A colonização portuguesa sempre diferenciou o Brasil em relação à América hispânica, mas o isolamento vai além do idioma. Politicamente o cenário é, historicamente, pior. A criação do Mercosul, em 1991, ainda não foi capaz de reverter décadas de políticas desfavoráveis ao intercâmbio entre os países.
"O Brasil é um país separado, digamos assim, do resto da América do Sul. Tem a colonização portuguesa e o histórico de libertação. Entre eles houve mais comunhão de ideias e pessoas, enquanto o Brasil sempre foi um blocão", afirma Eugênio Leal, comentarista do FOX Sports.
Colega de Leal e blogueiro do UOL Esporte, PVC provoca: "E a gente tem um país que fica de costas para a América Latina. A gente olha para a Europa todo dia, mas ignora o continente. Alguém aqui está preocupado com o que vai acontecer no Campeonato Peruano? Não, claro que não."
A briga entre uruguaios e argentinos pela nacionalidade de Carlos Gardel enche o imaginário popular com uma pitada de rivalidade. Mas é o maior exemplo de comunhão dos povos. Uma parceria que o Brasil não tem com nenhum outro país da região.
Este isolamento também é sentido culturalmente. Quantos artistas latinos chegaram a se tornar realmente populares no mercado brasileiro? Por outro lado, nossos artistas também viam o mercado fechado para suas músicas em português.
Sem relação histórica com os outros países, desde o processo de independência, até a influência cultural ficou restrita. O êxito de artistas brasileiros no continente, na maioria das vezes, precisou de um padrinho. Nomes como Mercedes Sosa, Charly García e Fito Paez fizeram parcerias com Milton Nascimento, Caetano Veloso e Paulinho Mosca ao longo das décadas.
"Todo artista brasileiro que fez ou faz sucesso na América do Sul entrou nos países vizinhos pela mão de um cantor local. A música brasileira é muito respeitada no continente, mas existe uma barreira que a cultura brasileira dificilmente rompe", lembra Stumpf.
Os últimos anos, no entanto, passaram a ver uma tendência de maior intercâmbio musical, alimentada pelo interesse comercial de ampliar o leque e atingir novos mercados em potencial. A cantora Anitta, por exemplo, desde 2017 investe pesado na disseminação de seus hits por toda a América, do Sul ao Norte. Faixas cantadas em espanhol e inglês, além das tradicionais parcerias com cantores locais.