O caçula da final

Aos 19 anos e profissional há quatro meses, Danilo substituiu Felipe Melo e virou xodó no Palmeiras

Thiago Ferri Do UOL, no Rio de Janeiro Cesar Greco/SEP

Quando determinou que usaria mais a base nesta temporada, o Palmeiras já falava em nomes como Patrick de Paula, Gabriel Menino, Veron, Wesley... mas, não, Danilo. O meio-campista de apenas 19 anos tornou-se uma das gratas surpresas do Verdão e é o caçula" do time na final da Libertadores, amanhã (30), contra o Santos.

Captado pelo clube como meia nas divisões inferiores, o garoto foi recuando em campo e, quando promovido, tornou-se simplesmente o substituto de Felipe Melo, e não decepcionou: ganhou a admiração tanto de Vanderlei Luxemburgo como a de Abel Ferreira. Com estilo de jogo agressivo, sem medo de arriscar uma jogada mais complicada, o camisa 28 ganhou espaço de modo bastante rápido, já que havia estreado como profissional apenas em setembro.

Nascido em Salvador (BA), Danilo chegou ao Palmeiras para integrar o time sub-17, em 2018. O caminho, porém, não foi fácil. Dispensado pelo Bahia no sub-15, o garoto cogitou por mais de uma vez abandonar a carreira, inclusive depois de chegar ao Verdão.

"Se voltasse [para a Bahia], eu ia dar dois murros em você", foi o que Danilo ouviu de Adenílson de Jesus Freitas, conhecido como Dego, seu professor quando jogava no Deguinhos da Bola, uma escolinha de futebol na Bahia. Dego conhece o jogador desde os dez anos de idade, mantém contato até hoje e vê o palmeirense como um grande exemplo para o projeto.

"O Danilo queria voltar depois de ir para o Palmeiras, porque dizia que o treinador não estava o levando para os jogos. Eu falei: seja persistente. Hoje ele não levou, mas vai levar depois. Aí veio a primeira viagem para a Ásia, e o Danilo ligou para contar que foi relacionado. Eu falei para ele: 'você saiu daqui sem Bahia e Vitória te aproveitarem, foi para um time grandioso, que qualquer jogador gostaria de fazer parte e você pensando em voltar. Seja persistente, se precisar comer grama, você vai comer grama'. Só não vá pegar nada dos outros para crescer", acrescentou Dego, ao UOL Esporte.

Danilo persistiu. Jogou a Copinha de 2020 com o Palmeiras sub-20 e começou a participar de treinos com Luxemburgo. Teve a primeira oportunidade, agradou e se firmou. Com contrato renovado até 2025, o garoto deixou o bairro Fazenda Coutos III, em Salvador, e agora quer conquistar a América.

Cesar Greco/SEP
Acervo Pessoal
Danilo, quando criança, jogava na base do Bahia

Goleiro premiado, craque 'jurado'

Multicampeão no Deguinhos da Bola, o volante Danilo chegou a atuar até como goleiro — e, sim, foi bem nessa empreitada. Sempre um viciado em jogar bola, o garoto foi chamado para jogar improvisado em um torneio sub-14 e acabou se destacando. Mesmo que cogitasse a troca de posição, foi logo avisado por Dego que isto não aconteceria.

"Ele tinha 15 anos, e no campeonato sub-14 a gente poderia levar goleiro até um ano mais velho. Ele se ofereceu para ir, o Danilo é fominha [risos]. Na primeira defesa que fez, eu disse: 'não é que deu certo?' [risos]. Começamos a ganhar, ele pegou pênalti, levou só um gol e foi até considerado o melhor goleiro. Mas eu avisei na hora: 'rapaz, não fique pensando que vou querer você embaixo da trave. Seu futuro é na linha'". O destino comprovou isso.

As competições de bairro em Salvador tiveram momentos mais quentes também, em que o talento de Danilo por pouco não terminou em briga. "Nosso time era bom e decidi colocar em um campeonato de quadra [futsal]. Ninguém conhecia o Danilo, ele começou no banco em um jogo contra uma das melhores equipes. Estávamos perdendo por 2 a 0 e com ele viramos para 4 a 2. Queriam bater nele. Eu falei: 'time que bate não ganha', e tirei o Danilo [risos]", diverte-se o ex-professor.

Dificuldades até estourar

Enquanto jogava na escolinha em seu bairro, Danilo também estava nas categorias de base do Bahia. Só que ele foi dispensado aos 15 anos. A frustração foi tamanha que o garoto falou pela primeira vez em apenas estudar e desistir do futebol. Dego até tentou levá-lo ao Vitória, mas não obteve sucesso. Coube a ele convencer o jogador a tentar mais uma vez.

"Eu pedi para que ele olhasse o sofrimento dos pais, porque só ele poderia melhorar a vida dos pais. Tanto investimento, os pais pegaram dinheiro emprestado para tirar ele desta vida", lembrou. Além disso, pelo talento de Danilo, havia a expectativa de que ele pudesse se tornar profissional e servir de exemplo para os outros garotos que jogavam bola com ele.

"Não tem só você para sair daqui, mas você é a estrela. A gente disputa os campeonatos de bairro e somos sempre campeões. Ele me disse: 'Dego, vou estudar'. Eu falei que ele poderia compartilhar as duas coisas", lembrou.

A partir de um contato pelo Facebook, Dego levou Danilo para o Instituto Social Manassés, programa social que incentiva a prática do esporte e combate às drogas e tinha uma parceria com o Cajazeiras, equipe também da Bahia. Para dar incentivo, os amigos da escola de futebol faziam caravanas para assistir aos seus jogos.

"Quando tinha jogo, a gente fazia caravana dos meninos para o [estádio] Pituaçu [em Salvador], para Alagoinhas [cidade baiana], para dar incentivo a ele". Vice-campeão da Série B do Campeonato Baiano pelo Cajazeiras, Danilo então se transferiu para o Palmeiras, inicialmente por empréstimo.

Divulgação

Ele custou R$ 500 mil e vale R$ 660 milhões

O Palmeiras não demorou para renovar com Danilo: ele estreou como profissional no dia 6 de setembro, contra o Red Bull Bragantino, e quatro dias depois assinou o novo contrato, em definitivo, até 2025.

O clube comprou 60% de seus direitos econômicos por cerca de R$ 500 mil e renovou com multa de 100 milhões de euros (R$ 660 milhões), cláusula semelhante à do contrato de Patrick de Paula, por exemplo.

Os dois, ao lado de Gabriel Veron e Gabriel Menino — com multas de 60 milhões de euros (R$ 395 milhões) cada um — estão entre os garotos mais valorizados na base alviverde, que teve nesta temporada 13 jogadores lançados no profissional.

Cesar Greco

Felipe Melo? Danilo dá conta

Felipe Melo sempre disse que iria antecipar a recuperação da fratura que sofreu no tornozelo esquerdo e voltar a tempo de jogar a final da Libertadores. Ele de fato está pronto, mas Abel Ferreira não vê necessidade de acelerar seu retorno ao time titular. Muito por conta daquilo que Danilo tem feito.

"Quem está na posição, o Danilo, o Zé [Rafael], o [Raphael] Veiga, o Patrick [de Paula], o próprio Emerson [Santos], estão todos bem", disse Abel, após a goleada por 4 a 0 sobre o Corinthians.

Felipe entrou no segundo tempo contra o Ceará e foi titular contra o Vasco depois disso, mas a tendência ainda é de que Danilo seja mantido diante do bom desempenho.

Desde que o garoto estreou, o Palmeiras fez 42 jogos, e o camisa 28 esteve em 29, sendo titular em 14. Das últimas 19 partidas, ele só perdeu cinco — três vezes poupado, uma vez suspenso e outra em tratamento por um entorse no tornozelo.

Staff Images/CONMEBOL

Novo baiano

O Palmeiras campeão da Libertadores de 1999 tinha Junior Baiano, Oseás e Júnior, jogadores nascidos na Bahia e que lideraram o clima no vestiário do time de Luiz Felipe Scolari. Naquela campanha, a banda Chiclete com Banana tornou-se a trilha sonora, que ganhou o restante do grupo, incluindo Felipão.

Agora, Danilo é um dos garotos que comandam o som entre os atletas do Palmeiras. Nos jogos no Allianz Parque, ele está sempre acompanhado de outros da base, como Patrick, Veron e Menino, carregando uma caixa de som das mais potentes, com a música em um volume que é possível ouvir à distância.

A irreverência dos meninos foi uma parte importante no ambiente que levou o Palmeiras até a final da Copa Libertadores. Assim como os conterrâneos de Danilo fizeram, há 21 anos.

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Deguinhos Futebol Clube, escolinha em que Danilo jogou

Empresário ajuda escolinha

As condições da escolinha Deguinhos Futebol Clube ainda hoje são precárias, com poucas chuteiras e bolas. Recentemente, Thiago Sales, empresário de Danilo, deu dinheiro para ajudar a manter o local.

O palmeirense é por enquanto considerado o mais talentoso de todos que passaram pelo campo de terra na Fazenda Coutos III, mas o professor acredita que com mais ajuda conseguirá relevar outros nomes. Talvez até Jonas, irmão de Danilo, que tem 9 anos da idade e hoje pratica o esporte no local.

"O irmão vai jogar 10 mil vezes mais [risos]. O Jonas não queria 'conta' com a bola, mas hoje dorme pensando nela. É craque, coloco como centroavante", encerrou Dego.

Divulgação/Conmebol Divulgação/Conmebol

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