O zagueiro Paulão fechou a cara e balançou a cabeça quando soube que o Grêmio estava interessado em vendê-lo para a China. Era março de 2011, e o time gaúcho se preparava para disputar a Libertadores, depois de uma boa campanha no Brasileiro do ano anterior. Aos 24 anos, o atleta não tinha ideia do que ia encontrar na Ásia, mas suspeitava que a transferência seria um passo atrás na carreira.
Conversou com o técnico Renato Gaúcho, pediu para jogar pelo menos uma partida da Libertadores, mas foi convencido a aceitar a transferência, que renderia mais de R$ 2 milhões aos gaúchos. Ao chegar ao Guangzhou, Paulão encontrou a estrutura simples de um novato na primeira divisão chinesa. Mas, em três meses, tudo mudou. Graças ao dinheiro da Evergrande, a segunda maior empreiteira da China, o time entrou no clube dos novos-ricos.
"Você não tem noção do que era o novo centro de treinamento", lembra Paulão, uma década depois. "Era mármore por todo lado, tudo banhado a ouro, uma loucura. Quatro ou cinco campos, todos com grama bem aparada, jardim bem cuidado. Quatro banheiras de hidro, lustres enormes banhados a ouro."
Mas, após anos de ostentação, a bolha do futebol chinês aparentemente estourou.
Um símbolo disso é o destino do Jiangsu, atual campeão chinês que fechou as portas após a gigante do comércio eletrônico Suning cortar o patrocínio. O zagueiro Miranda e o atacante Eder, que defenderam a equipe e que aparecem na foto de abertura dessa reportagem deixando a China no fim de 2020, dizem não ter recebido um centavo no tempo que passaram lá. Jogadores do São Paulo desde março de 2021, os dois tentam processar o clube asiático na Justiça e na Fifa.