jovens em suas primeiras convocações.

"O aprendizado que eu tive em 90, e que, depois, eu utilizei nas Copas posteriores, foi muito importante. Em 90, 'vamos dar ingressos pros jogadores'. Aí, deram ingressos. Resolveu quantos ingressos seriam dados, foram dados os ingressos, a quantidade estipulada para cada um e o que aconteceu? No pós-jogo, veio a reclamação: 'Poxa, por que os familiares de fulano estavam com ingresso mais centralizado e eu estava com ingresso mais lateralizado?'. É o tipo de coisa que você não precisa", lembrou.

O aprendizado foi importante em 2002, durante a campanha vitoriosa da Copa de 2002. "Depois do jantar, falei com o treinador: 'Felipão, tem alguma coisa errada. Você está preocupado com a tua família. Todos os jogadores estão preocupados com as famílias'. Imagina, de repente, chegam ao Japão 200 pessoas. A atenção começa a ser dispersa. Eu digo: 'Eu estou preocupado com os meus filhos. Como é que eles estão? Como é que eles não estão? Então, todo mundo deve estar'". Américo conta que Felipão parou a resenha pós-jantar e colocou ordem na coisa.

Para não deixar qualquer dúvida, o ex-coordenador deixa clara a forma como conduzia a seleção brasileira nos bastidores. "Chegava um jogador em primeira convocação. O tratamento, a maneira de se comportar era a mesma. Não tinha essa de 'tenho 50, tenho 100 convocações'. É por aí que você vai construindo um ambiente pra ganhar, pra ser vitorioso".

Ryan Pierse - FIFA/FIFA via Getty Images Ryan Pierse - FIFA/FIFA via Getty Images

2010: excesso de confiança

O último trabalho de Américo Faria pela seleção brasileira ocorreu em 2010. Com Dunga no comando dos atletas, o Brasil fez boa campanha até chegar às quartas de final. Os primeiros 45min contra a Holanda foram impecáveis — os melhores na competição. Após um baile em campo, os brasileiros entraram no vestiário para descansar e voltar ao segundo tempo.

Presente, Américo Faria não gostou nem um pouco do que encontrou. Até pelo bom desempenho, havia um clima de confiança muito grande. Algo que passou do limite que ele considerava saudável para a equipe.

"Foi o último jogo que eu tive pela seleção brasileira: Brasil x Holanda, em 2010. Eu procuro observar muito pra poder atuar em cima. Eu não gostei do ambiente no intervalo. Porque o Brasil foi muito bem contra a Holanda no primeiro tempo. O jogo só termina com o apito do juiz. O ambiente não estava legal. Talvez um excesso de confiança. Tomamos um gol. Um empate, vamos pro jogo. Mas parecia que a gente tinha perdido naquele momento. Então, aprendi com isso aí que você cuidar do aspecto emocional é deveras importante".

REUTERS/Kai Pfaffenbach

Dunga x imprensa

A primeira passagem de Dunga pela seleção foi bastante polêmica. É preciso recordar que o ex-jogador foi escolhido após os problemas de 2006, na Copa da Alemanha. O objetivo era acabar com o clima de oba-oba simbolizado pelo período de treinamento na cidade de Weggis, na Suíça. O treinador limitou o acesso de players importantes do mercado, como a TV Globo.

No período, aconteceu intensa troca de farpas entre Dunga e os jornalistas de maneira geral. Mesmo com bons resultados, as polêmicas não cessavam. Américo Faria, então, deu um conselho ao profissional.

"Uma vez, eu e o Jorginho [auxiliar] conversando com o Dunga. A seleção estava bem, foi primeiro lugar nas eliminatórias, ganhou a Copa das Confederações e a Copa América. Eu disse: 'Dunga, não briga tanto com a imprensa. Se você tiver que sair, saia por ter um mau resultado, mas não porque está brigando com a imprensa'. Cada um tem o seu estilo, tem a sua personalidade", disse.

"Evidente que nós não queremos tirar a personalidade dele, mas, pelo menos, a gente sabia que era um profissional que estava obtendo resultados, portanto, competente no seu trabalho, e que a qualquer momento podia sair porque ou ia se indispor de uma maneira lá qualquer e ele mesmo iria querer sair ou ia ter um clima que propiciasse a saída dele. Nós, vendo um profissional que estava sendo competente no seu trabalho, gostaríamos que isso não acontecesse. A obrigação era falar pra ele. E nós falamos", completou.

Como Dunga reagiu a esse pedido de Américo Faria? "Personalidade. Estilo é difícil você modificar. Melhorou, melhorou muito a questão do relacionamento, mas é difícil, sobretudo se do outro lado você tem especificamente uma perseguição com relação àquele profissional. Acontece isso também. Você se defende atacando. Não é fácil, não. Você tem família, você tem uma formação, você tem o seu caráter. Na guerra, vale tudo. Pra tirar ou botar treinador, então, nossa mãe..."

Para o ex-coordenador técnico da seleção brasileira, não havia santo. Algumas determinações foram tomadas pela CBF com a anuência de Dunga. Jornalistas não gostaram e provocaram. O treinador não se segurava. "Eu acho que ele tem uma personalidade forte, de não aceitar determinadas coisas, mas que ele foi muito provocado, foi. E ele respondia a provocação".

Cortes dolorosos

Getty Images

Mozer (1994)

O primeiro ocorreu com Mozer, em 1994 -- o zagueiro já tinha sido cortado da Copa de 86. Ele tinha um quadro de hepatite e foi dispensado. "Eu tinha sido treinador dele no Flamengo. Vinha de um processo medicamentoso e teria que parar de tomar remédio pra poder treinar. Não podia fazer esforço em plena preparação pra uma Copa do Mundo. Lamentavelmente, nós tivemos que cortá-lo. Foi um corte muito doloroso".

David Cannon/Allsport

Ricardo Gomes (1994)

No mesmo ano, meses depois, foi a vez de Ricardo Gomes ser cortado da Copa de 1994. Outro zagueiro, ele perdeu o lugar por uma lesão muscular sofrida já nos EUA, onde seguiu até o fim da competição mesmo sem poder entrar em campo. "Outro corte bastante doloroso também, pois tinha sido meu jogador no Fluminense. Coincidência também, são duas pessoas (Gomes e Mozer) que eu tenho grande amizade, até hoje".

Jorge Araújo/Folha Imagem

Romário (1998)

"Zagallo chegou pro doutor Lídio e perguntou: 'E o Romário?'. 'É uma contusão grau x. Se não der pro primeiro jogo, vai dar pros demais'. Dias depois, o fisioterapeuta ligou: 'O Romário não tá podendo botar nem o pé no chão'. A contusão tinha aumentado e não havia nova previsão. A realidade foi essa: teve que tomar uma atitude e tomou. O Romário ficou chateado com o Zagallo, que o queria. Se o Romário não tivesse falado nada, passava o prazo e não tinha mais como substituir".

Juca Varella/Folhapress

Emerson (2002)

"Talvez indiretamente, eu tenha sido o responsável pelo que aconteceu com o Emerson. Eu falei pro Felipão: 'Se, por acaso, você tiver feito as substituições, quem vai pro gol?'. Ele falou: 'Quem vai é o Emerson'. No treino da véspera, colocou o Emerson e, no final do treino, aconteceu isso aí [o volante lesionou o ombro ao fazer uma defesa]. Se eu não tivesse falado nada, talvez, não tivesse acontecido. São situações que você tem que tomar uma decisão".

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Zo Guimaraes/UOL

Seleção hoje: Jesus ou Tite?

Após a eliminação da Copa do Mundo, diante da Bélgica, Tite passou a ter o trabalho questionado por parte de torcida e imprensa. Mais alguns tropeços em amistosos e alguns já cogitam a troca de treinador. Ainda mais com o sucesso de Jorge Jesus no Flamengo, apontado por muitos como um possível sucessor. Américo Faria não é um deles.

"Tem espaço pra todo mundo. Vamos supor: se o Jorge Jesus viesse pro Vasco, pro Botafogo, acho que ia ter alguma diferença. O Otto Glória falava que você não faz omelete sem ovos. É um treinador que tá se mostrando positivo, um treinador preparado, mas que teve elenco, teve jogadores pra fazer com que esse preparo, essa experiência, pudesse evoluir dentro de campo".

"Eu sou totalmente favorável a que se dê chance a cada um. Cada um vai mostrar o seu trabalho. Agora, vai mostrar o trabalho de acordo com aquilo que tem. Dizer que o Brasil não tem atletas à altura, não iria tão longe. Mas tem que ter atletas que estejam imbuídos de seleção brasileira, achando, antes de qualquer coisa, que a estrela é a seleção. A partir daí, aqueles que os recebem pra trabalhar vão poder executar um bom trabalho", completou.

Américo Faria não fala com todas as letras, mas sugere que a forma de Jesus trabalhar, com bastante cobrança, poderia encontrar certo tipo de resistência com alguns jogadores da seleção. "O treinador tem que ser, realmente, um bom gestor porque ele tem que conversar olho no olho com o atleta. Olho no olho pra ter convicção, ter certeza de que, realmente, ele tá com ele. Vamos ganhar juntos, vamos perder juntos. Se não acontecer isso, não tá legal", afirmou.

E é justamente nesse sentido que Américo Faria entende que Tite ainda tem bastante lenha para queimar com a seleção brasileira. "Tite foi um treinador, realmente, que se preparou pra ser treinador da seleção brasileira. Trabalho de seleção é diferente, completamente, do trabalho de treinador de clube. No clube, é muito mais fácil. Você tem o jogador todo o dia, ali, pra você fazer, pra dar uma sequência. Na seleção, pra você formar um time, tem que criar um consenso não só pra você, mas também pra ter um ambiente positivo. Aí, passam dois meses até outra convocação. Não é fácil".

A única mudança que o ex-coordenador faria seria colocar alguém acima de Tite que assumisse problemas de bastidores para que o treinador não acumulasse funções. Alguém que o blindasse. "Treinador precisa de ajuda para lidar com os problemas numa Copa do Mundo. Os componentes da comissão técnica têm que aliviar o treinador. Volto a te dizer, na seleção brasileira a cabeça do treinador é um trevo. O treinador é a figura mais solitária que tem numa Copa do Mundo. Não é fácil".

Jogadores são muito pouco cobrados no Brasil

Está tendo muito pouca cobrança no futebol brasileiro. Muita pouca cobrança. O treinador que está se está elogiando, no Brasil, é o do Flamengo. A primeira coisa que ele faz é cobrar os jogadores. Eu não sei em que momento nós paramos de cobrar do atleta. 'Não pode chamar a atenção, porque tá a imprensa ali'. Não, não. É obrigação chamar a atenção pra corrigir os detalhes

Américo Faria

Faz parte da profissão. O treinador que ganha a confiança do jogador pode exigir, pode cobrar. Se você comparar o jogador brasileiro trabalhando no Brasil com quem trabalha no exterior, ele vai sentir que o senso de profissionalismo lá no exterior, por causa da cobrança, é maior. Por que a gente não pode fazer isso, aqui? Em que momento nós paramos de cobrar do jogador?

Américo Faria

Carência de ídolos no Brasil

Além de apressar a formação de atletas, as vendas para o exterior em larga escala mudaram também o cenário do futebol brasileiro, que quase não tem mais ídolos de quilate jogando nos times locais. "Eles vêm aqui comprando jogador a preço de banana. Quanto idade mais baixa eles levarem, mais barato ficava, tanto que a Fifa até fez uma legislação, tentou minorar isso, mas, infelizmente, ainda não conseguiu a contento. Os jogadores continuam a sair sem estarem, ainda, maduros".

Segundo Américo Faria, isso criou um dos grandes problemas do futebol brasileiro atual. "A torcida vai a campo pra ver o ídolo. A formação de ídolo foi-se. Nisso aí, você não forma mais ídolo. Não tendo ídolo, a torcida não vai a campo".

"Agora, o Flamengo, nesses últimos tempos, tá modificando um pouco isso, mas uma andorinha só não faz verão, teriam que ser mais. Até um certo ponto, eu acho que isso não é bom, porque vai criar uma distância muito grande. Futebol é competição. Se não surgirem duas, três, quatro forças urgentes, na minha opinião, não vai ser bom pro futebol brasileiro por causa dessa disparidade de recursos e disparidade de elenco".

Zo Guimaraes/UOL Zo Guimaraes/UOL

Head-coach?

Apesar do vasto tempo dedicado ao futebol, Américo não trabalha ativamente desde 2014, quando deixou o comando do Boavista. Mas, aos 75 anos, ainda não está aposentado.

Américo Faria entende que há um cargo que se encaixa perfeitamente para seu perfil: head coach. Justamente o que Jorge Jesus faz no Flamengo e que é comum em outros importantes polos do futebol.

"Na Europa, você tem um head coach e os assistentes que trabalham. É a filosofia que o Jorge Jesus está aplicando aqui. Eu vejo a questão de idade, de locomoção. Enquanto eu puder correr, e eu procuro me exercitar o melhor possível, eu acho que estaria positivamente pra ser feito o trabalho dentro de campo, que me atrai muito. Não quer dizer que você não possa, num sistema, ter assistentes pra trabalhar. Não é essa filosofia reinante, aqui, no Brasil", disse.

"Eu não tenho o mesmo vigor físico pra ficar correndo, acompanhando alguma coisa dentro de campo. Existe uma série de outras atividades que podem ser feitas, tranquilamente, independente do vigor físico, ou não", finalizou.

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