Minha família tem uma origem humilde, bem pobre mesmo. Minha mãe Francisca era empregada doméstica, vendia bandeiras de times no estádio do Pacaembu e cuidava de mim e dos meus cinco irmãos. Em 2008, ela ainda não tinha celular. Eu tinha que telefonar para um orelhão que ficava perto da casa em que ela morava, na cidade de Itanhaém, para ela ir me atender.
- Mãe, consegui entrar na faculdade. É de jornalismo.
- Jornalismo é o que a Fátima Bernardes faz?
- É, sim.
- Ai, filha! Que bom!
Minha mãe, então, começou a chorar e relembrou de todas as nossas batalhas. Foram tantas coisas. E, nesse momento, tudo fez sentido: as privações, as escolhas que tive que tomar, abdiquei da minha juventude. Mas o jornalismo me escolheu.
Depois de quase tentar uma carreira como jogadora de futebol, entreguei currículo em lojas de shopping, fui recepcionista, office girl e assistente em um escritório de arquitetura até que me tornei comentarista na maior emissora de televisão do país. E tenho um quadro no programa da Fátima Bernardes. Eu, uma menina de periferia.