Faro de gol

Atacantes começam Brasileiro afiados: em duas rodadas, Calleri e Róger Guedes fizeram três gols em um só jogo

Igor Siqueira Do UOL, no Rio de Janeiro Marcello Zambrana/AGIF

Hat-trick, tripleta ou música no Fantástico. Chame como quiser. Pela segunda rodada consecutiva, o termo apareceu nas matérias e comentários sobre o Brasileirão 2022. Se Calleri, do São Paulo, já tinha feito três gols diante do Athletico. Agora, foi a vez de Róger Guedes repetir o desempenho pelo Corinthians, na vitória sobre o Avaí.

Com isso, veio o fato inédito. Considerando as edições do Brasileirão a partir de 2003 (quando o formato com turno e returno entrou em vigor), nunca as duas primeiras rodadas tiveram, de forma consecutiva, jogadores marcando ao menos três gols em um jogo.

E olha que em 2004, por exemplo, Alex Dias fez quatro na estreia do Goiás diante do Botafogo. Em 2012, Herrera chegou a fazer três pelo próprio Botafogo, no 4 a 2 sobre o São Paulo, para citar outro exemplo. Mas faltou a continuidade no ritmo dos atacantes que já foi vista em 2022.

A fórmula dos pontos corridos premia consistência. Por ser uma disputa de longo prazo, premissas precoces por vezes se provam enganosas. Mas o início da Série A tem sido animador para os homens de frente —o que pode apontar uma tendência de muita bola na rede justamente daqueles que são pagos para isso.

Olhando pelo viés coletivo, ter no time o artilheiro do Brasileirão não significa título ou briga na parte de cima da tabela —Gabigol, por exemplo, foi o maior goleador em 2018, mas o Santos terminou em 10º. No entanto, considerando a ambição dos times envolvidos (São Paulo e Corinthians), ter atacantes em lua de mel com o gol traz uma perspectiva de um desfecho, no mínimo, aceitável no Brasileirão, ainda que a taça não venha em novembro.

A segunda rodada terminou com o Corinthians na liderança do Brasileirão justamente por causa do saldo de gols —algo que não acontecia desde a segunda rodada do Brasileirão 2018.

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Marcello Zambrana/AGIF

Os gols de Róger Guedes pelo Corinthians contra o Avaí

A anatomia dos gols

Como balançou as redes também na derrota do São Paulo para o Flamengo, Calleri é o artilheiro isolado do Brasileirão após a segunda rodada, com quatro gols. Róger Guedes é o segundo da fila, graças ao show em dose tripla na NeoQuímica Arena, sábado à noite.

Por características de jogo distintas —e também uma diferença na anatomia de ambos—, a receita dos gols de Calleri e Róger Guedes é diferente. Mas cada um se adequa ao que os times têm a oferecer para eles.

No caso do corintiano, que saiu em êxtase do jogo diante do Avaí, a atuação ajuda na discussão sobre a melhor forma de utilizá-lo. Ele não foi usado como centroavante, ao contrário do que ocorreu na maior parte da temporada. Com a inserção de Junior Moraes na função de referência na frente, Guedes foi escalado como ponta esquerda.

O retrato de como ele funciona bem assim foi o segundo gol do Corinthians: uma jogada característica, com descida em velocidade, drible para dentro e finalização com a direita.

Mas Róger Guedes não fica preso à faixa esquerda do campo e tem liberdade para aparecer na área —como o fez nos outros dois gols, de forma oportunista. A questão é que esse povoamento do setor ofensivo com mais um camisa 9 de origem tira de Róger Guedes o foco dos defensores centrais. E aí ele faz estrago.

Calleri já vai por outro caminho. Centroavante nato, ele adora o contato, tira muito proveito de jogadas pelo alto —como no gol diante do Flamengo— e tem um senso de posicionamento privilegiado. No Maracanã, no entanto, ele viu Gabigol, Isla e Arrascaeta balançarem as redes a favor de um Flamengo que mostra evolução a cada jogo.

Gol de Calleri não basta para o São Paulo diante do Flamengo

Acho que mostrei onde eu quero jogar. Foi uma conversa sadia que tive com ele, lógico que prefiro jogar aqui, onde me sinto mais à vontade, onde posso usar minha característica de fazer o facão toda hora. E o grupo já me conhece bastante nessa posição também.

Róger Guedes, Atacante do Corinthians

Tínhamos que jogar com o Róger como atacante, e eu expliquei a ele: "Eu sei que você gosta de jogar da esquerda para dentro, mas a equipe precisa de você de atacante". Ele estava desanimado. Eu tenho que dar razão a ele, jogando pela esquerda vai para dentro com o pé direito.

Vítor Pereira, Técnico do Corinthians

Hulk viu tudo de Miami

Atual campeão e detentor do troféu de artilheiro do Brasileirão, Hulk fez dois gols na primeira rodada, mostrou a que veio, mas acompanhou à distância a vitória do Atlético-MG sobre o Athletico, na Arena da Baixada, em Curitiba. O placar de 1 a 0 veio com um golaço de Zaracho. Hulk está em Miami, nos EUA, para o nascimento da filha.

Artilharia do Brasileirão após a 2ª rodada

  • Calleri (São Paulo) - 4 gols
  • Róger Guedes (Corinthians) - 3 gols
  • Hulk (Atlético-MG), Iago Maidana (América-MG), Erison (Botafogo) e Léo Gamalho (Coritiba) - 2 gols

A visão dos colunistas sobre o momento do Flamengo

UOL

Pressionando, Fla é muito melhor

A marcação pressão dos atacantes na saída de jogo do adversário, com o avanço dos volantes para abafar a segunda bola, na intermediária rival, e a linha de zagueiros postada no meio-campo, compactando o time inteiro. Tal prática foi se perdendo, com a sucessão de treinadores desastrados, mas foi revivida por Paulo Sousa, contra o São Paulo, e deu resultado.

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Keiny Andrade/UOL

Lembrou o time campeão de 2019

Uma atuação de gala! O Flamengo desnorteou o São Paulo no começo do clássico, o deixou grogue aos 24 minutos com o 1 a 0, sofreu empate injusto, aos 40, e o nocauteou no segundo: 3 a 1. Lembrou, sim, com o perdão da banalizada insistência, a campanha de 2019. A exibição rubro-negra no Maracanã em festa mostrou bola e vibração como antes.

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Lucas Lima/UOL

Flamengo e São Paulo expuseram virtudes e defeitos

O Flamengo de Paulo Sousa fez um de seus melhores jogos ao bater o São Paulo por 3 a 1. Talvez a partida contra o Atlético-MG, 56 dias antes, pela Supercopa do Brasil, tenha registrado uma apresentação superior, apesar dos cinco pênaltis desperdiçados. Já os tricolores de Rogério Ceni foram quase tão mal quanto nos 4 a 0 na final do Paulista.

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Reprodução

São Paulo tem atuação ridícula e ressuscita o Fla

O São Paulo teve uma atuação muito parecida com a da final do Paulista, contra o Palmeiras. Com a da vexaminosa derrota no Allianz Parque, por 4 a 0. Na etapa final, o Tricolor definhou e foi amplamente dominado pelos rubro-negros. Tanto que o Fla não precisou fazer muita força para marcar mais dois gols em Jandrei. Olha, e ainda ficou barato.

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RICARDO DUARTE/Internacional D'Alessandro acena para a torcida do Internacional no seu último jogo da carreira

D'Alessandro acena para a torcida do Internacional no seu último jogo da carreira

O lugar de D'Alessandro na história do Brasileirão

Desde o primeiro encontro, em 2008, foram três despedidas. A de ontem foi a definitiva. Aos 41 anos, Andrés D'Alessandro encerrou sua carreira. E vestindo a camisa do Internacional. O capítulo final dessa história de amor e idolatria —como ficou explícito no Beira-Rio— veio com um roteiro bem especial. O Inter e o D'Ale atuais não lutam por títulos de expressão, mas a vitória por 2 a 1, de virada, sobre o Fortaleza, com direito a gol do meia argentino, trouxe uma sensação de completude a essa bonita história que, dentro de campo, se encerra.

D'Alessandro chegou ao Inter para ser treinado por Tite, com quem foi campeão da Sul-Americana, em um setor de ataque que tinha Alex e Nilmar. Viveu alegrias naquela época e em fases posteriores, como o título da Libertadores em 2010.

O Internacional, no entanto, não conseguiu ser campeão brasileiro com D'Alessandro. Um dos capítulos tristes, inclusive, foi o rebaixamento em 2016. Mas nem por isso o camisa 10 deixa de ser um dos estrangeiros mais importantes que passaram pelo Brasileirão.

Eu não sonhava assim tão perfeito. Queria me despedir com vitória, mas fazer um gol, cara... Muitos dizem que tenho uma estrela diferente, mas é como eu falo, é merecimento, trabalho"

D'Ale disputou 256 partidas da Série A ao longo de 12 edições diferentes. Fez 41 gols, contando com o de ontem, e deu 50 assistências, segundo dados do site Transfermarkt.

O argentino do Inter saiu de cena como o segundo estrangeiro com mais passes para gol no formato atual do Brasileirão de pontos corridos. Ele só perde para o compatriota Conca, que somou 53 assistências.

O camisa 10 do Inter ainda é o quinto na lista de estrangeiros com mais gols no Brasileirão de pontos corridos.

Artilheiros estrangeiros dos pontos corridos

Dejan Petkovic - 83 gols
Paolo Guerrero - 55 gols
Aristizábal - 47 gols
Giorgian de Arrascaeta - 45 gols
Andrés D'Alessandro - 41 gols

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O último gol da carreira de D'Alessandro

VAR deixa rolar ou não?

Que o VAR entenda o seu papel, que é ser um assistente do árbitro, que busca um erro claro dele. Se não houver erro claro, é uma situação que pode ter interpretações, a gente não está falando de uma situação VAR".

Esse foi o recado de Wilson Seneme, novo presidente da comissão de arbitragem da CBF, em entrevista ao Blog do Rodrigo Mattos.

Algumas situações na segunda rodada do Brasileirão em que o VAR não interferiu, no entanto, deixam margem para questionamento se os árbitros da cabine exageraram na não interferência em relação ao que viram pela tela.

O lance mais clamoroso diz respeito ao pênalti assinalado para o Coritiba diante do Santos. Wagner Nascimento Magalhães estava bem próximo à jogada e interpretou que o carrinho de Zanocelo em Andrey foi faltoso, embora o jogador do time paranaense tenha retardado muito o contato. A penalidade foi convertida por Léo Gamalho, só que, ao fim das contas, o Santos venceu o jogo de qualquer forma.

Outra situação polêmica que o VAR manteve a decisão de campo foi o gol do Goiás diante do Palmeiras. Quando o chute do atacante Pedro Raul se dirigia para as redes, houve um choque entre Caio Vinícius, do time goiano, e o goleiro palmeirense, Weverton.

Áudio divulgado pela CBF mostra que o árbitro de vídeo Daniel Nobre Bins relatou a Bráulio da Silva Machado, que estava no campo, que "os dois erram, a bola passa e o choque é acidental depois".

Choque entre Caio Vinicius e Weverton no Goiás x Palmeiras - Reprodução/CBF - Reprodução/CBF
Choque entre Caio Vinicius e Weverton no Goiás x Palmeiras
Imagem: Reprodução/CBF

Outro jogo com ocorrências envolvendo o VAR foi a vitória por 2 a 1 do Internacional sobre o Fortaleza. Primeiro, o árbitro Flavio Rodrigues de Souza não marcou um possível pênalti a favor do Colorado, e o VAR não o chamou. Por outro lado, o árbitro de vídeo agiu para flagrar outro pênalti, agora a favor do Fortaleza, quando Landázuri foi puxado dentro da área, após cobrança de escanteio —Yago Pikachu converteu a penalidade. O time cearense logo teve outro pênalti a seu favor, mas o mesmo Pikachu acertou a trave.

Só acredito porque vi

Reprodução

O tiro de meta do João Paulo

O goleiro João Paulo, do Santos, bateu um tiro de meta que, no mínimo, pode ser descrito como constrangedor. A tentativa de cobrança mais curta, de canhota, saiu pela própria linha de fundo. Pegadinhas do futebol moderno.

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Reprodução

Onde Ytalo acertou a bola

A goleada do Red Bull Bragantino sobre o Atlético-GO começou em grande estilo: um chutaço do atacante Ytalo que foi no ângulo. Espetáculo no Nabi Abi Chedid. O goleiro Luan Poli só conseguiu olhar.

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Foram bem

  • João Gomes

    O volante do Flamengo foi muito importante para a vitória dominante do Rubro-Negro. Duas jogadas de gol nasceram após passes cruciais dele, sem as roubadas de bola.

    Imagem: Divulgação/Site oficial do Flamengo
  • Róger Guedes

    O craque da rodada, já que fez os três gols da vitória do Corinthians sobre o Avaí, no sábado. Mostrou habilidade, técnica e oportunismo para decidir o jogo em casa.

    Imagem: Marcello Zambrana/AGIF
  • Erison

    El Toro está demais. Foi o destaque do Botafogo na vitória fora de casa sobre o Ceará. A primeira do Alvinegro na Série A desde que se transformou em SAF.

    Imagem: Lucas Emanuel/AGIF
  • Iago Maidana

    Desponta como zagueiro-artilheiro no Brasileirão. Anotou dois gols na goleada do América-MG sobre o Juventude. Um foi de pênalti e outro de cabeça.

    Imagem: GLEDSTON TAVARES/FRAMEPHOTO/ESTADÃO CONTEÚDO

Foram mal

  • Paulão

    O zagueiro deu bobeira nos acréscimos e anotou o gol contra que causou a derrota do Cuiabá diante de um nada inspirado Fluminense, na Arena Pantanal.

    Imagem: Divulgação/Site oficial do Cuiabá
  • Henrique

    O zagueiro do Coritiba foi responsável por mais um gol contra na rodada. E mais um decisivo, já que o Coxa perdeu por 2 a 1 para o Santos, na Vila Belmiro.

    Imagem: Divulgação/Site oficial do Coritiba
  • Rodinei

    Foi batido por Calleri no gol do São Paulo sobre o Flamengo. Mais uma bobeira defensiva. Para "azar" dele, foi substituído por Isla no segundo tempo e o chileno fez um golaço.

    Imagem: Divulgação/Site oficial do Flamengo
  • Max Walef

    O goleiro do Fortaleza sofreu um gol completamente defensável de D'Alessandro. O enredo ajudou a abrilhantar a despedida do argentino, mas o Fortaleza sofreu a segunda derrota no Brasileirão.

    Imagem: Divulgação/Site oficial do Fortaleza

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