Uma herança da Copa do Mundo de 2014 corre o risco de virar sucata. Chamados de caminhões antidistúrbios, 12 veículos blindados foram comprados pelo governo federal em 2014 e distribuídos às cidades-sede do evento para serem utilizados na contenção de protestos. Os veículos, que contam com jato d'água para dispersar multidões, sistema de câmeras para monitorar os arredores e capacidade para abrigar mais de dez policiais, custariam R$ 20,2 milhões, no total, aos cofres públicos. O Governo Federal, porém, pagou apenas R$ 15 milhões, por uma série de contratempos na entrega.
A questão é que esses não foram os únicos problemas apresentados pelos veículos. Passados seis anos, a reportagem conseguiu a confirmação de que apenas a metade deles segue em operação — nas fotos abaixo, o veículo locado em Porto Alegre aparece em operações em um clássico Grenal e no julgamento do ex-presidente Lula, em 2018. Quatro blindados, aqueles doados para Amazonas, Bahia, Mato Grosso e Rio Grande do Norte, estão inoperantes. Os motivos para isso são parecidos: defeitos nos principais sistemas.
Panes elétricas, ar-condicionado quebrado, portas emperradas e até a dúvida se o veículo é, de fato, blindado. No Amazonas, o veículo está parado há mais de três anos por falhas nos sistemas de monitoramento de câmera e do canhão de água, por exemplo. O blindado do Ceará chegou a pegar fogo durante uma manifestação e o sistema das portas travou — PMs escaparam por uma escotilha, mas três pessoas ficaram feridas.
O estado de São Paulo chegou a receber o blindado, mas devolveu a encomenda após a identificação de problemas. O veículo voltou para Brasília e foi incorporado à frota da Força Nacional — até o ano passado, estava inoperante, mas no começo deste ano passou a funcionar, segundo o órgão. Além da Força Nacional, seis estados informaram que desembolsaram mais de R$ 500 mil para a manutenção do veículo. O Ceará foi o que mais gastou: foram mais de R$ 160 mil para manter o blindado em operação.
Os dados foram obtidos via Lei de Acesso à Informação (LAI), inicialmente com o governo federal e depois com os estados — em uma apuração do UOL que levou mais de um ano. Em alguns casos, foi necessário acionar o Ministério Público e o Tribunal de Contas Estaduais (TCE) para obter as respostas finais, que chegaram em junho. O resultado disso é a reportagem que você está lendo.