Dez mulheres entre 200 homens marcam um recorde feminino no conselho trienal do Corinthians. O número, que atinge a marca de 5%, é grandioso: diz que os tempos mudaram, e que o futebol, em todas as suas vertentes, tem sido e será cada vez mais ocupado por mulheres. O caminho é sem volta, e quem arremessa essa informação sem titubear é uma delas, Ana Lúcia Tomé, eleita para o conselho do clube em 2021.
Analu, como prefere ser chamada, chegou com o pé na porta e fincou sua bandeira no Corinthians. Ela é uma das diretoras do movimento Toda Poderosa Corinthiana, que surgiu para contar a história feminina dentro do clube e, hoje, reúne mais de 300 mulheres. Devido ao novo trabalho, a conselheira se mudou da zona sul para a zona leste de São Paulo, lugar conhecido, desbravado por ela desde que era uma adolescente anarquista de cabelo espetado.
No novo apartamento, os incontáveis acessórios com a marca do time dividem espaço com as outras paixões de Analu: a banda KISS, o feminismo e seu pai. Corintiana no contrassenso da família —toda fanática pela Lusa—, a trajetória da conselheira no futebol começou diretamente na torcida organizada, quando ela era, ainda, adolescente.
Da Gaviões, Analu tirou tudo: "Tive aquela lição de torcedor raiz, de arquibancada, do cimento, da chuva e de apanhar da polícia. Aprendi, ali, o que realmente é ser Corinthians, o que é o amor da torcida. Comecei bem, pela porta da frente", conta.
Nesta entrevista, a conselheira detalha o machismo que já vive no dia a dia da cúpula, relembra como as mulheres se protegiam do assédio e da violência dentro do futebol no passado; diz que quer ser lembrada por corintianas daqui a 200 anos pelos feitos no conselho e que não tem medo de cara feia —medo, mesmo, só da Polícia Militar nas arquibancadas dos estádios.