Nas mãos da Justiça

Rodada tem lateral do Corinthians preso por injúria racial contra Edenílson; o que é preciso para caso ir além

Igor Siqueira Do UOL, no Rio de Janeiro Silvio Avila/Getty Images

Não foram os gols. O fato mais marcante da sexta rodada foi a prisão em flagrante de um jogador do atual líder do Brasileirão, por injúria racial. A acusação de Edenílson, do Internacional, contra Rafael Ramos, do Corinthians, só não deixou o lateral-direito por mais tempo sob custódia porque houve pagamento de uma fiança de R$ 10 mil. Mas os desdobramentos não vão parar por aí.

Edenílson disse que foi chamado de "macaco" e recebeu a solidariedade de diversos jogadores. A equipe de arbitragem disse em súmula que não ouviu a injúria, mas registrou a reclamação do volante colorado. Edenílson chegou a confrontar Rafael Ramos ainda no gramado. O lateral corintiano nega a ofensa durante o jogo de sábado, que foi 2 a 2.

O episódio no Beira-Rio remete a outros momentos nada distantes nos quais o assunto racismo invadiu os gramados brasileiros. O Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD), por exemplo, instaurou inquérito para apurar a denúncia feita pelo volante Fellipe Bastos, do Goiás, que na semana passada disse ter sido ofendido pela torcida do rival Atlético-GO. Esse deve ser o procedimento também em relação ao caso Rafael Ramos.

Diferentemente da situação vivida por Fellipe Bastos, o fato no Internacional x Corinthians foi um embate entre jogadores e traz à memória o Flamengo x Bahia de dezembro de 2020. Na ocasião, o meia Gerson disse ter sido chamado de macaco pelo colombiano Índio Ramírez.

Ramírez não chegou a ser preso em flagrante. Um inquérito também foi instaurado pelo STJD na época. A questão é que a investigação não avançou: uma denúncia formal não chegou a ser feita na corte desportiva porque o relator do caso, o auditor Maurício Neves da Fonseca, apontou "insuficiência de elementos probatórios". Na esfera criminal, o Ministério Público recomendou que o caso não fosse adiante.

É possível um desfecho diferente agora?

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Silvio Avila/Getty Images

O que os envolvidos disseram

Thiago Ribeiro/AGIF

O relato da súmula

Aos 31 minutos do 2º tempo, no momento em que a partida estava paralisada, fui informado pelo jogador nº 8, da equipe SC Internacional, sr. Edenilson Andrade dos Santos, que seu adversário nº 21, sr. Rafael Antônio Figueiredo Ramos, havia proferido as seguintes palavras para ele: "foda-se macaco". Neste momento paraliso a partida e chamo os jogadores envolvidos para relatarem o que havia acontecido, sendo que o jogador Edenilson Andrade dos Santos, confirma as palavras anteriormente citadas e o jogador Rafael Antônio Figueiredo Ramos, afirma que houve um mal entendido devido ao seu sotaque (português) e diz ter proferido as seguintes palavras "foda-se caralho". Devido à distância dos atletas e barulho da torcida nem eu, nem outro integrante da equipe de arbitragem consegue ouvir ou perceber qualquer das palavras acima citadas. Então dou continuidade a partida.

Bráulio da Silva Machado, árbitro de Internacional x Corinthians, na súmula

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O rito na Justiça Desportiva e a produção de provas

Com a súmula já publicada no sistema da CBF, a procuradoria do STJD passa a ser o órgão responsável pelo passo imediatamente seguinte. Em casos como esse, ela pede a instauração de inquérito para verificar se houve infração disciplinar por parte do jogador. O trabalho é verificar se o jogador ou o clube vão ser enquadrados no seguinte artigo do Código Brasileiro de Justiça Desportiva (CBJD):

  • Art. 243-G. Praticar ato discriminatório, desdenhoso ou ultrajante, relacionado a preconceito em razão de origem étnica, raça, sexo, cor, idade, condição de pessoa idosa ou portadora de deficiência.
  • PENA: suspensão de cinco a dez partidas, se praticada por atleta, mesmo se suplente, treinador, médico ou membro da comissão técnica, e suspensão pelo prazo de cento e vinte a trezentos e sessenta dias, se praticada por qualquer outra pessoa natural submetida a este Código, além de multa, de R$ 100,00 a R$ 100 mil.

Para caso de extrema gravidade, o tribunal pode ainda aplicar perda de pontos, perda de mando de campo ou exclusão do campeonato.

Para o inquérito, de fato, começar, a presidência do STJD precisa aceitar o pedido da procuradoria (uma formalidade) e um dos auditores do Pleno, a instância máxima, é designado como relator. Ele é responsável por conduzir os trabalhos, colher os depoimentos das partes, pessoas que possivelmente tenham presenciado o fato, e receber provas documentais. Em casos de injúria racial, é comum que haja laudos de leitura labial.

Ricardo Duarte/Internacional

E a força da palavra do denunciante?

No caso de Gerson x Ramírez, os jogadores do Flamengo não apareceram no dia marcado para o depoimento e tampouco agendaram uma oitiva online. O relator do caso no STJD pontuou que tinha em mãos apenas a palavra isolada de Gerson. Mas "ela, por si só, não autoriza o oferecimento de denúncia, eis que desprovida de provas".

Olhando para o presente cenário do episódio Ramos x Edenílson, o critério será o mesmo, segundo UOL apurou com um dos membros do STJD, que preferiu não se identificar para não ficar impedido no eventual processo. Mesmo que não haja uma imagem conclusiva ou algo que se some à palavra de Edenílson, os auditores precisam conversar com os jogadores que estavam ao redor para checar se há ao menos uma prova indireta — conjunto de elementos que levam a crer que o fato aconteceu daquela determinada forma.

Os casos ligados a racismo chegam ao STJD em um momento no qual a CBF fez pressão na Conmebol para aumentar as penas impostas aos clubes cujos torcedores cometem atos discriminatórios nos jogos da Libertadores e Sul-Americana. Por outro lado, ano passado, o STJD teve oportunidade de tirar pontos do Brusque por causa de uma ofensa ao meia Celsinho, do Londrina, mas optou por multa e perda de mando.

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A palavra da vítima tem uma consideração muito grande, não fujo disso. Todavia, a consideração tem que ser para iniciar o procedimento [inquérito]. Não pode ser uma palavra isolada. Esse grau de valor da palavra da vítima vai ser entendido de acordo com o espaço e o ambiente. Se as duas pessoas estão em um quarto, a relevância é diferente de quando essas duas pessoas estão em um ambiente cheio de câmeras, com tanta gente observando. A palavra da vítima poderia ter sido provada no caso do Gerson. Ele deveria ter juntado prova testemunhal, de vídeo. Hoje, com vídeo, é bem possível identificar com mais clareza se houve ou não o fato. Porque você tem leitura labial, câmeras que pegam vários ângulos. Não que o jogador não possa ter ouvido, mas a vítima precisa ter cuidado. Isso não é desmerecer a luta antirracista.

Milton Jordão, Advogado que defendeu Índio Ramírez e o Bahia no episódio envolvendo Gerson

A visão dos colunistas

Arquivo pessoal

Somos todos racistas. Fomos criados para ser

Somos. Nós somos racistas. Somos todos racistas. Por um simples motivo: fomos criados para ser. E deixar de ser é um processo. Um processo que passa por olhar em volta e enxergar quem são as pessoas falando na tela sobre racismo. No sábado, eram pessoas brancas. Como quase sempre.

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UOL

É preciso evitar clubismo no caso

A importância do caso Rafael Ramos atrai não só torcedores dos dois times. O tema é dos mais relevantes. Porém, por mais que seja óbvio, é necessário lembrar que não estamos falando de uma questão ligada a clubismo. Não se trata de se quem tem razão é o Corinthians ou o Internacional.

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Uol

Corinthians: é investigar e tomar providências

Há duas decisões a tomar: 1) Se houve a ofensa, demitir o jogador. Foi assim com Danilo Avelar. 2) Se não houve a ofensa, processar Edenílson. Poderia falar do jogo e vou falar. Mas acusação de racismo é muito grave. E precisa ser encarada como tal. É mais importante que o jogo.

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Vítor Silva/Botafogo John Textor, acionista da SAF Botafogo, balança bandeira do clube após a vitória alvinegra sobre o Fortaleza

John Textor, acionista da SAF Botafogo, balança bandeira do clube após a vitória alvinegra sobre o Fortaleza

Emoção de Textor reflete sinergia no Botafogo. Já o Flamengo...

O Botafogo venceu a primeira partida em casa neste Brasileirão. O roteiro de casa cheia se repetiu e reservou uma virada nos minutos finais diante do Fortaleza: 3 a 1. Foi o suficiente para John Textor, principal acionista da SAF Botafogo, ir ao gramado, pular as placas de publicidade e festejar perto da torcida.

O executivo, que no dia anterior tinha viralizado por fotos inusitadas em uma despedida de solteira, protagonizou mais uma cena fora do protocolo. Pegou um bandeirão da torcida, agitou, fez coraçãozinho e até se emocionou em uma entrevista ao Premiere no meio do campo:

Dizem que a Premier League é a melhor liga do mundo. Eles não amam, amam os clubes dessa forma, tão efusiva. É incrível. Me enche de alegria toda vez que eu vejo. Todo mundo sente isso. Temos que mostrar isso ao mundo. É por isso que estou aqui".

A emoção de Textor é mais um elemento que comprova a sinergia atual do tripé que tem investidor, torcida e time. Não por acaso, o alvinegro entrou no G4 do Brasileirão pela primeira vez desde a oitava rodada da Série A de 2019.

Na disputa interna entre os cariocas, o Botafogo é o melhor até agora. O Fluminense tem oito pontos, três a menos que o alvinegro, e está em 12º. O Flamengo, mais rico dos três e, está em crise: somou seis pontos em seis jogos e está em 16º. Depois do empate por 2 a 2 com o Ceará, que teve falha do goleiro Hugo, só não entrou na zona de rebaixamento por causa do saldo de gols. Bota e Fla têm técnicos portugueses. O alvinegro Luís Castro preferiu não comentar o momento do colega Paulo Sousa.

Eu não falo da vida de ninguém. Sabe o que eu aprendi? Só tenho que me preocupar com aquilo que domino: o treino e o jogo".

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VAR nosso de cada dia

Esses foram os lances mais controversos da rodada, que geraram divulgação dos áudios pela CBF

Reprodução

E a mão do Junior Alonso?

No jogo diante do Atlético-GO, houve um lance polêmico com o zagueiro Junior Alonso. Segundo a área de arbitragem da CBF, a decisão de não marcar o pênalti foi correta. "O defensor do Atlético-MG faz um movimento de chute com objetivo de tirar a bola. Entretanto, por circunstâncias alheias à sua vontade, seu objetivo não é alcançado. Ele não atinge a bola como desejado. A bola sobe rapidamente, de forma inesperada, tocando seu braço que estava em posição natural e justificada para o movimento que o atleta desejava fazer". O Atlético-GO reclamou até no Twitter.

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Marcello Zambrana/AGIF

Esse pênalti para o São Paulo no Morumbi...

O diálogo a seguir ocorreu assim que o árbitro Alexandre Vargas assinalou pênalti para o São Paulo diante do Cuiabá. A decisão originou o empate e foi decisiva para a virada do tricolor no Morumbi. "Eu marquei porque eu vi o pênalti. Tudo é checado. O procedimento é esse. Tudo afastando. Foi faltoso. Embaixo e em cima", disse o árbitro. "Vargas, é o Braga (VAR). O pênalti já foi checado e confirmado", avisou a cabine. "É sacanagem", reclamou Walter, goleiro do Cuiabá. "Ô Walter, é a terceira vez que eu vou falar isso. Não quero essa palavra 'sacanagem'", rebateu o juiz.

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Reprodução

Foi pênalti em Gabigol? Houve toque?

No jogo entre Ceará e Flamengo, houve um possível pênalti no ataque rubro-negro, quando Gabigol caiu na área depois de uma disputa com Richardson. "Não toca nele. Para mim não há o contato", avisa à cabine o árbitro Luiz Flavio de Oliveira. "Frame a frame. Antes dele pisar o pé no chão... Luiz, pode seguir, não tem o contato com ele. Mantenha sua decisão", rebateu o VAR, segundo o áudio divulgado pela CBF. Comentarista do Grupo Globo, Sandro Meira Ricci discordou da marcação e viu pênalti no lance.

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Foram bem

  • Cano

    O atacante do Fluminense, com faro aguçado, fez dois gols na vitória tricolor por 2 a 1. O segundo gol foi muito bonito, com uma matada no peito e um chute no ângulo.

    Imagem: Jorge Rodrigues/Jorge Rodrigues/AGIF
  • Danilo

    Mais um jogo, mais um gol do volante convocado para a seleção brasileira. São 100% de aproveitamento desde que foi anunciado por Tite para os jogos do Brasil em junho. O Palmeiras venceu o Red Bull Bragantino.

    Imagem: JHONY INÁCIO/ENQUADRAR/ESTADÃO CONTEÚDO
  • Apodi

    O ex-lateral-direito, que agora é atacante, foi o destaque do Goiás na vitória sobre o Santos. Ele sofreu o pênalti que Elvis converteu, impedido que o time paulista virasse líder do Brasileiro.

    Imagem: Heber Gomes/AGIF
  • Patrick de Paula

    Entrou no segundo tempo e fez o gol da virada do Botafogo sobre o Fortaleza. Mostrou estrela e contou com um pouco de sorte porque houve desvio em Yago Pikachu.

    Imagem: Jorge Rodrigues/AGIF

Foram mal

  • Hugo

    Goleiro do Flamengo falhou mais uma vez e foi responsável direto pelo empate, sofrido nos acréscimos, diante do Ceará, fora de casa. Ele calculou mal o cruzamento de Nino Paraíba. A bola o encobriu. A instabilidade é grande.

    Imagem: Thiago Ribeiro/Thiago Ribeiro/AGIF
  • Pablo

    O atacante do Athletico perdeu uma chance incrível diante do Fluminense, já na pequena área. O lance foi parecido com outra chance perdida por Pablo, contra o Tocantinópolis, pela Copa do Brasil.

    Imagem: Reprodução/Youtube
  • Bryan Angulo

    Angulo foi muito mal na derrota do Santos para o Goiás. O equatoriano não encontrou o melhor posicionamento e pouco contribuiu ofensivamente em um jogo que poderia levar o Peixe à liderança.

    Imagem: Staff Images / CONMEBOL
  • Iago Maidana

    O zagueiro levou dois amarelos ainda no primeiro tempo, o que complicou a vida do América-MG diante do Coritiba. O time perdeu por 1 a 0 e saiu do G6.

    Imagem: GLEDSTON TAVARES/FRAMEPHOTO/ESTADÃO CONTEÚDO

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