Eu tinha 16 anos quando saí de casa. Filho único, superapegado aos pais, sabe como é. Não vou dizer que passei dificuldade. Eu nunca tive luxo, mas também nunca passei fome. Nessa época, eu saí do Rio de Janeiro e fui morar em São Paulo, fui do Audax-RJ pro Audax-SP.
Quando eu cheguei, dividia quarto com mais 22 garotos, alguns ratos e umas goteiras. Dormia debaixo da arquibancada, num baita calor. Ah, como eu sentia falta da família, dos amigos e da minha casa... Mas vou te falar: essas dificuldades me fizeram valorizar a vida que eu tinha e crescer muito como homem e também como jogador. Muito por causa de um cara chamado Fernando Diniz.
Imagina a cena: eu, que já tive um puta cagaço de jogar bola, passava mal e até vomitava antes dos jogos, franzino de tudo, não tinha força alguma, ouvindo o Diniz dizer pra mim 'você vai ser um jogador espetacular'. E eu só pensava 'esse cara é doido'. Ele me dizia que eu seria bom em qualquer profissão que escolhesse porque eu era aplicado e determinado.
Pra mim, ele é um gênio. As coisas que ele consegue fazer com a qualidade dos times em que já trabalhou... Pra ser sincero, só ele pra levar o Audax pra uma final de Paulistão, lembra? Pode ver que depois que ele saiu, o time só caiu. É um cara ímpar, uma pessoa fundamental. Merece tudo que está acontecendo. Torço por ele e temos contato até hoje. Inclusive, ele me ligou esses dias pra saber como eu tava.
Ele foi meu primeiro treinador no profissional, me subiu com 17 anos pra jogar o Paulistão. O mais louco é que antes de ir pro Audax do Rio, eu já tinha largado mão do futebol de campo e decidido que jogaria futsal. Na verdade, minha história começa bem antes disso, em uma época que nem eu mesmo lembro.