FUTEBOL À CANETA

Há quarenta anos, o jornalismo esportivo perdia
Nelson Rodrigues, dono da realeza de Pelé

Ana Flávia Oliveira e Talyta Vespa

Por falta de óculos, a alma

Com problemas de visão - e recusa ao uso de óculos -, o escritor se sentia obrigado a analisar jogadores "pela alma" Desse modo, Nelson trouxe à narrativa do jornalismo esportivo muito menos técnica e muito mais paixão.

"Nelson enxergava muito mal à distância, quase não identificava os jogadores lá embaixo, e se recusava a usar óculos. Assim, como não enxergava o corpo dos jogadores, era obrigado a lhes enxergar a alma" - Ruy Castro.

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Não há ponto sem nó na obra de Nelson. Ele cita Freud ao mesmo tempo em que cita "Os Irmãos Karamazov" - obra preferida do psicanalista. Na crônica "Freud no futebol", de 1956, o jornalista critica pontualmente quem vê e analisa o futebol pelo futebol.


Dizia Nelson que "teríamos sido campeões do mundo, naquele momento, se o escrete houvesse frequentado, previamente, por uns cinco anos, o seu psicanalista".

Nelson Rodrigues vivia o futebol brasileiro e o enaltecia como o melhor do mundo. E disse, em "O escrete é nosso", crônica publicada no Jornal dos Sports em 1958, que o brasileiro só concordou com o título quando ele foi dado pela mídia estrangeira.


Antes de a gringa reconhecer o óbvio, Nelson Rodrigues já o tinha feito. Muitas e muitas vezes - de maneira abrangente, quando a pauta era seleção brasileira, e individualmente. Em um reino de canários, Pelé é rei.

Reportagem - Ana Flávia Oliveira e Talyta Vespa

Narração - Ana Flávia Oliveira

Edição - Pedro Ivo Almeida

Design - Marcos de Lima

Motion design - Santhiago Botture