Por todo lado se diz que 2020 é o ano do incomum, das coisas fora do lugar, como se o universo estivesse alinhado e pronto para nos surpreender, nos desapontar —ou ambos. Pois este festival mundial do "por essa eu não esperava" está aprontando das suas também no futebol europeu, que por alguns ângulos —assim, com alguma boa vontade— chega a lembrar nosso bom e velho Brasileirão.
Por lá a pandemia do coronavírus encurtou a pré-temporada e sobrecarregou o calendário, o que direta ou indiretamente fez o número de lesões crescer. Coincidência ou não, as cinco principais ligas europeias somam resultados bem inesperados e classificações estranhas para quem acompanhou semanalmente a progressão dessas tabelas nas últimas décadas. O vírus mudou tudo. E o "novo normal" do futebol deles parece um pouco com o nosso.
Não é de agora que agenda cheia, muitos desfalques e resultados inesperados são três dos pilares de nosso Brasileirão. Para justificar alguns trabalhos de conteúdo duvidoso aplicado em campos nacionais, foram vários os técnicos apontando o dedo nessa direção. Por aqui nos acostumamos à pré-temporada curta, depois dez ou quinze desfalques em um único jogo e no meio disso tudo vários placares surpreendentes. Para os europeus, no entanto, tudo isso soa como novidade bem desagradável.
Por lá, profissionais como Pep Guardiola e Juergen Klopp estão abismados com um aumento de 42% da ocorrência de lesões musculares e as dificuldades de manter um elevado nível de desempenho mesmo para os elencos mais caros e prestigiados. Para constar: o Manchester City, de Guardiola, ocupa hoje a 11ª posição do Inglês. O técnico espanhol lamenta:
O problema é que os jogadores perdem a alegria de jogar futebol. Antes, era legal jogar uma ou duas vezes por semana, com torcedores. Agora é uma partida a cada três dias. Nós viajamos e jogamos."
Só a covid-19 seria novidade dos dois lados do Atlântico, mas também aí o Velho Continente vai aos poucos repetindo nossos passos. No Brasileirão o coronavírus é tão protagonista que a segunda onda da pandemia se formou primeiro no campeonato e só depois, agora, na sociedade; mas na Liga dos Campeões também já teve time viajando com 17 jogadores por causa de um surto.
Nesta confusão, os resultados das ligas europeias ficaram menos previsíveis —uma característica que sempre se exaltou no Brasileirão. A eneacampeã Juventus não é líder do Italiano; Barcelona e Real Madrid estão irreconhecíveis no Espanhol; e, se o Liverpool, de Klopp, parece estar sobrevivendo, também já tomou um 7 a 2 para alemão nenhum botar defeito. Bem-vindo ao futebol europeu, 2020.
Se continuarmos jogando na quarta e depois no sábado às 12:30, não tenho certeza se terminaremos a temporada com 11 jogadores."
Juergen Klopp, técnico do Liverpool