Futuro em jogo

Desempenho do Brasil fica aquém do esperado em Paris e acende o alerta para Los Angeles-2028

Demétrio Vecchioli do UOL, em Paris (FRA) Marina Ziehe/COB

A reação do torcedor brasileiro diante de uma medalha de bronze já não é a mais a mesma de 24 anos atrás, quando o "Bronzil" terminou os Jogos de Sydney sem nenhuma medalha de ouro.

Uma prata como a de Isaquias Queiroz faz o brasileiro sair à janela, jogar o peso do corpo na buzina do carro, soltar o grito da garganta. O bronze de Rayssa Leal é uma medalha tão olímpica quanto a de ouro.

Mas adianta fazer como os norte-americanos e adotar o critério que mais nos convém? A classificação entre países de uma Olimpíada é definida pelo quadro de medalhas, em que o primeiro critério é o número de ouros. E, nele, o Brasil foi mal. Entra no último dia apenas na 20ª colocação, sem nenhuma prova mais para disputar.

O que deu errado? É o que o UOL explica.

Marina Ziehe/COB
Wander Roberto/COB  Wander Roberto/COB

Apostas em medalhões

O tempo mais curto entre duas Olimpíadas, com Paris-2024 acontecendo só três anos depois de Tóquio-2020, deveria reduzir, em tese, o espaço para o aparecimento e desenvolvimento de novos candidatos ao pódio.

Ao mesmo tempo, quem já estava no topo teria menos dificuldade (sempre em tese) de se manter ali.

Por meritocracia e por ser o caminho mais curto até a medalha, o Comitê Olímpico do Brasil (COB) e as confederações olímpicas concentraram recursos em diversos atletas vitoriosos, merecedores, mas na metade final da carreira.

Estrelas lapidadas para a Rio-2016 foram as grandes apostas para Paris-2024, oito anos depois. E, na França, ajudaram a derrubar a campanha brasileira.

Se não fossem algumas ondas, alguns ventos e alguns contratempos que aconteceram ao longo dos Jogos Olímpicos, possivelmente a gente teria quebrado o recorde.

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Ney Wilson, diretor de Esporte do COB

Miriam Jeske/COB

Pedras no caminho

Esses atletas são apoiados pelo Programa de Preparação Olímpica (PPO). Em diálogo com confederações e comissões técnicas, o COB paga residência no exterior, técnico, médico, fisioterapia, viagens e o que mais for preciso para o atleta de ponta chegar ao ouro.

Mas a maior parte dos principais beneficiados chegou ao momento dos Jogos Olímpicos com problemas de saúde.

Bruno Fratus não se recuperou de cirurgias no ombro, Darlan Romani, que já não fazia boa temporada, ficou fora por causa de uma hérnia de disco, Nathalie Moelhausen descobriu um tumor na região lombar, Mayra Aguiar lutava contra o próprio corpo, Rafael Silva está visivelmente cansado (ainda assim ajudou a ganhar medalha por equipes) e Ana Marcela Cunha nunca voltou à velha forma depois de uma cirurgia no ano passado.

Na vela, quase todo o investimento disponível foi para Martine Grael e Kahena Kunze, que já tinham outras preocupações na vela, fizeram ciclo olímpico ruim e encerraram a dupla sofrendo para chegar à medal race. Thiago Braz nem veio a Paris, suspenso por doping.

Beatriz Ferreira, essa sim em plena forma, também já divide atenções com o boxe profissional, treinando para dois tipos de lutas, e ficou só com o bronze.

Tanto ela quanto Isaquias Queiroz voltaram ao pódio, mas um degrau abaixo de Tóquio. No caso do canoísta, ele preferiu se afastar dos treinamentos em Lagoa Santa (MG) no ano passado antes que explodisse. Voltou ao esporte e ainda ganhou uma prata.

Rafaela Silva e Daniel Cargnin até ganharam medalha, mas só por equipes. Guilherme Costa, dos poucos jovens do projeto, foi quarto na natação. Ana Sátila e Hugo Calderano, ela na quarta e ele na terceira Olimpíada, seguem sem medalhas. Marcus Vinicius D'Almeida parou nas oitavas de final.

O que é mais importante? Um país que ganhou quatro medalhas de ouro e ficou na frente do Brasil, mas não ganhou mais nenhuma medalha, ou um país que teve 20 medalhas em 11 modalidades esportivas? Eu entendo que a gente tem um melhor desempenho, mostra uma estrutura melhor esportiva a partir de 20 medalhas conquistadas em 11 modalidades esportivas.

Ney Wilson, diretor de Esportes de Alto Rendimento do COB

Divulgação/COB

COB acerta com ginástica feminina

Do grupo tido como prioritário pelo COB, a única que evoluiu na comparação com Tóquio foi Rebeca Andrade. De duas medalhas no Japão, passou a quatro na França, mesmo com a presença de Simone Biles na disputa.

E justo ela era a aposta mais arriscada, dado o histórico de lesões e os riscos relacionados aos impactos do ginásio. Uma lesão e quatro medalhadas seriam perdidas.

Mas Rebeca chegou e saiu inteira de Paris, não só por sorte. Ela se tornou a maior medalhista olímpica brasileira pelo trabalho que envolve diretamente CBG e COB.

Pensado em medalhas, a ginástica feminina foi um dos grandes acertos do COB para Paris. Um trabalho que vem sendo feito há dois ciclos olímpicos demorou, mas entregou uma antes impensável medalha por equipes, que vai render frutos pelos próximos ciclos, além dos resultados individuais de Rebeca.

Miriam Jeske/COB Miriam Jeske/COB
Angelika Warmuth/Reuters

Alerta para 2028

Ao fim dos Jogos de Paris, a preocupação é grande para Los Angeles. Dos medalhistas individuais, só seis (Rayssa Leal, Willian Lima, Larissa Pimenta, Augusto Akio, Alison 'Piu' e Rebeca Andrade) terão menos de 30 anos nos próximos Jogos.

E, no caso da ginasta multimedalhista, ela já estará com 29, e já disse que não vai mais competir no solo, em que foi ouro, e no individual geral, em que foi prata.

Dos estreantes, o melhor foi Bala Loka, sexto no BMX Freestyle. Miguel Hidalgo, décimo no triatlo (depois de abrir a última volta pertinho do bronze), e Julia Soares, finalista na trave, também entram na lista de poucos jovens que mostraram poder chegar ao pódio em Los Angeles.

Maria Fernanda Costa, da natação, também foi bem, mas há uma distância grande entre o desempenho dela e das medalhistas.

O desafio do COB e das confederações para o próximo ciclo olímpico será ter coragem de apostar no novo e olhar para uma base maior de atletas para conseguir identificar antes o potencial de um Bala Loka, um Miguel Hidalgo ou um Matheus Lima (400m com barreiras). Se não pensar fora da caixinha, em Los Angeles será ainda pior.

Eu trabalho sempre com superação e evolução. Eu entendo a gente ter aqui, em outras áreas, evolução, especificamente com relação às oportunidades. Como falaram, a gente teve 11 atletas que foram para disputa de medalhas, mas não ganharam. Se eles ganhassem, nós teríamos 31 medalhas.

Paulo Wanderley, presidente do COB

Os medalhistas brasileiros

  • Larissa Pimenta (bronze)

    A chave é acreditar: Larissa é bronze no judô depois de muita gente (até uma rival) insistir que ela era capaz.

    Imagem: Wander Roberto/COB
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  • Willian Lima (prata)

    Dom e a medalha de prata: Willian sonhava em ganhar a medalha olímpica, e com seu filho na arquibancada. Ele conseguiu.

    Imagem: Wander Roberto/COB
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  • Rayssa Leal (bronze)

    Tchau, Fadinha. Oi, Rayssa: Três anos depois da prata em Tóquio, brasileira volta ao pódio em Paris e consolida rito de passagem.

    Imagem: Kirill KUDRYAVTSEV / AFP
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  • Equipe de ginástica (bronze)

    Sangue, suor e olho roxo: Pela primeira vez na história, o Brasil ganha medalha por equipes na ginástica artística. E foi difícil...

    Imagem: Ricardo Bufolin/CBG
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  • Caio Bonfim (prata)

    Buzina para o medalhista: Caio conquista prata inédita na marcha atlética, construída com legado familiar e impulso de motoristas.

    Imagem: Alexandre Loureiro/COB
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  • Rebeca Andrade (prata)

    'Paro no auge': Rebeca leva 2ª prata, entra no Olimpo ao lado de Biles, Comaneci e Latynina, e se aposenta do individual geral.

    Imagem: Rodolfo Buhrer/Rodolfo Buhrer/AGIF
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  • Beatriz Souza (ouro)

    Netflix e Ouro: Bia conquista primeiro ouro do Brasil em Paris após destruir favoritas e ver TV.

    Imagem: Alexandre Loureiro/COB
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  • Rebeca Andrade (prata)

    Ninguém acima dela: Rebeca ganha sua quinta medalha olímpica, a prata no solo, e já é recordista em pódios pelo Brasil.

    Imagem: Stephen McCarthy/Sportsfile via Getty Images
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  • Equipe de judô (bronze)

    O peso da redenção: Brasil é bronze por equipes no judô graças aos 57kg de Rafaela Silva.

    Imagem: Miriam Jeske/COB
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  • Bia Ferreira (bronze)

    A décima: Bia Ferreira cai para a mesma algoz de Tóquio, mas fica com o bronze e soma a décima medalha para o Brasil.

    Imagem: Richard Pelham/Getty Images
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  • Rebeca Andrade (ouro)

    O mundo aos seus pés: Rebeca Andrade bate Simone Biles no solo, é ouro e se torna maior atleta olímpica brasileira da história.

    Imagem: Elsa/Getty Images
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  • Gabriel Medina (bronze)

    Bronze para um novo Medina: Renovado após problemas pessoais e travado por mar sem onda, Medina se recupera para conquistar pódio olímpico.

    Imagem: Ben Thouard / POOL / AFP
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  • Tatiana Weston-Webb (prata)

    Ela poderia defender os Estados Unidos, mas fez questão de ser brasileira e ganhou a prata de verde e amarelo

    Imagem: William Lucas/COB
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  • Augusto Akio (bronze)

    Com jeito calmo, dedicação e acupuntura, Augusto Akio chegou ao bronze. Mas não se engane: ele é brasileiro

    Imagem: Luiza Moraes/COB
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  • Edival Pontes (bronze)

    Bronze sub-zero: Edival Pontes, o Netinho, conheceu o taekwondo quando ia jogar videogame; hoje, é bronze na 'categoria ninja'

    Imagem: Albert Gea/REUTERS
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  • Isaquias Queiroz (prata)

    Esporte de um homem só - Isaquias Queiroz segue soberano na canoagem e se torna 2º maior medalhista brasileiro da história olímpica.

    Imagem: Alexandre Loureiro/COB
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  • Alison dos Santos (bronze)

    Piu supera tropeços em Paris, mostra que estava, sim, em forma e conquista seu segundo bronze olímpico.

    Imagem: Michael Kappeler/picture alliance via Getty Images
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  • Duda e Ana Patrícia (ouro)

    Dez anos depois do título nos Jogos Olímpicos da Juventude, Duda e Ana Patrícia são coroadas em Paris

    Imagem: David Ramos/Getty Images, Luiza Moraes/COB e Gabriel Bouys/AFP
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  • Futebol feminino (prata)

    Prata da esperança - Vice-campeã olímpica, seleção feminina descobre como voltar a ganhar e mostra que o futuro pode ser brilhante.

    Imagem: Alexandre Loureiro/COB
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  • Vôlei feminino (bronze)

    Evidências - Programada para o ouro, seleção de vôlei conquista um bronze que ficou pequeno para o que o time fez em Paris.

    Imagem: REUTERS/Annegret Hilse
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