Fernando Sá é alvo de outras duas ações que tramitam nos Tribunais de Justiça de São Paulo e Santa Catarina. Os motivos dos autores são similares: os atletas alegam que Fernando teria descumprido algumas obrigações contratuais. O empresário não compareceu a nenhuma audiência até o momento.
Rodrigo Fernando, colega de Jefferson, também acionou o empresário na Justiça. Pede indenização de R$ 23.880. No processo, o jurídico do atleta diz que o contrato previa que Rodrigo passaria a defender o clube finlandês a partir de maio de 2018, com remuneração de 500 a 800 euros por mês, além de moradia e alimentação. Segundo o advogado do atleta, Fernando teria cobrado R$ 8 mil para intermediar esse agenciamento para o exterior.
Rodrigo afirma feito três transferências para a conta de Fernando Sá, totalizando R$ 3.880: a primeira de R$ 3.380; a segunda de R$ 250; e a última de R$ 250. Na ação, Rodrigo diz ter descoberto que não havia contrato com o time da Finlândia após ter entrado em contato direto com o clube. O jogador pede indenização também por danos morais de R$ 20 mil.
A Justiça de São Paulo mandou carta precatória (quando o endereço é em outro estado) a Fernando Sá para um endereço localizado em Santa Catarina. O processo está em fase de um retorno do empresário.
A terceira ação foi movida por Jonathan Maia e Sonir da Silva, seu agente. Jonathan alega que pagou R$ 15 mil a Fernando por um contrato de representação que viabilizaria acerto com um time polonês. Após o acerto com o empresário, o atleta não defendeu o time da Polônia.
Durante o processo, o empresário não compareceu a duas audiências. Por essa razão, o juiz da comarca de São José/SC, Daniel Simões, reconheceu a revelia, com a presunção de veracidade, as alegações de fato trazidas por Jonathan.
O juiz entendeu, na sentença, que a indenização valeria pelo fato de Jonathan ter largado o emprego com a promessa de que jogaria futebol (lucros cessantes), além de indenização por danos morais. O Tribunal, entretanto, negou indenização no que se refere à promessa de acerto com um clube polonês. O juiz entendeu que no acordo não existia a garantia de acerto com um time. Não cabe recurso.
Fernando nega as acusações
Procurado pela reportagem, Fernando Sá nega todas as acusações. Diz que tem uma academia de futebol e afirma nunca ter prometido levar ninguém a qualquer clube. "Meu trabalho é receber os atletas e marcar jogos. Tem jogador que chegou aqui gordo e não sabia quantos lados tinha uma bola. Quer ir para clube como?", diz.
"De início, o trabalho era fazer jogos e mostrar o futebol deles. Se algum clube gostasse, ótimo. Eu não anuncio [jogador] para clube nenhum, como vou fazer isso por um jogador que não conheço? Quem me procura são os pais, eu acredito que o jogador sabe jogar, eu confio. Aí chega e não joga".
O empresário afirma, ainda, que todos os atletas sabiam que o valor a ser pago seria mensal, uma vez que ele tem custos para manter os meninos no país. "Não prometi nada de clube, até porque não tinha condições disso. Aí veio a pandemia. Fiquei com dez meninos aqui durante a pandemia, com quatro pais sem me pagar. Eles sabiam desde o começo que o valor iria aumentar. Eu pago casa, estrutura top. Tinha jogador que jogava no barro e aí veio para cá".
"Não tinha comida? Não tinha papel higiênico? Eu chegava lá na casa e estava cheio de merda no papel higiênico dentro do vaso sanitário. Às vezes faltava água, porque falta água na região. Um dia é normal acontecer isso".
Sobre o dinheiro pago por Jefferson e Rodrigo, Fernando afirma que enviou a quantia a Dennys Rodrigues, que, na época, era goleiro do time finlandês e comandava alguns treinos. A reportagem entrou em contato com Dennys, que nega ter combinado qualquer coisa com o empresário.
O atleta nega, ainda, ter recebido o valor depositado pelos jogadores. Ele pede que, se o depósito de fato foi feito, Fernando peça a segunda via do comprovante. A reportagem repassou a recomendação ao empresário, que se exaltou.
"Então faz isso, bota o que você quiser [na reportagem]. Você está tentando me prejudicar, meu anjo", disse. "Vou ter que tomar as atitudes referente a você também". Depois dessa mensagem, Fernando se recusou a continuar a conversa com o UOL Esporte.
Semanas depois da conversa relatada acima, Fernando Sá contatou a reportagem. A ele, foi dado espaço para que esclarecesse os fatos apresentados. Entretanto, Fernando não forneceu informações pertinentes às acusações recebidas pelo portal. Afirmou, ainda, que enviaria o telefone do pai de um dos jogadores que ainda está sob sua tutela na Turquia, mas não o fez mesmo após insistência. Na segunda-feira (5), o UOL Esporte entrou em contato com Fernando mais uma vez para avisá-lo sobre a publicação desta reportagem. O empresário visualizou as mensagens, mas não respondeu.
*Os nomes de Antônio e Pedro são fictícios e visam preservar a identidade dos entrevistados.