Não vou mentir, eu não tinha medo da covid-19. Pensava até que já tinha contraído o coronavírus no início da pandemia, quando tive dor de cabeça e moleza no corpo durante o primeiro período de isolamento. Na minha cabeça, só pessoas com idade mais avançada ou com comorbidades podiam ser acometidas de forma mais grave pela doença. Os casos de atletas assintomáticos também me deixavam confiante.
Aí um dia eu acordei muito cansado. Comecei a ter dificuldade de respirar, o que, até então, não era um problema. Quando puxava um pouquinho mais o ar, vinha aquela tosse que chega a machucar, sabe? Parecia que não estava jogando ar no pulmão, que ele estava só na minha boca. Naquele dia, tinha vontade de ficar na cama. Os médicos desconfiaram e decidiram fazer uma tomografia do tórax. Foi quando soube que o comprometimento dos meus pulmões tinha passado de 70%.
O lado esquerdo do pulmão estava todo tomado, assim como o lado direito. A parte de cima e a de baixo também. Só o meio que ainda não tinha sido atingido. "Mesmo o seu teste PCR tendo dado negativo, esse quadro é muito característico de covid-19", os médicos me explicaram. Fui levado direto para a UTI. O pior de tudo: minha família não podia estar presente. Foi assustador.
Pela velocidade com que as coisas estavam acontecendo, eu morri de medo. Será que o antibiótico iria agir a tempo e impedir o comprometimento pulmonar de continuar crescendo? Tinha medo de chegar ao ponto de ser intubado, de apagar. Já pensou voltar e alguém falar que você ficou semanas intubado? Nessa hora, você se lembra da história de pessoas com covid-19 que pioraram rapidamente e morreram. Em uma UTI, sozinho e em uma situação de risco, você começa a pensar só em coisa ruim, infelizmente. Foi o momento mais difícil para mim.